24. - Healing.

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Justin Bieber

5 DE AGOSTO DE 2005

LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

— Você sabia que os ratos sentem cócegas? — Ash cortou o silêncio entre nós com uma curiosidade peculiar.

Eu pisquei, sem entender.

— O quê?

— Eu disse — ela falou, franzindo o cenho. — Que ratos sentem cócegas.

— Que mentira — eu repliquei, carrancudo. — Quem te contou isso?

— O Tio Jan— respondeu, pulando em uma poça de água, e guinchando em mim. Ela estava de sandálias hoje, os dedos dos pés aparentes, visíveis e pintados com as cores de um arco-íris. A chuva continuava a cair. Observei os pingos caírem sobre o guarda-chuva que eu lhe dei.

— Isso não me parece verdade.

— Bom — ela pulou em mais uma poça, e eu me encolhi. — Se é verdade eu não sei, mas eu peguei um rato ontem à noite e tentei fazer cócegas nele, mas ele só guinchou e me mordeu.

Ela balançou a mão enfaixada e eu fiz uma careta.

— Por que você tentou pegar o rato? Eles são cheios de doenças.

— Eu queria um bichinho de estimação, mas meus pais não me deixam ter, não temos espaço — ela suspirou, pulando em outra poça. — Além disso, o tio Jan disse que os ratos são mais limpos que nós.

— Pois ele é um mentiroso.

— Papai disse a mesma coisa. Ele ficou tão triste com a mordida que até chorou, mesmo eu tendo dito que não tenha doído.

Eu faço um bico. Estranho. Eu me levantei do banco e fitei o relógio em meu pulso. Já são 16h44, estamos aqui há mais de uma hora. Eu suspirei. Meu pai não virá me buscar ele, viajou e Chelsea vai ficar até tarde no cabeleireiro, porém meu pai já me ensinou a chegar em casa, eu só preciso pegar um ônibus.

— Ash, acredito que sua mãe não vem. Podemos ir embora? — Ela concordou rapidamente. Disse que sua mãe está trabalhando como garçonete a tarde e estudando de manhã, e, que, às vezes não têm tempo para vir buscá-la, por isso ela tem que ir embora sozinha. Mas eu não confio muito nela, ela nem sabe ler, como consegue achar seu acampamento?

Nós andamos pela rua, grudados no outro devido ao guarda-chuva, suas sandálias faziam quack, quack, quack e ela escorregava a cada passo, e eu me perguntava porque ela não usava galochas, ou porque não tinha um guarda-chuva, ou porque suas roupas sempre pareciam vir do túnel do tempo e sempre três vezes maiores que ela

— Meu tênis rasgou — respondeu quando lhe questionei.

— Ora, então peça que seus pais comprem novos — ela fez um bico.

— Não temos dinheiro para isso.

Eu a fitei por um momento, curioso.

— É por isso que vocês moram em um trailer? — Eu nunca havia visto, mas as outras crianças zombavam dela, dizendo que a mesma morava em lata-velha e que seus pais ficavam adorando o sol e a lua como doidos.

— Acredito que sim — ela diz, batendo o pé contra outra poça. Não entendia porque ela fazia isso, a água guinchava e molhava mais ainda seu vestido, não que ela já não estivesse ensopada quando a encontrei brincando na chuva no pátio da escola.

O Livro da ConquistaWhere stories live. Discover now