27 - The right choice.

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Meu coração parecia bater em meus ouvidos; de maneira incontrolável. Tentei manter meus pensamentos concentrados em um fator determinante, mas sinto que mal consigo ficar de pé. Meus sentidos embaralham e eu me obrigo a respirar fundo. Quando suas mãos descem pelo meu corpo, eu as seguro, afastando-as.

— O que você está fazendo?

Tenho que perguntar, embora, fodidamente, eu saiba o motivo.

— Porque é isso que você quer.

A resposta me machuca, e eu quero gritar.

Eu me afasto dele, rodeando seu eixo. O que eu quero, não o que ele quer.

— Justin, você não precisa transar comigo se não quiser — me sinto uma idiota dizendo isso. Uma maldita... ah...

Respiro fundo, uma, duas, três vezes. Quando não dá certo, eu o fito.

— Preciso ir embora. Eu te v-vejo depois.

Talvez.

Eu saio correndo do seu apartamento, o mais rápido que minhas pernas e as portas automáticas permitem. Me sinto sufocada. As paredes parecem se comprimir ao meu redor e eu deslizo pelo elevador vazio. Lágrimas salpicam minha visão e eu rosno frustrada.

Droga.

Quando encontro o meu pai em frente à minha casa, sinto a ansiedade me envolvendo com um manto. Mas afinal, o que ele pode fazer? Me colocar de castigo? Dou uma risada, meu pai estreita os olhos, curioso.

— Me acompanha? — Ele indica a rua, embora não seja de fato um pedido, e sim uma ordem. Minhas mãos tremem.

Eu olhei calmamente para o carro, fitando a frente despedaçada; parecia estar faltando o motor, mas em definitivo, estava faltando a roda da frente. Eu girei por sua extensão, contemplando a cor vermelho-vinho, as rodas velhas e gastas em suas laterais. No seu capô traseiro, estava escrito sobre a sujeira "Me ajude", eu mordi a boca, sentindo o cheiro de óleo, sucata velha e areia sobre o ar, à medida que olhava para o céu de modo a evitar as lágrimas, porque eu queria chorar. Muito. Em posição fetal. Eu só não cedi ao meu instinto primitivo e me joguei ali mesmo porque isso não é normalmente aceito pela sociedade. Ao invés disso, suspirei, continuando a encarar o carro que antigamente era um Fusca, agora eu não sei o que isso é.

— Então, o que achou? — Meu pai abriu um sorriso de orelha a orelha, radiante como sempre, afinal, não tem nada que o anime mais do que me dar uma lição de moral, mas sinceramente isso aqui está sendo uma tortura.

Em minha resposta, dou de ombros.

— É uma sucata — eu disse, dando um levíssimo chute em uma roda, o que a fez saltar e voar em minha direção. Dei um passo para trás, injuriada. O Fusca está tentando contra minha vida.

— Isso é um Fusca conversível, ano 1973, Ash.

Eu olhei seriamente para o meu pai, contemplando as calças engraçadas boca de sino bege, e camiseta larga com estampas psicodélicas, e os seus pés com sandálias com tiras coloridas, ele até tinha um pedaço de pano em volta da cabeça e uma bolsa estilo carteiro. Aposto que era da mamãe.

— E aposto que foi um carro muito legal, em 1973, quando você nem era nascido, mas agora é sucata! — Meu pai estreitou os olhos verdes em minha direção, em silêncio. Odeio esse olhar minucioso, odeio que eu esteja nessa posição por intermédio de outra pessoa. Odeio fato dele ter me feito caminhar cinco quilômetros no sol de rachar da Califórnia para ajudar o meio ambiente.

— É uma sucata legal — ele insiste, e eu rolo os olhos.

— Por favor, pai — eu imploro, avidamente. Minha garganta fecha com a ameaça do choro. — Será que pode me punir como qualquer pai normal?

O Livro da ConquistaWhere stories live. Discover now