Capítulo oito

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Uma pequena brecha na cortina anunciava que a manhã de sábado já se fazia presente. Os dias pareciam mais curtos, como se a cada segundo o relógio nos roubasse mais tempo. Antes via a vida passar diante de meus olhos, tão rápido que se evaporava em um piscar de olhos, como água em um deserto escaldante. Mas pela primeira vez, não estou mais nos bastidores, agora sou a protagonista da minha história, com um namorado de mentira e um potencial namorado, por um momento era como se eu habitasse um dos meus livros de romance, só esperava não me apaixonar pelo homem errado.

Como leitora sempre sonhei em encontrar um garoto igual aos livros, estou a 22 anos esperando. Os únicos romances que havia vivenciado estavam trancados dentro de páginas, passei a vida amando palavras, folhas de papéis, que não aprendi a identificar esse sentimento no mundo real. Não tenho certeza se amo o Lucas ou é apenas capricho, mas quero tentar descobrir, preciso descobrir.

Por isso, hoje a tarde marcamos na biblioteca da universidade nosso primeiro encontro para estudar, meu coração palpitou só de pensar.

Pulei da cama, fiz minhas higienes e fui direto para cozinha. Antes passei pela gaiola do Pompom que tomava seu café da manhã, deixei um leve cafuné em seu pêlo branco, ele adorava.

— Bom dia, filha! — escutei a voz calma de meu pai. Me virei em sua direção.

— Bom dia, pai! — falei, lhe abraçando. Passei a visão pela cozinha, mas não encontrei minha mãe. — E a mamãe?

— Foi cedo para o café, dois funcionários faltaram hoje. Já estava indo para lá. — trocamos mais algumas palavras, meu pai avisou que minha mãe havia deixado algumas panquecas de chocolate para mim no forno. Despediu-se deixando um beijo em minha testa.

O café na cafeteira parecia gelado, meus pais costumam tomá-lo cedo pela manhã, e agora o relógio já marcava nove horas.

Meus pais acordam cedo, pois minha mãe precisa fazer as tortas e os pães quentinhos para a padaria do café, ela tem mais uma ajudante a Joana, uma confeiteira tão boa quanto minha mãe, as duas regulam de idade e são amigas desde a escola. Joana tem dois filhos crescidos e está em seu segundo casamento, perdeu seu primeiro marido quando seu primogênito começou a dar os primeiros passos, jurou que nunca mais amaria outra pessoa, mas juramentos são os mais difíceis de cumprir, ainda mais em conjunto com o para sempre. Mas ela encontrou o amor outra vez, mas tenho certeza que nunca esquecerá do primeiro. Temos sorte se acharmos um grande amor durante toda nossa vida, mas viver dois em uma só, é como jogar uma moeda em uma fonte dos desejos e ser atendida, é um milagre.

Aqueci o café e retirei as panquecas do forno, saboreei cada gota do líquido, um pouco mais amargo do que de costume, queria mais energia, então poupei no açúcar, apenas café bastava.

As panquecas com gotas de chocolate derretiam a cada mordida, o doce, com o amargo do líquido da xícara se encaixavam muito bem.

Mastigava lentamente, aproveitando cada pedacinho.

Quando terminei, tirei o prato e a xícara da mesa, colocando-os na pia.

Remanguei minha blusa para não molhar as mangas enquanto lavo a louça. Uma tarefa que apreciava muito, água escorrendo entre meus dedos me permitia pensar claramente, e com a playlist certa nada poderia deter Sofia Monteiro, meus pensamentos flutuavam feito fumaça em uma chaminé, contínuos e suaves.

Peguei meu celular e selecionei minhas músicas de Jazz preferidas, contendo as melhores do Frank Sinatra e Dean Martin.

Cantarolava um som que não condizia com a letra da música, sabia que era uma péssima cantora, minha voz se assemelhava a pneus derrapando no asfalto. Uma tragédia musical, era o que meu pai dizia, e ele tinha razão, como sempre.

Um acordo infalívelWhere stories live. Discover now