capítulo vinte e quatro

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Havia uma sensação estranha pairando em minha alma, que impedia a leveza de se acertar as contas

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Havia uma sensação estranha pairando em minha alma, que impedia a leveza de se acertar as contas. Jacqueline acenou para mim uma última vez, com um sorriso jovial e esperando que pudéssemos nos ver uma outra vez em dez anos com nossas respectivas famílias. E eu deveria estar feliz com aquela situação, mas minha mente estava presa no aparelho em meu bolso.

Como uma miragem em meio ao deserto quente e seco, parecia que Susan Kiesler estava começando a desaparecer da minha vista. Nenhuma mensagem naquele dia, nem mesmo no dia seguinte. Uma semana se passou e apenas uma ou duas mensagens eram respondidas, mas tinham um tom vago, quase inútil.

Tentei me concentrar em minhas tarefas. Manter o foco no trabalho, aproveitar para fazer hora extra. Surgiram duas oportunidades de ensaios fotográficos, parecendo ter a intenção em me ajudar a ocupar a mente por algumas horas. Mesmo assim eu estava incapaz de manter o foco. Qualquer casal que entrava em meu caminho me fazia pensar em quanto eu gostaria de passar uma noite ao seu lado, sentados em frente a lareira e jogando banco imobiliário.

Na última semana de novembro, prometi que jantaria com o Senhor Jenkins e sua adorável esposa – que finalmente havia voltado da casa da irmã que estava doente. Cheguei um pouco mais cedo do trabalho, trazendo um cheesecake comprado no mercado para acompanhar a refeição daquela noite e corri para tomar um banho antes que o horário combinado fosse apontado no antigo relógio de corda do meu avô.

— Ele ainda cumpre os horários. — Disse o velho ao abrir a porta para mim naquela noite. — Rudolph ensinou algo decente para esse moleque. É uma surpresa.

— Ora, Robert. — Resmungou a mulher, uma travessa cheirosa na mesa. — Não seja tão duro com o pobre garoto.

Ranzinza como sempre, o velhote deu um passo para o lado para que eu entrasse e dei um sorriso para a mulher na sala em conceito aberto que tinha tamanho semelhante a casa em que eu vivia.

A decoração dos Jenkins era completamente diferente daquela em que eu havia crescido. Havia um papel de parede florido, repleto de pratos de porcelana e um sofá tão branco que o gato quase desaparecia nele. Eu nunca me lembrava o nome daquele animal, mas sabia que era quase idoso e costumava deixar presentinhos no jardim dos Foster, duas casas para frente.

— Como vai, senhora Jenkins? — Cumprimentei, entregando a cremosa torta doce em suas mãos.

— Pensei que traria sua namorada. — Disse ela.

— Nós terminamos faz meses...

— Ah, não. — Com uma risadinha, a mulher rechonchuda apertou minha bochecha. — Estou falando sobre sua nova namorada.

Meu rosto queimou com aquela atitude, fazendo com que me lembrasse o carinho que sempre tivera comigo. Quando meu avô havia sido internado, quase sempre era recebido por ela quando chegava em casa para trocar de roupas e me alimentar. Todos os dias aquela mulher se certificava que eu estava comendo, trazendo consigo sempre uma travessa diferente.

C'est la VieWhere stories live. Discover now