Uma onda de calor e felicidade a atingiu. Saber que mesmo com a distância que estava mantendo deles por todo esse tempo eles não a haviam esquecido, a fez se sentir melhor. Por um momento, deixou de sentir a solidão que estava sentindo nesses últimos meses.

Henry olhou para a porta de ferro mal iluminada pela lanterna.

— Agora você precisa ir.

Camila se dirigiu à porta, mas antes de abri-la, resolveu perguntar apenas mais uma coisa:

— Você também passou pelo Portal, não? Então, como eles não te rastreiam? Você deve estar com matéria escura. — Henry a olhou com uma expressão de impaciência no rosto. — Não me olhe assim, eu sou curiosa.

— Sim, eu sei. — Ele riu. — É por conta de sua curiosidade que você está aqui. Mas tudo bem, vou te contar. Esse Portal é um Portal diferente dos quais os Agentes e os Cientistas da O.P.U usam. Esse foi criado apenas para trazer as pessoas do nosso mundo para cá e para outros universos.

— Não lembro se cheguei a te dizer, mas fui demitido também por não conseguir fazer todos irem para universos diferentes. — Henry continuou. — Todos estão vindo apenas para cá. Como pode ver, sou um fracasso total. — Ele olhou para o chão, parecendo envergonhado.

— Nunca diga isso, Henry. Você é um cientista incrível que conseguiu criar um portal para outra dimensão. Isso normalmente não era para ser bom, mas não deixa de ser um talento seu.

— Mesmo com toda essa situaçáo e com tudo que eu fiz, você ainda tenta me colocar para cima. Você é muito generosa, Kemila. — Ele deu um sorriso melancólico para ela, que retribuiu com um motivador. ­— Obrigado novamente, mas você precisa ir, e rápido.

Assentiu.Precisava sair dali antes que o sinal tocasse e todos os zeladores voltassem avigiar a passagem para o Andar Proibido. Então, abriu a porta de ferro e saiu.O falatório distante dos estudantes invadiu seus ouvidos. A maioria das vozesvinham do primeiro piso, que chegavam até o sexto por meio do grande vão que osandares tinham entre as escadarias que os conectavam; alguns outros vinham dosandares abaixo, onde os alunos ficavam nas áreas reservadas para o intervalo.

Olhoupara todos os lados, se certificando de que não havia ninguém ali, maisespecificamente, algum Zelador. Vendo que o caminho estava livre, se apressouem descer o mais rápido que pôde os degraus, e caminhou pelo corredor atéchegar na sala de aula. Ao fazer, percebeu que como quase sempre antes do sinaltocar, estavam ali apenas Henrique, Lucas e Paty. Todos os três a olharam assimque abriu a porta. Paty, diferentes dos garotos, a encarava com o mesmo olharque Camila já estava acostumada a ver sempre em seus olhos, nos últimos meses: mágoae desconfiança.

— Estávamos falando de você agora, Leyla. — Henrique comentou. — Você anda sumindo às vezes. Tem alguma coisa acontecendo? — Ele colocou uma expressão de preocupação no rosto.

— N-não. Eu apenas fui... bem, não importa. — Desistiu, percebendo que não iria encontrar nenhuma desculpa. — E você, Lucas? Como estão as aulas de reforço com a Lia?

— Estão boas. Ela é bem legal, e sabe fazer com que a matéria não seja tão chata quanto é na sala de aula. Mas espero que no dia da prova eu me lembre de tudo, pois preciso gabaritar. Aliás, os professores começaram a nos encher de trabalhos em apenas um mês. — Ele passou a mão pelos cabelos, aflito. — Só de pensar já fico nervoso.

A Viajante - O Outro Mundo (Livro 1)Where stories live. Discover now