amor puro. amor verdadero.

228 13 3
                                    

| Narrado por Dulce María |

Reta final de gestação e minha princesa a qualquer momento pode vir ao mundo direto para o calor dos meus braços. É a segunda vez que passo por isso, mas hoje entendo algo que sempre ouvi, nenhuma gestação é igual a outra.
Ambas foram gestações tranquilas e saudáveis, só que psicologicamente falando, a atual está sendo mais difícil. Fui diagnósticada com um início de depressão gestacional há alguns meses, creio que a ansiedade foi a grande culpada. Os hormônios afloraram além do normal, me senti insegura em diversos momentos, não me achando suficiente para meus filhos, para meu esposo, para minha família. Foram momentos de conflitos internos, conflitos esses que pensei já ter superado.

Sou a filha caçula dos meus pais, fruto do que a minha mãe chama de milagre. Alguns anos depois de ter tido a segunda filha, quando já não pensava ser possível engravidar novamente, minha mãe descobre que o terceiro filho estava a caminho. Meus pais sempre foram bons para mim e sempre me proporcionaram tudo do bom e do melhor, mas falharam no principal: na atenção.
Longe de mim julgá-los, mas só eu sei como me sentia. Os negócios da família e tudo aquilo que o dinheiro pode proporcionar sempre foi o mais importante para eles. Dificilmente estavam disponíveis ou percebiam quando algo de errado se passava comigo. Dona Dolores, a mulher que por muitos anos foi minha babá, supria um pouco dessa falta que eu sentia de atenção e carinho. Passava a maior parte do tempo com ela, já que meus pais estavam sempre ocupados trabalhando ou viajando. O relacionamento com as minhas irmãs não foi o que sempre sonhei, crescemos juntas porém distantes, a grande diferença de idade entre nós contribuiu e muito para isso. Me viam sempre como criança e não pude aproveitar muitos momentos com elas por isso, quando estava na adolescência e descobrindo mais do mundo, não me sentia confortável em desabafar e compartilhar algumas coisas com elas. Já eram adultas, com prioridades diferentes das minhas, e rotina também. Mas a vida foi tão generosa comigo, que me apresentou Zoraida. Minha melhor amiga desde a infância e que há muitos anos vive em Londres. Sempre a considerei como uma irmã embora não tenhamos o mesmo sangue.

Hoje vejo a familia que formei e muitas vezes isso me assusta, tenho um marido maravilhoso que caminha ao meu lado me dando todo amor e apoio do mundo sempre, um filho lindo e carinhoso que foi desejado desde o primeiro instante em que descobrimos que estava grávida e me fez conhecer e viver o amor mais puro, e agora prestes a nascer, uma pequena guerreira dentro de mim que foi muito planejada e desejada por nós. Ah, temos uma cachorra muito amada também que completa nossa família.
Não somos a família perfeita, mas até os nossos defeitos são perfeitos. No nosso lar transborda amor e afeto, é tudo muito além do que algum dia já sonhei pra mim. E por isso tive momentos de conflitos comigo mesma nesses últimos meses, medo de não ser o suficiente para eles ou de em algum momento falhar. Sei que vivo uma realidade diferente da dos meus pais, do casamento deles, da família deles, mas às vezes é inevitável não lembrar de tudo e temer que algum dia as pessoas que mais amo, meus filhos e meu esposo, possam sentir nem que seja um pouco do que já senti quanto a minha família. Alguns podem achar que isso é frescura de minha parte, mas só quem sente a solidão sabe como me sinto. E claro, os hormônios contribuíram para isso.

María Luna pode chegar a qualquer momento durante essa semana, e apesar de ter optado pela cesárea, ela não foi agendada, então estamos respeitando o tempo de minha bebê e em alerta para quando ela decidir chegar.

- Ai! - Coloco a mão na minha barriga.

É exatamente quatro e dezesseis da manhã, sofrendo de insônia e viajando em meus pensamentos, estou quase que sentada na cama porque no momento essa posição está sendo a mais confortável. Christopher e Alexander dormem abraçados ao meu lado.

- Amor? O que foi? - Meu homem desperta rapidamente assim que ouve meu gemido e se senta na cama segurando minha mão.

- Eu acho que está na hora. - Digo um pouco perdida.

Quando é pra acontecer... (VONDY)Where stories live. Discover now