XXXVII. Tempestade

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Virou algumas curvas do labirinto de pedra, não demorando para encontrar o grupo, certo que ninguém tinha percebido sua ausência. Jeongguk mesmo parecia imerso demais em uma conversa com o tio.

Taehyung perdeu o alívio que cruzou os olhos do alfa ao avistá-lo.

***

Na tarde, logo que chegaram à casa de Edmund, Jeongguk anunciou para a tripulação que deveriam se preparar para voltar para Kauput's. O navio partiria no primeiro sinal de claridade do dia seguinte.

Muitos não entenderam a pressa, mas trabalharam nos preparativos sem questionar o capitão.

Taehyung ajudou Wooshik a cuidar do estoque de comida, mas estava trabalhando no automático, quase sem dar atenção ao que fazia. Estava distraído demais debatendo consigo mesmo se falava ou não com Edmund a respeito do vaso de argila.

No fim, foi Edmund quem o buscou, logo antes de irem embora. Taehyung conversava com Loren na varanda da casa, já com a bolsa de viagem pesando em seu ombro.

- Posso dizer uma coisa, Taehyung? - Loren perguntou.

Taehyung deu um sorriso curto, ajeitando a alça de sua mala.

- Nunca é algo bom que segue essa frase.

Loren estampou um pedido de desculpas no rosto. Ele deu um sorriso antecipadamente envergonhado.

- É só que... Todos nós ouvimos o que o Governador falou na gruta.

Taehyung travou os dentes em uma careta, abaixando o queixo no peito, escondendo o constrangimento.

- Sei que a opinião vinda de um criado ômega pouco vale - Loren prosseguiu.
- Mas eu só queria... Queria dizer que eu não acho que seja verdade, não acho que relacionar-se com betas é uma depravação.

Ainda em silêncio, Taehyung continuou encarando o chão. Ele aumentou seu aperto na alça da mala. É claro que havia pensado sobre a frase do Governador. Era como um pensamento que batia incisivamente na sua porta, um que ele tentava ignorar a qualquer custo.

Tinha medo que uma hora o pensamento colocaria a porta abaixo e invadiria tudo.

- As pessoas dizem isso porque o sexo acontece fora do cio, e clamam que não é algo natural - Taehyung prendeu o fôlego perante as palavras. Não se lembrava de ver alguém falando tão abertamente sobre o cio dos betas assim...

Salvo pela beta naquele bordel de Adhara.

- E não é. Não temos o corpo designado para isso - Taehyung murmurou, sem total convicção. Estava dividido entre o que aprendera a vida toda e o que vinha sentindo. Ele levantou os olhos. De longe, observou Jeongguk conversar com alguns de seus homens. O alfa gesticulava de maneira incisiva, parecendo frustrado.

- Vocês betas podem não ter os feromônios de um alfa ou um ômega... Mas é certo resumir as relações a respostas de hormônios? - Loren balançou a cabeça. - Eu não acho que é.

Taehyung engoliu saliva. Olhou de soslaio para Loren. Não sabia o que dizer. Era a primeira vez que alguém chegava perto de validar o que sentia diretamente - fora Jeongguk, quando dissera que não precisava que Taehyung fosse um ômega para beijá-lo.

- Obrigado por compartilhar suas ideias - Taehyung agradeceu, em uma voz que era uma mistura de embargo e polidez.

- Oh, Taehyung, querido. Sempre tão formal!

Loren sorriu, amplo como seu coração, e o puxou pelo pescoço para um abraço bagunçado. Taehyung ficou estático, surpreso demais para retribuir.

Alguém chamou Loren. Ele afatou-se e virou-se, respondendo algo que Taehyung não registrou. Loren acenou um adeus para Taehyung, que o observou retrair-se com um olhar contemplativo.

Servante (jjk + kth) (ABO) - ConcluídaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora