capítulo 10. outro lugar

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08h17 Hora da Costa Leste - 13h17 Hora de Greenwich 

Na noite anterior, quando ela e Thomas dividiram um pretzel no avião, ele ficou quieto analisando o perfil dela por tanto tempo, sem dizer nada, que ela teve que falar alguma coisa.

— Que foi?

— O que você quer ser quando crescer?

Ela franziu o rosto.

— Que pergunta de criança.

— Não necessariamente — disse ele. — Todo mundo tem que ser alguma coisa um dia.

— O que você quer ser?

Ele encolheu os ombros.

— Perguntei primeiro.

— Uma astronauta — disse ela. — Uma bailarina.

— Sério.

— Você não acha que eu posso ser uma astronauta?

— Você poderia ser a primeira bailarina na Lua.

— Acho que ainda tenho tempo para pensar nisso.

— Verdade — concordou ele. 

— E você? — perguntou ela, esperando mais uma resposta sarcástica, uma profissão inventada relacionada ao projeto de pesquisa misterioso.

— Também não sei — disse com calma. — Com certeza não quero ser um advogado.

Maya ergueu as sobrancelhas.

— Seu pai é advogado?

Ele não respondeu, apenas olhou com mais intensidade para o pretzel.

— Vamos mudar de assunto — disse, depois de certo tempo. — Quem quer ficar pensando no futuro?

— Eu não — disse ela. — Não consigo nem pensar nas próximas horas, muito menos nos próximos anos.

— É por isso que amo voar — disse ele —, você fica preso onde está, não há escolha.

Maya sorriu para ele.

— Não é um dos piores lugares para se ficar preso.

— Não mesmo — concordou Thomas, comendo o último pedaço de pretzel. — Na verdade, eu não queria estar em nenhum outro lugar a não ser aqui.


O pai anda com passos nervosos pelo corredor da igreja escurecida, olha o relógio e estica o pescoço na direção das escadas enquanto esperam por Candice. Parece um adolescente, animado e ansioso pela chegada da namoradinha, e Maya pensa que talvez aquele seja seu sonho de adulto. Ser o marido de Candice. Pai de seu filho. Um homem que passa o Natal na Escócia e as férias, no Sul da França, que conversa sobre arte, política e literatura em sofisticados jantares regados a vinho.

Que estranho que as coisas estejam como estão, principalmente porque ele quase ficou em casa. Com ou sem o trabalho dos sonhos, ele achou que quatro meses era muito tempo, e, se não fosse pela mãe de Maya — que pediu que ele fosse, que lembrou que aquele era seu sonho, que insistiu que ele se arrependeria se não fosse —, o pai nunca teria conhecido Candice.

Mas lá estão eles. Como se fosse impulsionada pelos pensamentos de Maya, Candice aparece nas escadas com as bochechas vermelhas e radiante em seu vestido. Está sem o véu e seu cabelo ruivo está solto, formando cachos sobre os ombros. Ela parece voar para os braços do pai de Maya. A menina olha para o outro lado quando se beijam, e se sente desconfortável. Depois de pouco tempo, o pai aponta para ela.

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Where stories live. Discover now