— Não deveria ligar para eles, Primrose - ele disse, não me encarando. E quando não respondi, ele passou alguns segundos pensando para continuar — E eu não acho que ela odeia você. Ela odeia o que seu pai fez

Meu olhar foi até ele, ficando confuso. Tinha sido Feyre Archeron que tinha destruído a minha Corte, e era a Corte Noturna que detestava a Corte Primaveril. Porque eles eram cruéis. Eles são cruéis. Agora, eu parecia querer dizer aquilo para mim mesma, em minha própria mente.

— Como? - perguntei baixo, mais para mim mesma — Foi a Corte Noturna quem destruiu minha casa

Alev ficou em silêncio ao meu lado, e só disse algo quando virei meu rosto para ele, como se esperasse uma resposta. Ele engoliu em seco, um pouco inexpressivo.

— Quem te contou essa história? - suas sobrancelhas estavam levemente franzidas

— Eu… - olhei para baixo, pensando o quão pouco já haviam me dito sobre aquilo, mas de qualquer forma, acreditava que aquele pouco era o suficiente

— Toda a história tem dois lados - seu olhar tombou um pouco para o chão — Não acredite na primeira coisa que escutar - seu tom era baixo e cuidadoso — Eu e minha família entendemos bem disso, vivemos isso.

— Você mesmo disse que eles nunca foram muito gentis com você - eu o lembrei

— Disse que eles vivem envoltos na própria bolha. Com sua própria verdade. E ainda acredito nisso - ele voltou a olhar para mim — Mas, nunca disse que eles não tem um lado sensível, ou verdadeiro

Fechei meu rosto assim como meus lábios.

Tinha sido muito fácil para mim pegar as palavras de Alev e apenas usá-las para confirmar tudo o que eu já havia escutado sobre a Corte Noturna. Talvez porque quisesse dizer aquilo para mim. Porque aquilo era fácil eu acreditar naquilo.

Mas por aquele breve momento em que eu me acalmei e pensei nas palavras do macho em minha frente. Me lembrei de Nyx, se sentando no jardim com Aurora, e a pedindo para que fizesse a ele uma coroa de flores. Porque sabia que a deixaria feliz. Lembrei de como Rhysand e Feyre Archeron tinham me tratado com educação. Uma educação que nem eu mesma, sabia se conseguiria usar com alguém que eu supostamente deveria odiar.

Eles são cruéis.

Lyra não teve nenhuma empatia ao dizer tudo aquilo para mim. Ela não se importou. Falou sobre mim, sobre quem eu era, e sobre minha família sem nenhum remorso.

Mas ao mesmo tempo, tinha visto a Encantadora de Sombras me lançar um olhar gentil. Até mesmo de pena. Era um olhar sincero.

Abri minha boca para perguntar o que ele queria dizer com aquilo. A história começava a martelar em minha cabeça, já que nada do que eu havia escutado durante muito tempo estava fazendo sentido.

Eles são cruéis.

Ouvi passos duros e fortes atrás de mim, como os de alguém que caminhava com muita raiva. Me virei rapidamente,  e vi meu pai. Seu rosto sério, franzido. E seus olhos verdes carregados de fúria. Suas mãos fechadas em um punho.

— Vamos embora, Primrose - foi o que ele disse, parecia controlar sua raiva contida nas palavras. Ele sequer se preocupou  em cumprimentar Alev — Agora - sua voz era tão firme que eu quase não disse nada

— Mas… Eu… - tentei argumentar, não entendendo o que estava acontecendo, enquanto apertava minhas mãos

— Vamos embora - ele me repreendeu, entre dentes, antes que eu conseguisse terminar

Engoli em seco, receosa demais naquele momento para retrucá-lo. Fazia tempo que eu não o via com tanta raiva, principalmente em minha frente. Ele sempre conseguia se controlar melhor quando eu estava em sua frente, então o ver falando daquela forma, sem conseguir se conter, me deixou retraída.

Corte de Labirintos de Rosas e Estrelas Where stories live. Discover now