Capítulo 4 - Sinto Saudades

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30 de agosto de 1992

"Sinto saudades"


Nunca, em toda a sua vida, Harry gostaria de passar por uma sensação parecida com aquela novamente.

Pelo menos era o que ele repetia para si mesmo enquanto massageava o cotovelo e tentava não tossir dentro daquele minúsculo lugar apertado.

A vida na Toca era muito diferente do que ele estava acostumado. Nada era como nos Dursley. Tudo era caóticamente energético e barulhento, os momentos de refeição eram onde todos se juntavam para falar sobre como tinha sido o dia no trabalho ou o que fizeram de divertido naquela tarde.

Tudo muito animado. Tudo muito não-Harry.

Arthur Weasley adorou a presença de Harry na casa. Sempre que voltava do trabalho no ministério tentava fazê-lo falar sobre como era a vida dos trouxas e que aparelhos engenhosos estavam sendo inventados – Harry sempre fugia dele.

Harry não achava que combinava com os Weasley. Sempre se sentia desconfortável, como uma peça de quebra-cabeça que não encaixa, mas que foi obrigada a estar ali porque, por algum motivo, a pecinha certa nunca foi achada ou simplesmente se perdeu. Era desconfortável e vazio, na maioria do tempo.

Ele estava dormindo no quarto de Ron – apesar que agradeceria dormir na sala, porque seu amigo grifando tinha o dom de roncar muito alto – e ele ficava quatro andares acima do quarto que os gêmeos e Faw dividiam. Era difícil fugir de barulhos altos, mesmo Faw evitando ao máximo brincadeiras barulhentas perto de Harry.

Callum desistiu de tentar descobrir o que tinha acontecido com Harry nas férias depois de ser negado tantas vezes, mas sempre se oferecia para uma conversa no meio da madrugada quando descia para beber água e encontrava Harry lendo um livro na sala – na maioria das vezes ele só estava matando o tempo enquanto esperava uma carta de Remus.

Harry não queria conversar. O sentimento de não pertencer aquele lugar sempre o deixava para baixo e ele queria ignorar a sensação estranha que estava tendo em relação a comida. Antes, ele provavelmente devoraria todos os pratos deliciosos que senhora Molly fez e aproveitaria a rara oportunidade de ter bastante comida à sua disposição, mas só de chegar perto de qualquer alimento o faz querer vomitar e o sentimento de culpa o faz ficar tonto.

Ele não entendia. Darius muito menos – ele ama comer. E Harry se sentia muito estranho em falar com alguém sobre aquilo. Precisava entender minimamente o que estava acontecendo antes de falar com Faw ou com Ginny – ela se tornou uma boa parceira de conversas.

Ficar o dia inteiro no quarto de Rony estava fora de questão. Não era agradável, nem de longe. As cores fortes o incomodavam e, graças a sua audição extremamente apurada, conseguia ouvir muito bem os uivos insuportáveis que o vampiro que ficava no andar de cima fazia. Ficar perto dos gêmeos estava completamente fora de questão por motivos óbvios.

Percy era legal, apesar de não sair muito do quarto.

Ginny sempre foi a opção mais interessante. Ela era extrovertida e falava muito sobre diversas coisas, mas sempre soube respeitar os limites dele e entender a sua total falta de paciência com coisas triviais. Ela tinha uma lista de coisas que queria fazer em Hogwarts e tinha planos muito bem formados sobre a profissão que queria seguir – Jogadora de quadribol – porque, graças aos irmãos, ela sempre teve muito contato com o jogo e faria qualquer coisa para jogar no Holyhead Harpies.

Harry tinha quase certeza que ela iria para a Sonserina, por algum motivo.

Darius sempre disse que "cobras reconhecem cobras" e talvez fizesse sentido. Sonserinos reconhecem sonserinos.

Blood Moons - Segundo LivroOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz