capítulo 7. um desejo

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04h02 Hora da Costa Leste - 09h02 Hora de Greenwich 

Maya acorda repentinamente sem nem perceber que estivera dormindo de novo. O avião ainda está escuro, mas dá para ver uma luz clareando as janelas. As pessoas estão começando a se mover, bocejar e se espreguiçar, e também a devolver bandejas de ovos mexidos com bacon velho para as comissárias de bordo, que estão incrivelmente bem dispostas e arrumadas, mesmo depois de uma viagem tão longa.

A cabeça de Thomas está no ombro dela desta vez, sustentando a de Maya. Ela tenta ficar totalmente imóvel, mas seu braço treme e se move. Thomas desperta como se tivesse levado um choque.

— Desculpa — dizem ao mesmo tempo e Maya repete. — Desculpa.

Thomas coça os olhos como uma criança acordando depois de um sonho ruim e fica olhando para ela por algum tempo. Maya sabe que deve estar horrorosa, mas não se ofende com a reação dele. Quando entrou no banheiro apertado e se olhou no espelho ainda menor, ficou surpresa ao ver como estava pálida, com olhos inchados por causa do ar viciado e da altitude. 

Ela piscou diante do reflexo, achando-se horrível, e ficou se perguntando o que Thomas tinha visto nela. Não costumava se preocupar muito com cabelo e maquiagem, nem passava muito tempo na frente do espelho, mas era pequena, morena e bonita o suficiente para chamar a atenção dos garotos na escola. Mesmo assim, a imagem no espelho a deixou preocupada, e isso foi antes de cair no sono pela segunda vez. Nem dava para imaginar como estava seu rosto agora. Cada parte de seu corpo está dolorida de tanto cansaço e seus olhos doem; tem uma mancha de refrigerante na gola da camisa e nem quer pensar em como está seu cabelo neste momento.

Thomas também está diferente. É estranho vê-lo naquela luz; é como colocá-lo numa TV de alta definição. Seus olhos ainda estão inchados de sono e tem uma marca que vai da bochecha até a testa, onde estava apoiado na camisa de Maya. Mais que isso, ele parece estar sem energia e cansado, com os olhos avermelhados e muito distantes.

Ele arqueia as costas para se espreguiçar e olha no relógio.

— Estamos quase lá.

Maya concorda e se sente aliviada por não terem se atrasado, mesmo que queira um pouco mais de tempo. Apesar de tudo — do voo lotado, do assento desconfortável e dos cheiros que estão tomando o ambiente —, ela não se sente pronta para sair do avião, onde foi tão fácil se perder nas conversas e esquecer tudo o que deixou e o que estava por vir. 

O homem à frente abre a janela e uma coluna de luz branca — tão repentina que Maya quase cobre o rosto com as mãos — ilumina tudo, afastando a escuridão, acabando com o que restara da magia noturna. Ela abre sua janela, pois o encanto já tinha acabado oficialmente. Lá fora, o céu é de um azul que cega, cheio de nuvens em camadas, como um bolo. Depois de tantas horas no escuro, olhar por muito tempo chega a doer.

São apenas quatro da manhã em Nova York. A voz do piloto nos alto-falantes é alegre demais para aquele horário.

— Bom dia a todos — diz ele —, estamos fazendo a aproximação final no aeroporto de Heathrow. O tempo está bom em Londres, 22 graus, parcialmente nublado com possibilidade de chuva mais tarde. Vamos pousar em pouco menos de vinte minutos, portanto, afivelem os cintos. Foi um prazer voar com vocês, aproveitem a estada.

Maya se vira para Thomas.

— Quanto é isso em Fahrenheit?

— É quente — responde.

Maya está sentindo calor; talvez seja a previsão do tempo, o sol batendo na janela ou apenas a proximidade do garoto ao seu lado, com a camiseta amassada e as bochechas vermelhas. Ela se estica para abrir a saída do ar no painel acima deles e fecha os olhos, sentindo o jato de vento frio. 

Amor à primeira vista [Thomas Sangster]Where stories live. Discover now