Capítulo 26 - Eu não acho que você deva casar com ele...

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[Narrado por Ben]

OBSERVO, ENQUANTO ANDO DE UM lado para o outro, pensando em como sair desse buraco e procurar Eric, o fogo da tocha que ilumina o corredor da masmorra aumentando e diminuindo sua intensidade à medida que Rik, o guarda que me vigia, com quem já tenho até certa relação, passa a mão sobre a chama avermelhada. O guarda ri enquanto me observa desinquieto deste lado da grade. Tento, enquanto isso, recordar, relembrar se minha avó já disse alguma coisa que pudesse me ajudar com a coisa de bloqueador que existe em mim, mas sei que isso só surgiu recentemente e não tive tanto tempo assim para falar com ela sobre essas coisas.

— Eu não consigo assimilar no que você se tornou, Sr. Díaz! — Rik, vestindo a farda vermelho brilhante, diz, desconcentrando-se da chama que volta ao seu aspecto normal. — Me disseram, de verdade, quando começamos o processo de tomada das Terras Altas, que você era um cara temível, mas desde nosso primeiro encontro, tenho visto o contrário.

Me lembro daquela noite; me lembro do fogo inundando aquela salinha no Palácio Vermelho e de como o fogo se extinguiu do extremo nada. Naquela noite, eu não pensei em nada além de sair dali. Talvez esse seja o ponto, afinal. Simplesmente não pensar.

— Agora você parece uma criança chorona que perdeu seu brinquedinho.

Ouço a voz do guarda, um homem grande e loiro, como a maioria das pessoas que conheço de Victoria. Continuo pensando naquele dia, sorrio e paro de andar; olho diretamente para o guarda.

— Desculpe por te desapontar — digo. Ainda me lembrando daquela noite, percebo que nunca gostei de conversar com estranhos, mas sempre soube o quanto falar me ajudava: é impressionante o quanto as pessoas se perdem e se vulnerabilizam quando estão falando, principalmente quando estão falando de si.

— Tudo bem, sempre achei que você sempre teve muito mais fama que habilidade.

Me aproximo da grade, na esperança de que o que estou pensando se proceda. Na esperança de que eu consiga fazer o que preciso fazer, por mim e, mais que tudo, por Eric.

— Não foi o que aconteceu naquele dia na Vila Vermelha. Como vai a barriga?

— Talvez melhor que a sua.

— E como é criar toda uma esperança de vingança, sabendo que no fim das contas nada disso vai se realizar?

Rik não responde. Fica em silêncio por um tempo e depois sorri, dando um passo para a frente.

— Sabe, você é engraçado.

— Obrigado!

— Nós temos planejado isso desde muito tempo, mas a oportunidade só apareceu meses atrás quando descobrimos sobre o probleminha do príncipe Eric. Aurora vai nos pagar absolutamente tudo o que ela nos tirou: nosso rei...

— Acho que isso não é uma particularidade só sua...

O guarda continua, como se eu não o tivesse interrompido.

— Nos tiraram nosso exército, nosso porto.

Tenho certeza que o porto do Norte nunca fora de Victoria, mas resolvo ficar calado, assim o guarda fica mais confiante.

— E nosso troféu será a cabeça da rainha e do seu principezinho expostas no saguão do palácio de Victoria. — Rik diz. Sinto um arrepio estranho, de medo. — O quê? Ah, você tem uma coisa com o príncipe. — Ele dá mais um passo na direção da grade que o separa de mim. — Ele é o seu brinquedinho. — O guarda sorri. — Talvez a gente deixe a morte dele para depois...

— Pare! — Meu peito aperta de um jeito diferente. Espero que isso seja um sinal de que esteja funcionando.

— O quê? — O homem ri, e se aproxima mais. — Ah, não, eu me enganei. Você é o brinquedinho dele. — Meu corpo treme. — O quê? Eu ainda me recuso a acreditar que o temido Benjamim Díaz acredite que o herdeiro goste de um cara como você. — Toco na grade da cela, ficando muito próximo do guarda flamejante.

A Canção do Rei [Concluída]Where stories live. Discover now