21 de novembro, Los Angeles, Califórnia.

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Harry,

Tenho algo importante pra te contar nessa carta. Já é a terceira vez que começo a escrevê-la e nunca sei como chegar ao assunto principal. Tentei ir direito ao tópico mas achei meio rígido demais e fiquei imaginando sua reação lendo aquela revelação (me sinto estranho usando essa palavra) sem nenhum aviso prévio ou preparação. Não me pareceu adequado. Vou usar uma nova abordagem.

Durante esse mês, algumas coisas marcantes aconteceram e eu senti a necessidade de sentar e escrever sobre cada uma delas, mas parte de mim me dizia que ainda não era hora, que ainda haveria mais algum evento marcante que eu precisaria compartilhar com você e, mais uma vez, minha intuição estava certa. Pra não me esquecer de tudo e chegar aqui e dizer que eu tinha coisas pra te contar mas não contar nada de fato, fui anotando tudo naquele caderninho de contos que você manchou com os seus dedos e com os sentimentos que você provocou em mim. Não escrevo mais minhas histórias nele, comprei um outro com capa de couro para os meus trabalhos novos. Então aqui vai um compilado de anotações que, pensando bem, culminam no fato principal e motivador desta carta.

No dia três de novembro, saí com os meus amigos e fiquei muito bêbado por motivo nenhum. Eu detestei a sensação da ressaca, mas é legal saber que agora eu posso fazer isso de beber sempre que eu quiser e não existem pais por perto pra me impedir ou dar uma bronca de manhã (sempre num tom de voz mais alto do que eu posso suportar). Como nenhum de nós tem mais de 21, tivemos que pedir pra um primo do Oli comprar pra gente, mas te garanto que o Tom conseguiria se passar por um maior de idade se tivesse uma identidade falsa. Ele tem um quê de idade e experiência, acho que é o efeito de todos os livros russos que ele já leu. Enfim, o primo dele comprou a bebida, de péssima qualidade, diga-se de passagem, e a gente se sentou no meio-fio do lado de fora do supermercado e começou a beber. Jovem tem dessas coisas, achar que esse tipo de experiência é linda e necessária.

Em algum ponto da noite, acho que já era mais perto da manhã, na verdade, Tom disse que a gente devia ir andando até a praia pra ver o Sol nascer e nós fomos. De novo, o ar de liderança dele tomou conta. Ou a bebida, tanto faz. O relevante é que, na hora, me pareceu uma boa ideia ir para a praia, me pareceu uma decisão que eu também tomaria se estivesse sóbrio.

Eu me sentei com os pés na areia (e acho importante mencionar que desde o incidente com o mar e a sua lembrança algumas semanas antes eu não ia mais à praia) e coloquei o saco de papel com a garrafa entre as pernas. Por um tempo fiquei só olhando para baixo, e, em algum ponto, parei de escutar as vozes dos meus amigos e tudo o que sobrou foram as ondas. O barulho característico que elas fazem quando quebram na areia, bem longe de onde meus pés estavam, foi se transformando, aos poucos, no som da sua voz. Os reflexos que o Sol faz na água, aqueles que quase nos cegam se a gente não desvia o olhar, se transformaram na sua figura. O vidro verde da garrafa que me embebedava lembrava os seus olhos. De repente, Harry, eu tinha te invocado. Foi como se você estivesse parado bem ali na minha frente, de mãos estendidas, me chamando pra dançar. Dizendo "Vamos Louis, ninguém vai se importar se a gente for feliz aqui e agora.". E foi tão fácil imaginar que você realmente estava ali comigo, como se eu estivesse matando tempo com o seu fantasma, só esperando o Harry real aparecer.

Mas você não apareceu e meus amigos sentiram a minha falta, então eu fui forçado a voltar para o mundo real. Acontece, Harry, que a sua memória não esvaece rápido como a sua presença e, enquanto Oli e Alex escolhiam uma música para coroar aquele momento que não tinha nada a ver com você (pelo menos para eles), eu ainda pensava na distância entre nós. Física e metafórica. Pensava em como sinto saudade de casa. E dos seus carinhos. E de escutar a risada da Lolla sem a interferência irritante do telefone. Pensava "Céus, se o Harry estivesse aqui, eu o beijaria agora" ao mesmo tempo que formulava "Me dê um Sinal. Um só e eu volto".

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 12, 2022 ⏰

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