Resquícios de ti

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Acordei sentindo um espasmo e como se já não bastasse o fato de acordado num solavanco, assustei ao ouvir de repente meu celular tocar em cima da cômoda perto da cama. Engraçado, não me lembro de ter o posto ali... na verdade nem lembro de ter entrado no estúdio com ele. Não importa. Me estiquei para pegar o celular e quando o alcancei olhei rapidamente o seu visor. Eu gelei. Olhei para as horas só para disfarçar... já são 09h44 da manhã, aqui, me pergunto quais são as horas lá.

__ Alô? - eu falei num tom calmo e curioso
__ Oi, Yuri!
__ O que foi? Aconteceu alguma coisa? - falei sem querer entre bocejos
__ Nada aconteceu. Está com sono?
__ Eu acabei de acordar na verdade...
__ Quais são as horas aí? - sua voz parecia suave, mas eu não me sentia assim.
__ São 09h45 e aí?
__ 23h45.

Uau tão tarde...
Se antes eu já tinha dúvidas, agora tenho mais que antes. Porque o aomine me ligaria de novo? E piorar, porque a esse horário?

__ Porque ligou? - tentei ao máximo não parecer incomodada com isso ,pois eu não estou, estou apenas... curiosa.
__ Eu não sei.
__ Não sabe?
__ Não sei. Eu só...liguei. Foi mal.
__ Tudo bem. - me virei, ficando de barriga para cima ,encarando o ventilador de teto que ainda girava - Então, como vão as pessoas por aí?
Ouve um silêncio momentâneo e uma respiração funda foi ouvida antes de ele começar a falar:
__ Bem, eu acho. - fez uma prática meio dramática e então continuou- Alguns pelo menos.
__ Tem visto o akashi? - ele não respondeu de imediato, mas ele não demorou para responder.
__ Não. Faz dias que ele não vai à escola.
__ Ele tá bem?
__ Talvez, teríamos que perguntar a ele. - seu tom parecia ser um pouco mais duro, me senti nostálgica ao lembrar do akashi e ao mesmo tempo mal por perguntar por ele ao aomine.
__ E você?
__ E-eu? O que tem eu?
__ Sobre estar bem...
__ Claro. Porque não estaria? Me livrei da paternidade disseram que era minha e tô passando uns dias com minha mãe.
__ Na casa da sua mãe? E o seu pai?
__ Foi ele quem deu a ideia, novos ares. - ele riu baixinho - NOVOS ares - deu ênfase na sua ironia.
__ E ele, como vai?
__ Vai bem. Ele ficou triste quando eu contei da sua mudança...

Eu não respondi nada, me mantive calada após ouvir aquilo. Sinto saudades do senhor Hayato...

__ Vai mesmo morar aí? - ele perguntou baixo
__ Sim. - falei sem hesitação
__ Por minha causa? - falou no mesmo tom anterior
__ Não. - meu tom não saiu tão convincente, então continuei - Por minha causa. Por mim, não por você.
__ Liguei pra perguntar isso e se a resposta fosse algo tipo essa aí, eu ficaria aliviado, mas porque não sinto isso?

Talvez tenha sido porque eu Menti.

__Não sei. - respondi
O ouvi bocejar e imaginei que lá já passava da 00h.
__ Eu vou dormir agora.
__ Ok, boa noite pra você, Aomine.
__ E bom dia pra você...
__ Obrigada.
Houve segundos de silêncio e ele tornou a falar, segundo antes de ele mesmo desligar a ligação.
__ Sinto sua falta, Yuri.

Eu também.

Observei a tela do celular e a ligação ser encerrada pelo garoto do outro lado do mundo. Quase que de imediato ouvi a porta do quarto se abrir, nem sequer me mexi, permaneci ali parada e vi nash se aproximar da pia da cozinha. O vi lavar as mãos e enquanto as enxugava virou-se para mim. Acenou quando me viu olhando para si.

__ Tudo bem? - ele franziu o cenho antes de me perguntar, e... pra falar a verdade nem eu sei como estou.
__ Sim, por que a pergunta?
__ Você me parece abatida, ou é só impressão minha?
__ Impressão sua. E você?
__ Bem. Acabei de tatuar a Jullie e já que você acordou ,podemos ir para casa.
__ A Jullie esteve aqui?
__ Sim, ela até quis te dar bom dia, mas eu disse a ela para não te acordar.
__ Obrigada.
__ Não a de quê! Vamos?
__ Ok, eu vou só no banheiro.
__ Tá bem, te espero lá fora. - ele apontou para a porta por onde entrou - e antes que eu me esqueça, tem umas escovas de dentes novas no armário do banheiro.
__ Pegarei uma ,valeu.

Ele não respondeu, saiu de lá e eu me levantei da cama. Abri a porta do banheiro e procurei pelo tal armário. Suponho que ele tenha se referido ao pequeno armário abaixo da pia de mármore e do espelho. Pequei uma laranjinha e escovei meus dentes. Lavei o rosto e passei as mãos molhadas no cabelo que parecia um ninho de emaranhados ,roxo.

