O Coração da Serpente [CAMREN]

capítulo 2: demonologia

Infundado seria resumir sua história e sua fama baseada em luxúria e promiscuidade. Pois, apesar das lendas corrompidas pelo tempo e pela língua traiçoeira dos homens, ela é a representação da rebeldia contra as injustiças e a repressão, diga-se pelos sábios que a cultuam na terra.

Poderiam dizer muitas coisas sobre ela, inclusive que era fria e extremamente calculista, mas não poderiam derramar mentiras sobre Lauren, a rainha das trevas, ser cruel, pois não havia em todo submundo criatura que mais tentava agir com  clemência quanto ela. Apesar disso, precisava dosar seu lado bondoso o quanto podia, pois sabia onde estava e para onde iria.

Há as línguas que ousam dizer que sua habilidade mais prestigiosa é o veneno, pois na pele de uma serpente um dia serviu como pecado e envenenou uma alma ingênua com o gosto doce de seu erotismo, visto como a fruta mais doce da árvore mais bela do Éden. Essa é a alegoria mais engraçado para a Dama Negra, que escancara seu escárnio em vista da passagem bíblica que sua heresia formou.

Agora, sentada entre as cadeiras do sétimo reino, ela permanece ocupada com todos os papéis que ornam sob seu plano. Seus cabelos negros estavam presos sob a coroa de prata, que refletia todo o seu poder. Os olhos tão verdes quanto a esmeralda presa em seu pescoço contrastava com suas vestes negras, dignas do título que conjurou sob o sétimo trono. Ao seu lado, Kesabel demonstrava com sua carranca a insatisfação com a ideia tida por sua majestade, tendo em vista o quão inseguro se parecia.

Presa abaixo da Terra, Lauren vinha planejando sua ascenção a mais de um milênio, e agora que parecia tão perto de conseguir rasgar o véu entre o inferno e a terra, sua ansiedade parecia infectar todos os membros de sua Corte.

— Não acho que seja inteligente pensar que conseguirá enganar tão facilmente Leviatã, minha Dama. — Os longos cílios de Kesabel piscaram de acordo com que falava, fazendo a Dama Negra perceber o quanto isso a incomodava, mesmo que parecesse incapaz de quebrar a troca de olhares.

Ela adorava dialogar com os outros encarando-os de perto, pois assim poderia enxergar em suas íris a verdade que poderiam então tentar esconder. Para a mesma, os olhos eram a parte mais verdadeira de todos os seres do universo, pois refletiam tudo o que suas bocas não poderiam contar.

Os de Kesabel, em questão, alegavam o medo de que sua rainha se ferisse. Lauren não tinha dúvidas de que por mais sanguinária a demônia se parecesse, sua lealdade e benevolência pela soberana era verdadeira.

— Você me insulta, cara Kes, ao me subestimar de tal forma. Isto está sendo planejado desde de que o mundo é mundo. Estou tão certa de nosso triunfo, do que da derrota de Leviatã, que insiste em não me deixar andar por suas águas até o solo firme dos homens. — A rainha silabou, fazendo a mais velha suspirar.