20 de setembro, Los Angeles, Califórnia.

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Querido Harry,

Hoje completo o meu primeiro mês na faculdade de Inglês na UCLA. Adoro dizer isso, que sou estudante da faculdade. Queria gostar mais da faculdade em si, entretanto. Não sei explicar, mas as coisas aqui não são exatamente como eu esperava que fossem. Claro que eu sempre soube que não seria como nos filmes, mas parte de mim esperava que o ambiente novo me trouxesse uma mudança de personalidade também, mas a maior parte de mim continua igual. Enfim, quem sabe no próximo mês.

Imagino que a minha dúvida da última carta (se é que você a leu) já foi respondida: eu vou escrever de novo. Estou escrevendo. Você sabe que é assim que eu processo as coisas, desde os fatos mais triviais, como um café frio vendido por engano, até as verdades brutas que viram minha alma do avesso. E a verdade é que eu te amei pra caralho, Harry. Agora só te amo. Espero um dia me livrar desse sentimento ou aprender a conviver com ele sem você.

Fiquei um pouco confuso sobre como continuar escrevendo a partir daqui, as introduções são sempre mais fáceis pra mim mas o desenvolvimento é denso demais e minha mão nem sempre consegue acompanhar o fluxo de consciência do meu cérebro. Queria te contar sobre o meu primeiro mês num geral e também sobre um acontecimento específico que me motivou a escrever tudo isso. Acho que vou em ordem cronológica, é o mais natural a se fazer.

Quando eu desembarquei aqui em Los Angeles, coisa que, por algum motivo, achei uma boa ideia fazer sozinho, recebi a notícia que as duas malas que trouxe por último, as que eu fiz antes de escrever a primeira carta, tinham sido extraviadas. Tive vontade de me sentar no chão do aeroporto e chorar. Ali mesmo, na frente de todo mundo e do atendente (muito paciente) que me deu a notícia, porque parecia um Sinal do Universo já me dizendo que Los Angeles não era meu lugar.

Acho que grande parte de se sentir bem-vindo está na sensação de achar que você estava sendo esperado. Sei lá, gosto de pensar que você sempre se sentiu bem-vindo lá em casa todas as vezes que apareceu com cara de choro e me pediu pra não perguntar nada sobre porque eu sempre estava te esperando, sempre pedia pra Lolla botar aquelas mini tortinhas de maçã pra assar e tirava o vinil da Aretha Franklin do armário da minha mãe. Uma pausa pra uma vez em específico: a primeira.

- Louis? - Foi um dia depois do que você disse que me amava. Você me ligou perto das nove da noite e foi a primeira vez que eu soube que você chorava também. Engraçado isso, não? Na minha cabeça você sempre foi imbatível até aquele momento. Na verdade, você era invencível sempre, exceto nesses momentos. Eu ainda não sabia o motivo e sinto muito se não fui de tão grande ajuda quanto poderia, sinto mesmo, mas eu fiz o meu melhor sempre. - Posso ir pra sua casa?

- Pode, claro. - Eu estava fazendo dever de álgebra e pensei "Claro que minha mãe vai deixar o Harry ficar aqui, o Universo quer que ele esteja comigo agora porque ele me ligou exatamente durante o dever do Sr. Montero".

Quando você chegou, minha irmã abriu a porta pra você e ela reparou sua cara de choro, seu nariz vermelho e inchado, mas ela é muito inteligente pras coisas assim, da vida, e só disse pra você subir pro meu quarto e que ela levaria um lanche depois.

- Oi. - Você disse da porta e eu tive vontade de te pedir pra sair. Me pegou de surpresa, mas eu percebi que não queria te ver se fosse triste daquele jeito. Quase disse pra você sair do meu quarto, respirar, achar uma forma de afastar a tristeza e só depois voltar, mas eu não falei isso. Eu não sou um idiota.

- O que foi? Aconteceu alguma coisa?- Foi o que eu perguntei porque, obviamente, tinha acontecido alguma coisa.

- Não quero falar disso. - Você passou as costas da mão no nariz, fungando. Pareceu uma criança, mas era isso que a gente era, talvez. Criança. Ninguém é adulto com dezessete anos. - Tudo bem? - Eu fiz que sim com a cabeça. Bati no lugar ao lado do meu na cama e você deitou. Me encarou bem de frente e disse. - Eu realmente te amo, Louis. Você sabe, não sabe?

we ended. and this is why. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora