7 - Eu não queria correr riscos

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Jungkook ia me enlouquecer. Eu tinha plena certeza disso, sabia que depois daquele episódio vergonhoso na cafeteria, estava condenada. Não havia como correr. Sempre que fugia, ele surgia diante de mim. Nos dias que se seguiram, tentei de todas as formas me esquivar dele, mas parecia que a universidade havia se resumido a cinquenta metros quadrados. Para onde eu olhava, lá estava Jungkook. E naquela sexta-feira de manhã no refeitório da faculdade, não foi diferente. Sentia os olhos dele sobre mim. Mesmo que eu estivesse do outro lado do refeitório, sabia que ele estava me observando. Eu podia sentir o seu olhar me chamando, me fazendo ficar sedenta para retribuir. Mas eu não o faria. Não podia. Trairia a mim mesma se o fizesse.

Continuei olhando para o livro que estava em minha mão, encarando a folha amarelada com tensão ao tempo em que fingia ler. Na verdade, era só uma desculpa para não ter que olhar para Jungkook, uma desculpa esfarrapada para não ceder a vontade de retribuir o flerte.

O que estava acontecendo comigo? Eu não era daquele jeito, não estava me reconhecendo.

— Meu Deus, o jeito que o Jungkook te olha... — Anne disse, mas logo interrompeu sua frase para suspirar de um jeito dramático. — Eu nunca vi ele tão afim de alguém assim.

— Cale a boca, Anne. Estou tentando ler. — disse meio aérea.

— Sério, Barbara! — ela disse alto demais.

Me assustei com a voz aguda de Anne que soou tão histérica de repente, estourando aquela bolha de tensão que havia criado ao redor de mim.

— Você me assustou. — disse ao ainda manter os olhos no livro que estava fingindo ler.

— O que está rolando entre vocês? Meu Deus, ele mal pisca enquanto te olha. — Anne soltou uma risada incrédula.

— Não está rolando nada. De onde você tira essas ideias idiotas?

Finalmente olhei para ela, que estava olhando para o outro lado do refeitório. Tentei resistir em desviar para onde ela olhava, pois sabia que o seu alvo era Jungkook, mas parecia tentador e tão mais fácil resistir, que acabei cedendo.

Encontrei aquele par de olhos escuros sobre mim, ávidos e sem qualquer intenção em disfarçar que estava aquele tempo todo me observando. Quase estremeci de ansiedade quando ele não desviou o olhar do meu, mas mantive minha postura firme. Vi suas pálpebras desviarem sutilmente para baixo, encarando minha boca quando ao curvar os cantos dos lábios para baixo, mordi o lábio inferior, uma mania nervosa que quase nunca conseguia controlar. O vi reprimir um sorriso sacana que queria crescer em seu rosto, mas ele não deixou.

— A tensão sexual entre vocês é tão densa que dá pra cortar com uma faca. — Anne comentou.

Rapidamente desviei o olhar de Jungkook. Me senti completamente sem jeito. Não era do meu feitio ficar flertando abertamente, menos ainda na presença de outras pessoas. E não era como se eu estivesse flertando com Jungkook, de alguma forma eu só não conseguia evita-lo. Ele carregava em si alguma coisa que instigava em mim uma vontade quase que insana de corresponder aos seus olhares nada discretos. Era novo lidar com aquele magnetismo que ele exercia sobre mim, geralmente eu ignorava as pessoas, principalmente os homens. Mas era Jungkook, havia algo nele que me instigava, e aquele efeito que ele me causava, era só o começo. Eu ainda não tinha ciência de que tudo poderia se intensificar. Resistir era involuntário, fazia parte de mim relutar contra tudo, passei minha vida inteira me reprimindo e negando minhas vontades, resistir a Jungkook não era voluntário, na verdade, era tão natural que eu não tinha controle sobre aquilo.

Ao passar daquele episódio no refeitório da faculdade, tentei a todo custo abstrair de Jungkook. Ainda me lembrava de tudo, lembrava até mais do que era capaz de suportar. Ainda me lembrava de como ele havia dito que me achava linda, e me lembrava do jeito que ele beijou meu pescoço, de como me fez ansiar por mais; ainda me lembrava, mesmo que não quisesse, de como ele disse na cafeteria que queria um beijo meu.  Ele havia, de todas as formas, dado a entender que me queria, seu olhar a todo instante sobre mim não mentia. Eu sabia. Mas parecia mais correto afirmar para mim mesma que tudo não passava de um jogo, era só diversão para ele, tinha quase certeza disso. Mas para mim a sua brincadeira custaria caro. Já estava me custando, na verdade. Eu não era o tipo que mantinha muitos relacionamentos, e não estava acostumada a me interessar por alguém. Desejo era algo que passava muito longe de mim, mas eu estava como louca desejando Jungkook. E deseja-lo parecia tão errado. Ia de encontro a tudo que eu era e acreditava.

CatástrofeWhere stories live. Discover now