O Chamado Dos Deuses

Capítulo X

Os trotes dos cavalos foram os únicos sons que acompanharam os soldados, até ultrapassarem os muros do castelo e alcançarem as estradas desertas além da vila Senju. Mais do que nunca, Hashirama queria manter sigilo, então, apenas quando o passo acelerado se tornou um galopar em direção a floresta, os capuzes das capas escuras finalmente puderam ser retirados. Estavam sozinhos; não havia nada mais que os atrapalhasse a visão. Izuna suspirou aliviado, mas o sentimento não durou. Sentiu-se extremamente ansioso ao passar pela mancha preta na estrada. Lembrou da expressão de Yurem quando encarou o sangue no chão, mas balançou a cabeça de um lado para o outro, se obrigando a focar inteiramente no presente.

Os cavalos tiveram que ser parados um pouco depois daquele ponto, pois a entrada para a floresta tinha árvores estreitas e o chão escorregadio precisava de toda a atenção, mas, ainda assim, Izuna não deixou os passos dos soldados se tornarem lentos. Precisavam alcançar Yurem o mais rápido possível, e como o Capitão Isao havia dito naquela manhã, teriam que correr contra o tempo para vasculhar aquela parte da floresta, pois nada era certo sobre Shaytan ter permanecido ali, depois de tantas horas.

Eles deveriam ter partido logo cedo. A interrupção do Capitão Hikens sobre Piers tomou alguns minutos de Izuna, mas a insistência de Tobirama em acompanhá-los foi o que o prendeu por mais tempo.

Izuna compreendia como ele estava se sentindo. Ter que deixar a segurança de Yurem nas mãos de outras pessoas, enquanto temia pela vida dele, era agoniante. Porém, o soldado procurou pensar na situação como um todo, não apenas nos sentimentos do príncipe, o que talvez tenha sido um erro, pois acabou priorizando o seu próprio coração.

Izuna se mostrou firme, quando o Rei Hashirama disse que o pedido de Tobirama havia sido negado. Mesmo sabendo que o magoaria, Izuna não hesitou em concordar com aquela decisão. A desculpa era apoiada em não saberem se Shaytan disse a verdade sobre a conexão com os Senju. Se fosse verdade, o cheiro de Tobirama se aproximando o alertaria, e não saber se isso o traria até eles ou o afugentaria, se tornou um problema.

Tobirama estava certo de que não havia selo algum em si, mas não tinham meios de provar tal coisa, nem mesmo sabiam como aquilo funcionava. A dúvida sobre o selo ser algo ocultado e que não havia como ser sentido, ajudou Hashirama a decidir impedi-lo de ir, mas Izuna sabia que ele não permitiria, mesmo se tivessem provas sobre a proteção. Se Tobirama o tivesse, Shaytan não teria motivos para se aproximar, como o próprio havia dito na floresta, mas se o selo não existisse, atrair Azarel com um Senju não era a melhor ideia.

Shaytan pareceu ansioso quando esteve no corpo de Yasurama. Quando se transferiu para Yurem, apesar de aparentar estar mais forte e realizado, o incômodo em suas expressões foi claro, o que fez Izuna teorizar seus motivos, depois de tantos anos escondido e aparentemente, vivendo muito bem. Talvez aquele fosse seu limite, e precisava transferir sua alma imediatamente. Mas, por que Yurem?

Buscaram resposta com Aqil, mas o escrivão não agia como si mesmo. Ele implorou para que pudesse ver Yasurama, antes de tudo, alegando que era muito mais provável que ela tivesse mais respostas do que ele. A tia de Tobirama ainda não havia acordado, mas Hashirama deixou que ele a visitasse, já que Aqil estava tão aflito e perturbado pela situação de seu filho. Ninguém além do rei o viu, depois disso, e Izuna ainda não tinha uma resposta, e só podia teorizar, enquanto entrava na floresta mais uma vez. Contudo, também não conseguiu deixar a culpa que sentia pelo próprio egoísmo. A voz de Tobirama continuava em sua mente, assim como o olhar magoado.

Pensar que Shaytan estava em seu limite, trouxe mais de confiança para o soldado, porém, mesmo depois de tudo, Tobirama continuou a insistir para ir. Izuna sentia sua aflição, e por um momento, se arrependeu do apoio a Hashirama, mas o sentimento logo passou.