Passei um pente que encontrei no armário, nos cabelos e quando já estavam devidamente desembaraçados o prendi em um rabo de cavalo, com uma presilha que estava em meu bolso.
   Sai do banheiro, peguei meu celular sob a cama e arrumei a cama. Logo depois saí da cama e encontrei nash sentado no sofá  mexendo no ipad no qual ontem vi as fotos das tattoos.
Ele me viu.

__ Pronta pra voltar pra casa?
Afirmei.

Ele se levantou, desligou o ipad e o guardou na mesma gaveta de onde havia sido tirado ontem. Nash caminhou até a porta de entrada e apertou um botão que apagou todas as luzes de uma só vez.
Andei até ele e passei por ele na porta.
  O sol das 10h da manhã acertou a minha pele e eu passei as mãos onde queimava um pouco. O sol estava forte.
   Não notei o garoto fechar a porta do estudio, notei ele aquelas apertando um botão que fez um barulhinho baixo e depois um pontinho vermelho surgiu na fechadura da porta. Algum tipo de segurança eu aposto.

Antes que ele me chamasse ,eu fiquei do seu lado e ao mesmo tempo que ele caminhou na direção que eu lembrava que estava seu carro,eu caminhei junto.
   De longe ele apertou um botão no controle do carro e suas portas se abriram. Entramos no carro e ele não tardou em ligar o carro e dar partida rumo a nossa casa.

As janelas da frente totalmente abertas permitia que o sol quente entrasse ,mas também permitia que os ventos balançassem nossos cabelos e tornasse tudo refrescante.

__ O que você tatuou na Jullie? - falei na intenção de acabar com nosso silêncio.
__ O nome da filha falecida dela. - pausou e concluiu em seguida - Jessy.
__ Que triste...
__ Sim. Mas ela se recuperou bem.
__ Do que ela morreu? - perguntei
__ Ela nasceu com câncer. Foi forte por muito tempo e acabou morrendo alguns dias antes de completar três anos.
__ Quanto tempo faz?
__ Uns quatro anos. - como se já previsse o que eu perguntaria, ele continuou - A Jessysinha nasceu quando ela tinha Dezessete anos, Viajou para um mundo melhor quando a Jullie tinha Vinte e agora graças aos céus a Jullie está se recuperando, aos vinte e quatro anos.
__ Uau, eu sinto muito...
__ Não precisa sentir, não mais. Doía Demais ver a bebê com 1 ano, estar perdendo cabelo ao invés de ganhar aqueles cabelos bonitos que só bebês tem. - seus olhos marejaram e rapidamente ele tirou uma das mãos do volante para limpar aos olhos com as costas da mão.

__ Ele era Ruiva? - perguntei para que ele ficasse ocupado com outra coisa, para não lacrimejar mais.
__ Ah pode ter certeza que sim. Ela era até mais que a própria mãe! - ele sorriu e me olhou
__ O pai dela também era Ruivo?
__ Não sei. Nunca o vi. Ele foi o tipo de pai que só foi homem na hora de transar com a Jullie.
__ Que horror!
__ Nem no velório da filha ele teve a decência de ir. - nash apertou forte o volante e depois soltou o aperto forte.
__ Você... que era como um pai para a menininha, não é?
__ Sim, eu a amava como um... - o percebi desviar os olhos da rua e olhar para o céu pela janela ao seu lado, depois retornou seu olhar para a rua e pronunciou - Tenho algumas fotos com ela em casa, se quiser depois eu te mostro.
__ Quero sim.

Olhei através de minha janela e vi que nossa casa estava a alguns metros a nossa frente, nash estacionou o carro na frente da casa e então saímos do carro.

Nash caminho pelo portão branco por onde saímos ontem a noite e então apertou um botão, o interfone.

__ Nash e Miyuri aqui. - ele falou ao apertar o botão. Sem demora o portão foi destrancado automaticamente e então entramos.

Entramos na casa a passos largos e quando eu parei na sala sem saber pra onde ir, nash segurou em meu pulso e me puxou. Olhei para onde ele ia e vi que era a cozinha.

__ Vamos comer primeiro.
__ Tá bom...

Fui com ele para a cozinha e lá como se já esperasse por nós, estava sobre o balcão de mármore, pão de forma, queijo e presunto. Nash foi até a geladeira,  pegou uma jarra de suco amarelo e servir dois copos. Eu fiz alguns sanduíches para nós.
Entreguei um prato a ele e ele um copo com suco a mim. Tomei um primeiro gole e senti o sabor... Maracujá.

Tudo o que eu precisava. Dizem que acalma não é? E é isso que eu preciso,mais do que nunca.
Me acalmar, para tirar de mim os resquícios de ti. Daiki.

Panther's HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora