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SINA DEINERT.

Sinto como se vivesse em um pesadelo desde o momento em que caí daquela escada.

Não poder ver minha filha e tocá-la tem sido horrível, mas pior que isso é a sensação de estar deixando-a desprotegida. Talvez eu esteja sendo paranoica, mas morro de medo de que Eric entre aqui e faça algum mal a ela.

Devido ao seu trabalho e ao fácil acesso, não seria nada impossível.

Além de tudo isso, os cuidados de Noah, comigo e com minha filha, destroem-me completamente, porque não sei evitar amá-lo. Não mais. Por mais que ele esteja apenas cumprindo seu papel, não consigo mais separar o que é real do que é ficção.

Agora mesmo acabo de acordar e me deparo com ele dormindo sentado ao meu lado. Não posso deixar de observar suas feições relaxadas enquanto dorme. Como senti falta disso nos últimos dias… Vejo que na mesa ao seu lado foi colocada uma bandeja com meu café da manhã. Estou com fome. Tento me sentar para comer, mas meu esforço rende apenas um gritinho de dor e frustração.

Noah abre os olhos, alarmado, porém, seu olhar se torna terno ao me enxergar a sua frente. Não posso estar fantasiando a ternura em seus gestos, posso?

— Bom dia, doutora…

Adoro quando ele me chama assim, pois me lembra tempos mais fáceis e menos confusos.

— Bom dia, rockstar.

Ele sorri e sua covinha surge preguiçosa. Ah, como eu amo esse homem.

É uma desgraça, sim, mas não posso mais negar que estou completamente enlouquecida por ele.

— Estava tentando se sentar? Sabe que ainda não pode, Si.

— Eu sei, mas tô com fome.

Noah nota a bandeja para a qual direciono meu olhar e sorri ao colocá-la sobre as próprias pernas.

— Vamos ver o que temos hoje… Suco de laranja, isso sei que você gosta, certo? Também mandaram um mingau com aveia, além de gostoso, é bem nutritivo.

Minha boca saliva. Pode parecer estranho, mas adoro esse tipo de mingau doce.

— Não consigo comer deitada, vou derrubar tudo — reclamo igual uma criança birrenta.

Noah não me responde, apenas enche a colher e a aproxima da minha boca após se certificar de que não está quente demais. Olho para ele com falsa irritação, mas aceito a colher que me oferece. No fundo estou me deliciando com seu gesto.

Ele continua me dando as colheradas na boca até que eu finalmente termino o mingau. Em seguida, aproxima o copo de suco da minha boca e coloca nele um canudo para que eu possa sugar o líquido. Pacientemente, Noah espera que eu tome alguns goles.

— Doutor Lucca vai passar pra te ver logo. Se achar que tá se recuperando bem, vai poder sair daqui e ir pra um quarto.

— Eu preciso sair logo daqui. Tantos dias de internação, minhas e da minha filha, não vão resultar em um saldo positivo… Não precisa fazer essa cara, Jacob, sei que tem a intenção de arcar com as despesas, mas não quero abusar.

— Não é abuso nenhum. Você é minha namorada e ela é minha filha, Sina.

O meu olhar se perde dentro do seu e meu coração se contrai diante de suas palavras. Olho ao redor e percebo que, além de outros pacientes sedados, ninguém pode nos ouvir. Ele não pode simplesmente dizer essas coisas e esperar que eu reaja com alguma coerência.

— Noah, você não pode… Não precisa falar assim, ninguém tá ouvindo.

Um canto de sua boca se ergue em um sorriso lindo.

Ritmo Envolvente | Noart Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt