Capítulo[05] Clímax

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— Tenho consciência disso, não vou demorar — Dom declarou friamente. 

Essa expressão geralmente era usada em momentos que ele estava sem paciência, chegando ao seu limite, uma expressão que era frequentemente mostrada para mim, mas que hoje ele está demonstrando para sua fatídica secretária, o que definitivamente não era um bom sinal. 

— Eu sinto muito… — Ela se afastou, com a cabeça baixa e foi para fora da sala.

— Está tudo bem, apenas continue seu trabalho — Dominic respondeu friamente.

Ele fechou a porta atrás de si, e eu ajeitei minha postura, por um momento eu me deixei relaxar ao ponto de quase pegar no sono, principalmente depois de olhar tanto tempo para a cara daquela mulher calculista. 

Descartei minha expressão preguiçosa e acrescentei uma mais séria e profissional quando meu marido olhou para mim com um semblante áspero, me preparando para o que vinha à seguir.

— Você pensa que pode tomar a criança apenas para você? —  Dom se aproximou de mim, seu tom de voz era ameaçador. — Por lei, se você tomar a iniciativa do divórcio a criança será minha. Não acho que você queira isso, certo? — Ele me perguntou, parando na minha frente. Ele deixou seu rosto a poucos centímetros do meu, apoiando seus braços nas laterais da pequena poltrona. Sua fragrância de vinho tinto me embriagou conforme eu inalava o aroma. 

— O que você quer dizer com isso? Eu jamais disse algo assim, eu sei das leis e é por causa delas que ainda estou com você! Essa criança é o único laço que há entre nós! — Mentira, meus sentimentos também são laços que me prendem a este homem frio. 

— Soube que você vai para a casa da sua amante, se você for, vou pedir o divórcio afirmando adultério por sua parte. Não duvide! — ele me ameaçou sem nenhum remorso, olhando nos meus olhos. Sentia uma dor aguda me atingir com a ideia dele tomar minha criança, apertei meus punhos me segurando para não dar um soco no homem parado na minha frente. Ele parecia incomodado com a simples ideia de eu ir embora e ir morar com Zhang. 

— Não faça isso. Ela é minha amiga, e entre ela e você, eu preferiria ter me apaixonado por ela... — Senti um bolo na minha garganta, minhas palavras eram para machucar ele, não a mim! Mas só a ideia de deixá-lo triste já me machucou, mas não deixei isso me abalar, muito menos transparecer. — Que tipo de monstro toma um filho do próprio pai? 

— A escolha é sua, faça como quiser. — Não consegui mais me controlar e acabei dando um soco nele, ele levantou a mão limpando o sangue dos seus lábios e continuou a dizer asneiras. — Vejo que pela sua amante você é capaz de tudo, até de me agredir. — Ele deu uma risada áspera e sem humor, se afastando de mim.

— O que eu fiz para você me odiar tanto assim? Você me machuca! Suas palavras são piores que suas atitudes! — Minha voz fraquejou por um momento, mas logo consegui me recuperar. Eu não suportei mais tanta humilhação e fui até a porta. — Só para você saber, caso se interesse, o sexo do bebê é masculino. — Saí da sala e fechei a porta atrás de mim. 

Vislumbrando de relance um Dom ciumento, aflito e sério, ele passou os dedos pelos seus cabelos negros bagunçando os fios lisos, olhando para minhas costas e sussurrando o meu nome nos seus lábios inchados. Olhei para ele uma última vez, nós dois magoados um com o outro. 

No momento em que estava do lado de fora, vi a secretária Kim andando de um lado para o outro em frente a porta. Ela parou no instante em que me viu, a mulher passou por mim feito um furacão e invadiu a sala. Quando estava indo para o corredor, ouvi estilhaços de vidro colidirem contra a parede, tentei ignorar ao máximo o barulho e fui para o elevador.

Tive que ficar alguns minutos esperando o elevador abrir e acabei ouvindo os funcionários fofocando.

— Ei, você percebeu? — Na sala ao lado tinha quatro funcionárias conversando e, mesmo sem querer, eu acabei ouvindo. — O senhor Oscar está grávido, eu mesma vi!

— Sim, também vi. É estranho ver um homem gestante, mas ele não é o primeiro que vejo. — O elevador não abriu, e fui obrigado a continuar ouvindo. — Além do mais, o senhor Oscar é muito bom em cuidar das questões da empresa, ele já me ajudou muitas vezes. 

— Eu acho nojento o fato dele estar grávido, é esquisito. Porém, eu concordo com o que você disse, ele é muito bom no que faz.  

— Eu penso diferente de você, é legal o fato dele estar grávido. Imagina como será o filho dele? Com um pai daqueles, tão gostoso! — a mulher disse para as outras três. — E vocês viram como ele foi calmo e sensato hoje mais cedo? Foi admirável. 

— Não tenho nenhuma opinião, aliás, não sou ninguém para julgar — a quarta voz comentou, fazendo as outras funcionárias se calarem. 

Finalmente o elevador abriu, assim que as portas se fecharam eu apertei no botão do primeiro andar. Ao meu lado, estava Anne, uma funcionária do mesmo departamento que eu. 

— Boa noite, Anne — cumprimentei a moça, e ela fez o mesmo. 

— Você quer uma carona, chefe? Não vai ser incômodo algum! — Seu sorriso era gentil  e amigável. — Também queria conhecer o quarto do bebê! Eu posso? E como estão os preparativos para o enxoval? E as primeiras roupinhas? Gosto muito de crianças e de decorações — ela disse empolgada. Nós não somos próximos, mas conversamos bastante durante o trabalho, ela é jovem, mas é esperta, uma boa e bonita mulher. Fiquei surpreso com seu pedido tão sem pé e sem cabeça, mas disse que sim e ainda pedi um favor para ela.

— Você me ajuda a redecorar o meu apartamento? Quero receber opiniões de outro ponto de vista. Pode me ajudar com o quarto do bebê também se você quiser, o que me diz? 

— Claro, vou adorar te ajudar. Me chame qualquer dia desses e eu vou! — A mulher parecia excitada com a ideia, fiquei contente por ela ter aceitado. — Ouvi dizer que as costelas podem ser o brinquedo favorito dos bebês e a bexiga então, nem se fala! Por isso é frequente as dores em gestantes. — Ela não parou de falar, entusiasmada com o bate-papo. Realmente, é um fato as minhas visitas frequentes ao banheiro. Conversar com Anne foi mais agradável do que imaginei.

Já que não poderei deixar aquele apartamento, tenho que encontrar alguém que me ajude a deixá-lo mais familiar, quero decorar o quarto do bebê também. Sei que Zhang ficará triste, mas não tem jeito.  

No caminho para casa, conversamos sobre vários assuntos. Acabamos conhecendo um ao outro um pouco melhor, como gostos para roupas, comida, e certas manias nossas. Descobri que Anne não se aproximou de mim por causa da sua timidez, mas que ela sempre teve o desejo de ser minha amiga, achei que poderíamos ser bons amigos no futuro. Disse que apesar dos boatos sobre mim que diziam sobre eu ser golpista e ambicioso, ela não levou a sério e sentia o desejo de me conhecer. Soube que ela mora sozinha, mas que passa mais tempo com seus pais do que no seu apartamento, que ela não tem irmãos e é filha única. 

Também me revelou algo que eu já sabia, mas que serviu para confirmar, sobre a secretária Kim ser a fundadora da maior parte dos boatos sobre mim. Isso não me surpreendeu em nada. 












Betagem por: Arabella_McGrath

A Década Depois Da PrimaveraWhere stories live. Discover now