Capítulo dezessete

8.9K 836 140
                                    

Nathan segurava minha mão enquanto esperávamos Verônica que preparava um café para nós, ela não fazia ideia da tempestade que estava por vir. A madrasta de Nathan era o tipo de pessoa que carregava uma ingenuidade no olhar, e eu me perguntava por qual motivo uma pessoa assim entregaria sua filha para a adoção. Assim que ela sentou-se em nossa frente, eu notei a nossa semelhança, os olhos azuis que pareciam o alvorecer de uma manhã de sol, o cabelo avermelhado semelhantes as folhas no outono, a forma como sorria e até o jeito de como levantava a sobrancelha quando estava confusa, uma expressão que ocupou seu rosto nesse exato momento.

— O que você acabou de dizer? — perguntou assustada, suas mãos tremiam tanto que a mulher chegou a derrubar a xícara que se estilhaçou no chão, mas ninguém se importou a juntar os pedaços.

— Você é minha mãe! — repeti e finalmente ela pareceu entender, ou melhor, pareceu acreditar que tudo aquilo era real. Verônica olhava para o nada, parecia em choque.

Nathan me olhou e sussurrou em meu ouvido:

— Sente-se perto dela. — então, assim fiz. Caminhei até o sofá onde minha progenitora se encontrava paralisada e sentei ao seu lado. Quando toquei em seu ombro, finalmente ela olhou para meu rosto, com os olhos marejados, não sabia o que ela estava sentindo, mas torcia para que fosse felicidade.

— Você não imagina o quanto eu procurei por você. — revelou tocando meu rosto, senti meu coração apertar com aquele gesto carinhoso. Durante minha vida toda, esperei por esse momento, e quando pensava em encontrar minha mãe, achei que o sentimento seria diferente, eu queria sentir raiva, desprezo, ou frustração. Mas quando olhava para Verônica, outro sentimento ocupava meu coração, como: saudade — saudade de uma vida que eu não vivi, de uma realidade que eu não conheci, mas nós tínhamos o agora, e a vida era curta demais para desperdiçar o presente pensando no passado.

— Então por que me abandonou? — questionei tentando não transparecer meus sentimentos confusos em relação a tudo isso. Verônica olhou em meus olhos e segurou firmemente minhas mãos.

— Eu pensei que estivesse morta! — revelou ela, seus olhos carregavam uma expressão triste ao relembrar a história. — Tinha apenas 16 anos quando fiquei grávida de você, quando meu pai descobriu ficou furioso! — Verônica fez uma pequena pausa, como se tentasse recuperar o fôlego, as lágrimas trilhavam suas bochechas.

— Eu estava prometida para outra pessoa, mas eu me apaixonei pelo seu pai, mas antes que eu pudesse contar sobre a gravidez, meu pai já tinha me isolado do mundo. — contou respirando fundo. — Minha mãe não pode fazer nada, meu pai era agressivo. Ele me levou para uma fazenda longe de tudo e no dia do parto, uma das empregadas teve que fazê-lo. — Verônica suspirou, conseguia sentir a dor em suas palavras.

— Mas o parto não foi nada doloroso, comparado a dor que eu senti quando ela disse que você nasceu morta. — foi quando ela desabou em um choro sofrido. Um nó se formou em minha garganta.

— Podemos parar se você quiser! — falei suavemente, a vi balançar a cabeça.

— Não! Eu estou bem! — afirmou regulando a respiração. Nathan havia saído para buscar água com açúcar para a madrasta. Depois de tomar um gole ela pareceu mais calma para continuar.

— Eu desmaiei logo depois que tive você e quando acordei a mulher que me ajudou disse que você não tinha resistido, mas foi tudo um plano do meu pai, ele sabia que eu nunca abriria mão de você. E isso estragaria os planos dele de me casar com um homem rico que ele tinha escolhido para mim. Eu burra cai na mentira. — lamentou devastada.

— E como descobriu que eu estava viva? — indaguei ainda tentando assimilar toda a história do meu nascimento. Verônica parecia falar a verdade, conseguia ver em seus olhos que ela jamais mentiria. E que eu sempre estive certa sobre ter esperança de que meus pais tinham bons motivos para o que fizeram, minha mãe sempre me quis, mas eu fui tirada dela.

Um acordo infalívelDonde viven las historias. Descúbrelo ahora