Capítulo XXIII

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Não sei quanto tempo ficamos abraçados, e ele pacientemente esperou minhas lágrimas secarem e no meu coração ficar apenas o vazio de quem não tem esperança. Não sei o que pensar nem o que querer... Ele tem razão. Nenhum dos dois seria realmente feliz se abríssemos mão de nossos sonhos pelo outro. E se não cogito ficar, por que ele cogitaria ir? Fui moldada para isso. Para ter uma carreira brilhante e alcançar tudo o que quisesse. Estou indo mais longe. Mas a que preço? Mais lágrimas brotam dos meus olhos.

– Acalme-se, Eva.

– Não consigo...

– Você precisa comer alguma coisa.

– Tem certeza? – digo em tom de deboche.

– Sim. Você bebeu, passou mal e ainda não comeu nada hoje...

Sirvo-me de suco de laranja. Mas parece que tem espinhos quando ele passa na minha garganta. David também só toma o suco.

– É o fim? – pergunto, seca, sem ao certo querer ouvir a resposta.

– Como o fim?

– Da gente?

– Não acho que a gente vá desintegrar, ser abduzido ou algo parecido, para ser o fim da gente.

Bufo de raiva. Ele escolheu a pior hora para começar a tentar ser engraçado.

– Eva, não podemos prever essas coisas. Vamos continuar vivendo cada dia...

– E aí a data da viagem vai ser a data do fim?

– Por que você se preocupa tanto com o fim? Não é assim. Tipo: vamos então seguir namorando até o dia tal... Não é racional. Muita coisa pode acontecer.

– E o que eu respondo amanhã?

– O que você já programou para responder.

– E a gente?

– A gente continua vivendo o que estamos vivendo até você partir.

– E depois?

– Depois a gente vê.

– Não vejo como dar certo um relacionamento a distância, sem perspectivas de eu voltar ou de você ir...

– Você quer então o quê? Que a gente termine agora? Quer que eu vá embora?

– Não!!

– Eva, nada vai me fazer mudar de ideia quanto a me transferir para Londres. Nem você, nem meu pai, nem ninguém. Beba água.

– Não consigo.

– Quer que eu coloque um soro na sua veia?

– Você faria isso?

– Se fosse necessário...

– Você sabe que não estou tão ruim assim...

– Sei que você bebeu, passou mal e não está comendo nem bebendo nada.

– Quem se importa?

– Eva! Que coisa mais infantil!

Realmente, já não sei mais o que falar, o que fazer nem como reagir. Não quero que ele vá embora da minha casa, da minha vida... Mas parece que só estou alimentando mais um sentimento que não vai dar em nada. Preciso me acostumar mais ainda com a presença dele na minha vida e depois sofrer mais com a separação. E agora tive a confirmação do que no íntimo eu já sabia... Vamos nos separar. E vai ser para sempre. As lágrimas voltam a cair dos meus olhos.

Eva BiancoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora