Me desculpa, mesmo

Eu queria tanto te ver e falar com você e te tocar que

Não sei

Eu desabei um pouco

Mas me deixa consertar as coisas

Por favor

Você ouviu as botas dele na madeira da varanda, ansiosamente, de um lado para o outro. Podia jurar que também havia ouvido o suspiro cansado. E seu âmago afetado e ferido gritava que sentira o cheiro das mentiras que sairia da boca dele assim que vocês se vissem. Ou, pior: da verdade que você não queria ouvir.

Por isso você não abriu a porta naquela noite, por isso você ficou ali, chorando em silêncio, até ouvi-lo ir embora. Por isso você fugiu dele até que chegasse a sua vez de ir embora, decidida que, depois da madrugada no sofá de Juliet, chorando no colo da mulher que - como se sentisse em seu sono o desespero te tomando por todos os cantos da sala - apareceu poucos minutos depois com o som dos chinelos de pano pelo corredor, que nunca mais se sujeitaria a isso. Às dores que ele insistia em te causar.

E por isso ignorou, por dias, as mensagens insistentes que faziam eco nas suas noites mais vazias a partir daquela madrugada.

Vamos conversar, por favor

Eu sei que agi errado, mas me diz o que está acontecendo

Eu te amo tanto

Por favor

[...]

Você antecipou sua ida para a França, afinal depois de rever seus amigos concluiu que não tinha mais nada para fazer ali. Depois da decepção com Robert se tornou um peso continuar naquela cidade por mais muito tempo, então logo você fazia suas malas mais uma vez e comprava as passagens de trem.

Se se sentiu culpada por ter o ignorado tanto? Talvez. Mas sempre que pensava nisso era acometida por um pensamento maior: de que quem deveria se sentir culpado por alguma coisa ali, era ele. Então mesmo indo embora sem nem dar a ele o benefício da dúvida, sem ao menos uma chance de confissão, você nunca sentiu culpa. Porque estava com o coração tão partido que não sobrou espaço para mais nada. Mas, para não dizer que foi tão cruel, você cogitou que se vocês por um acaso se encontrassem antes da sua partida, se ele fosse atrás de você, você o ouviria. Não diria nada e o ouviria e, depois, de acordo com a sua reação e os seus sentimentos, o responderia ou daria as costas e iria embora.

Mas nunca existiu nada para ouvir porque, naquela manhã na estação de trem, quando Juliet, Lana e os seus amigos te acompanharam para se despedir, ele estava ali também. De longe, parecendo tão abatido que você quase sentiu pena, te observando com expectativa. Como se você fosse falar com ele. Mas você não foi e ele também não. Mal se despediram. Quando Robert abriu a boca para dizer algo, a metros, quilômetros, oceanos de distância, seu trem já estava ali e você já havia esperado demais. Havia esperado uma vida. Por isso virou as costas e foi embora.

Chegou na França pior do que deixou a Inglaterra. Naquela época Lauren ainda não morava em Paris, e sim no interior junto com o pai. Já era quase noite e ela te esperava na estação, dentro de um sobretudo que acomodou as duas quando a garota te abraçou e te manteve grudada a ela de forma protetora até chegarem na casa de esquina de tintura branca e janelas grandes. O Sr. Lewis estava vibrando com uma partida de futebol do PSG e só desviou a atenção para te cumprimentar e dizer que por serviria o jantar.

- Até parece que nessa casa tem jantar - A filha retrucou, já subindo as escadas.

- Pão e queijo é o que pra você??

✧ e se você voltasse ✧Where stories live. Discover now