27. Amor Gitano

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Capítulo de minha autoria


| Narrado por Christopher |

Sete meses depois...

Fui até uma livraria próxima de casa para comprar livros novos. Eu era fascinado por assuntos relacionados ao Universo. Astrologia, física quântica... Espiritualidade e sobre o lado oculto da política mundial. Desde que deixei minha mulher, no meu tempo livre me dediquei ainda mais aos estudos dos assuntos que me interessavam, e foi uma das coisas que me ajudou a distrair e seguir em frente. Além da música, claro. Confesso que ela foi inspiração para algumas composições e que foram sucesso absoluto quando lancei. Sueles Volver e Apaga La Maquina estavam no topo das paradas em alguns países. Essa última compus enquanto ainda estávamos juntos, em uma das noites de solidão em um quarto de hotel depois de dias sem vê-la por conta das viagens ao redor do México levando meu show.

Em meio as prateleiras dos corredores da livraria, um me chamou muito a atenção. Estava na prateleira dos lançamentos.

- Não pode ser. - Sussurrei para mim mesmo.

Na capa, a foto de Dulce. O nome, Dulce Amargo. Não hesitei em colocar na cesta junto dos outros livros que iria comprar.

Estava trêmulo, meu coração palpitava forte. Dirigi o mais rápido possível até minha casa e me tranquei no quarto. A ansiedade e expectativa sobre o conteúdo daquele livro me consumiam. Finalmente o tirei da embalagem e comecei a dedilhar as páginas, logo de forma eufórica comecei a ler uma por uma. Era um livro como se fosse um diário, relatos de momentos ao longo de sua vida, de suas vivências e sentimentos.
Dulce amava se expressar através da arte, seja da pintura ou da escrita. Eu amava isso nela.

Amor Gitano. Quando li não podia acreditar. Não queria acreditar que poderia ser o que eu estava pensando.

"¿A donde te ha llevado el viento? Podría seguir tus huellas y encontrarte?
En la arena no has dejado rastro que me ayude a ubicarte.
¿Por qué te fuiste?
¿Qué flores no encontraste aquí?
¿Qué agua dulce te faltó probar?
¿Mi sol no te alcanzó a alumbrar?
¿O tanta luz te llegó a quemar?
¿Por qué huiste?
Te perdi en un remolino de aire y recuerdos que me robaron el aliento. Sin ti duele respirar... y cada amanecer me cuesta despertar.
La lluvia trae las lágrimas del ayer, las mismas lágrimas que yo limpié de tu rostro gitano.

Hoy veo tu cuerpo, el que yo con mis manos y todo mi ser cuidé por tanto tiempo, y parece que el secreto no te ha sido revelado.

La magia tarda en descubrirse,
primero hay que caminar y cruzar el puente del destino, al final segura estoy te encontrarás conmigo.
Porque no es fácil olvidar...
Porque lo verdadero siempre será eterno en la mirada de un corazón extranjero."

Fiquei alguns minutos apenas olhando para aquelas duas páginas e tentando assimiliar tudo.
"Rey de los gitanos", era um apelido dela para mim. Ainda lembro da primeira vez que me chamou assim. Depois de uma das inúmeras conversas e desabafos sobre nossas vidas, sonhos, essência, e tudo do mais profundo do nosso ser. Ri sem entender e ela me explicou o apelido. Dulce sempre muito autêntica.
E ainda que minha realidade não condizesse com o significado daquele apelido, o meu espírito era.

Ao longo desses últimos sete meses, não me aprofundei somente no conhecimento do mundo ao meu redor, mas também no meu autoconhecimento. A dor, a perda, as lembranças e as consequências das minhas escolhas me fizeram amadurecer, compreender e aceitar muitas coisas na minha vida que por muito tempo negligenciei. Me deram mais autoconfiança também. E tudo num processo mais orgânico.

"Por mais longa que seja a caminhada, o mais importante é dar o primeiro passo."

Quando é pra acontecer... (VONDY)Where stories live. Discover now