Capítulo dezesseis

9.1K 926 304
                                    

A verdade era tão cruel quanto uma mentira, você nunca estava preparada para a devastação que ela era capaz de causar. Pensei que quando soubesse quem era minha mãe biológica, meu coração se acalmaria da dúvida de não saber da minha origem, mas descobrir que a mulher que me abandonou foi a Verônica, a mulher que criou e amou Nathan, foi muito mais devastador. A pergunta que mais martelava minha mente era saber por que ela não me quis, mas tinha medo de descobrir a resposta.

A última coisa que lembrava da festa foi ver o mundo escurecer e acordar com minha mãe segurando minha mão. Assim que abri os olhos enxerguei um monitor e senti meu braço doer, era por causa da agulha do soro, percebi que estava no hospital.

— Mãe! — chamei grogue, ainda tentando me recuperar do apagão. Minha mãe Susana me olhou preocupada, passando a mão por meus cabelos.

— Querida! Você desmaiou, quase nos matou de preocupação. — dava para perceber o quanto ela estava aflita pelo seu jeito de falar. — Estão todos preocupados na sala de espera. Quer que eu diga para entrarem? — neguei rapidamente, eu não queria ver ninguém, porque estava prestes a desabar e quando isso acontecesse preferia não ter plateia. Ainda não me sentia preparada para encarar a realidade.

— Eu quero ir para casa, mãe! E prefiro não ver ninguém! — disse tentando não fraquejar na fala. Minha mãe pareceu confusa, eu não agiria daquele jeito se estivesse bem, ela me conhecia o suficiente para saber disso.

— Filha! Você está bem? — aquelas palavras nunca tinham me afetado da forma que me afetou nesse momento. Neguei com a cabeça e não consegui evitar desabar nos braços da mãe que me criou. Ela não perguntou nada, apenas escorregou os dedos entre meus cabelos, e era só isso que precisava no momento, da mãe que sempre conheci.

— Eu... — minha voz falhou, um nó se apertou em minha garganta. — Eu sei quem é minha mãe biológica! — revelei de supetão, antes que as palavras se perdessem. Senti o abraço afrouxar e a mulher que me abraçava, agora me olhava confusa.

— Como?

— A marca... — funguei tentando contar a verdade, eu precisava, senão ela me sufocaria. — Verônica, a madrasta de Nathan, tem a mesma marca que a minha.. — minha mãe se encontrava em estado de choque, eu sei que ela queria que eu encontrasse meus pais biológicos, mas também sei que ela temia me perder para eles, uma coisa que eu sabia que nunca aconteceria. Minha mãe e meu pai sempre seriam Susana e Fernando Monteiro, que me criaram com muito amor, não era o sangue que determinava familiaridade e sim, o amor.

— Você quer conversar com ela? — minha mãe perguntou suavemente, tentando não parecer abalada. Balancei a cabeça negando.

— Não estou preparada para olhar para ela. — confessei, recebendo outro abraço acolhedor.

— Eu entendo, meu amor! Você sempre terá meu apoio, e sei que seu pai pensa assim também. — falou me acolhendo mais em seu abraço. Eu sabia que a revelação a tinha abalado, mas ela não demonstraria na minha frente, porque minha mãe sabia que esse dia chegaria, mais cedo ou mais tarde. Porque a verdade era um veneno, mas também era a cura.

No outro dia acordei com várias mensagens, mas não tive forças para responder nenhuma, chorei até pegar no sono, como uma criança com medo do monstro embaixo da cama. Não importava a idade, a vida sempre terá esses monstros à espreita. Era sexta - feira, mas não teria coragem para enfrentar as aulas hoje. Meu corpo doía, não uma dor física, mas emocional, o que era pior ainda. Quando me olhei no espelho do banheiro, meus olhos estavam vermelhos, minha maquiagem borrada, porque não tive forças para tirar antes de dormir. Remói a verdade como cacos de vidros, sempre pensei que a mentira era cortante e a verdade era um curativo, mas pelo visto me enganei.

Um acordo infalívelΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα