A imagem

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5.900 palavras


Eu tinha sonhado naquele dia, mas não conseguiria me recordar nem se... bom, não é hora para analogias. Não minhas.

Acordei tremendo de frio, literalmente e pela primeira vez desde que o tinha conhecido, o ser estava sentado na poltrona que eu tinha no quarto, somente sentado, relaxado, no entanto, seus olhos vidrados me incomodavam como sempre.

— Como se sente? – Perguntou amigavelmente.

— Ainda... – tentei dizer, mas minha cabeça girava e o frio era intimidador. – Na verdade... eu... sinto que tem... que... aconteceu algo estranho... Me sinto... ainda... em... análise...?

Ele sorriu, o que eu estranhei.

— Eu me admiro com você, sabia?

— Não, não sabia... – esfreguei os braços buscando me esquentar.

A coisa fez um gesto para cima com os dois dedos da mão direita que costumavam dar "match" no meu rosto. E instantaneamente a minha temperatura subiu e me senti agradavelmente aquecido.

— Vocês deviam ser acostumados com o frio – ele dizia, se levantando – O planeta de vocês era mais frio que quente. Levante...

Até seu tom de voz havia mudado e aparentemente ele estava começando a se abrir sobre quem era. Não quis pressionar. Embora meu maior – não, não o maior, alguém havia ocupado essa posição – desejo fosse ter conhecimento a seu respeito, no entanto, passei a aceitar que isso seria de maneira orgânica.

Como se o "levante" dele fosse uma espécie de comando, me ergui da cama.

Pedi um tempo para me trocar de roupa e ele assentiu, mas indicando minhas vestes em meu corpo com um gestual. Olhei para baixo e já estava com uma roupa que possivelmente eu usaria para começar o dia: bermuda jeans e uma camiseta com alguma estampa sem sentido.

— Eu dormi assim? – Perguntei. Obviamente ele saberia, afinal, me observava dormindo com seu jeito obcecado.

— Primeiro, você não dorme... – estava voltando a ser enigmático – Segundo, eu mesmo pus essa roupa em você.

Fiz uma cara de espanto e de quem estava ouvindo algo sem noção e olhando para alguém mais sem noção ainda.

— Não se preocupe com coisas desse tipo. E prometo, que vai entender.

— Há muito tempo você me promete isso. – Disse, impaciente.

— Vamos olhar a... cidade?

De cenho franzido e notando que ele queria conhecer além do meu mundinho de família e escola, concordei. Quem sabe eu precisasse respirar.

Cruzamos o corredor em direção a escada e a porta do quarto de minha irmã se abriu, me rendendo um sobressalto desnecessário ao meu ver. William saía de dentro, vestindo a camisa e ela fechava a porta mais do que ligeiro, no intuito notável de não encarar nem eu nem meus pais caso presenciássemos aquela cena.

— Eu disse, mas você não lembra. – A coisa dizia estando já alguns degraus abaixo. – Que você teria que lidar com certas coisas nesta nova fase e esta é uma delas.

Fase?

Não sabia ideia do que ele estava falando. O que eu recordo com clareza é de ter prestado mais atenção ao que tinha visto do que ao que ele dizia.

— Oi. – William tentava me dizer, se recompondo. Mas suas bochechas bem alvas pareciam ter ganhado uma constelação de sardas em ambos os lados rosto, de tão vermelho que ficara.

CRIATURAWhere stories live. Discover now