5.Hinata 🌪

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Já havia ouvido histórias em que os homens batiam em suas mulheres, e por muito tempo senti muito medo disso. Mas, meu pai era um bom homem, ele não faria isso com minha mãe. Suas brigas resumiam-se apenas em gritos e xingos. Eles ficavam com raiva um do outro e começavam a gritar feito loucos.

Quando isso acontecia, eu preferia ficar quietinha no meu canto ou ia até o quarto de Neji ver o que ele estava fazendo. Geralmente, ele colocava fones de ouvido e fingia que não tinha nada acontecendo, então passei a fazer o mesmo. Até que Hanabi nasceu e eu decidi que precisava defender ela da forma que eu não havia sido defendida.

Não estava nos meus direitos reclamar das coisas, então eu tentava ao máximo ser uma boa filha e não reclamar das coisas que me incomodavam. Afinal, de acordo com meus pais, minha vida era boa e fácil demais.

No entanto, é meio complicado não se abalar quando você escuta sua mãe dizer que a sua vida é um inferno e que ela não é feliz ao lado do marido. Quando ela diz que se casar com ele foi a pior decisão que já havia tomado na vida. Mas, estava tudo bem, aprendi a ouvir suas lamúrias diárias e não me abalar, até porque depois que seu ódio passava e ela terminava de dizer o quanto sua vida era péssima, ela sempre dizia que nós três - Neji, Hanabi e eu - éramos os amores da vida dela, a única coisa capaz de fazê-la feliz. E então, ficava tudo bem, não importa suas palavras anteriores, não importa se ela havia dito que éramos um peso na sua vida, não importa se ela nos fez pensar que tudo seria melhor se não existissimos.

E foi assim que eu aprendi a ser forte, ouvia aquelas palavras e não deixava que elas me abalassem, porque embora fossem verdadeiras, eram ditas com raiva, muita raiva.

Mas, hoje é diferente. Então, não me importo de estar chorando. As lágrimas descem desenfreadas por meu rosto e as limpo em seguida, balançando a cabeça para os lados, dissipando todas as idéias ruins.

Hoje é meu aniversário, e eu só queria que eles pudesse agir como uma família normal, unida em todos os aspectos e felizes com a presença um do outro. Mas, o nosso normal é um pouco diferente, e acho que eles nem perceberam quando começaram a discutir no meio do "parabéns". Hanabi começou a chorar assustada com os gritos e Neji apenas bufou, murmurando algo sobre eles serem impossíveis.

E eu... Bem, eu deveria estar me sentindo a rainha do universo. É meu aniversário, estou fazendo vinte e um anos, mamãe fez um bolo incrível, Neji comprou um kit de tintas pra mim e Hanabi me mimou o dia inteiro, prometendo que quando ela fosse mais velha e começasse a trabalhar me encheria de presentes. Mas, em vez disso, estou deitada na cama, me sentindo solitária e triste, as vezes limpo algumas lágrimas que descem e o processo vai se repetindo.

Hanabi está dormindo no quarto ao lado e Neji foi embora faz alguns minutos. Não sei o que meus pais estão fazendo e nem faço questão de saber, não quero ter que olhar pra eles agora, sabendo que nem um aniversário normal eu pude ter. Tenho certeza que no fim da noite um deles vai vir até meu quarto e pedir desculpas.

Mas, ta tudo bem.

Apenas respire fundo, Hinata.

Mais uma vez.

Mais uma vez.

Me levanto da cama, decidindo deixar toda essa angústia de lado.

Porra! É meu aniversário, eu não deveria estar me sentindo assim.

Deixei o presente que Neji me deu em cima da escrivaninha, o pego e abro.

Não é difícil brincar com as tintas e as cores, em certo ponto elas parecem fazer parte de mim e cada pincelada que dou no quadro é como se estivesse descarregando um pouco do mal estar. As cores vibram contra o branco do quadro, sem padrões ou formas específicas, apenas um borrão de cor, representando tudo e nada ao mesmo tempo.

IntenseWhere stories live. Discover now