Capítulo 27: Diante dos seus olhos.

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A estação de trem na saída da cidade costuma ter grande movimentação durante o fim da manhã, aos poucos, enquanto as pessoas deixavam a estação, seguindo para a vila das cerejas, ou para outros destinos, a multidão se tornava menor, até a hora seguinte.

Serkan sabia que aquilo não era nada sensato, seguir pistas de uma carta anonima que dizia saber o paradeiro de sua filha desaparecida, e ressaltava que ele deveria ir sozinho, era uma mensagem clara de que algo estava errado. Mas a sensatez não importava naquele momento, porque ele era um pai, e qualquer chance que tivesse de encontrar sua filha, ele não deixaria passar, pularia de cabeça.

Entretanto, a cada passo que ele dava por entre a multidão agitada na estação de trem, a sua mente vagava para Eda, e Kiraz. Aquelas duas eram as pessoas mais importantes de sua vida, e não havia muito que ele não fizesse para o bem estar, e felicidade de ambas.

Amava Eda, com toda a fibra do seu ser, desde que a conheceu no campus da universidade, irritada e desbocada como nenhuma outra, a sua amizade era fácil, a sua risada cativante, a química indescritível, e a sensação plena de tê-la nos braços acalmaria qualquer mente atormentada. Eda e Serkan perderam tanto tempo, cinco anos longe um do outro, e desde que se reencontraram os momentos a dois eram poucos, mas não menos valiosos. Queria dizer a ela que seu coração batia por ela, que nunca deixou de pensar nela, mesmo com a distância.

E havia Kiraz, a garotinha mais encantadora do mundo, adorava ouvi-lá contar suas histórias, e fazer seus shows de mágica, e tê-lo enrolado na pontinha dos seus dedos, que qualquer coisa que ela pedisse, ele faria. Daria a ela a lua, e todas as estrelas, se assim ela desejasse. Kiraz era uma parte do seu coração.

Sentou-se no banco de madeira, checou a hora no relógio de pulso, e aguardou.

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As galochas de Kiraz tinham manchas de lama, que iam até a barra da jardineira jeans que usava, havia um chapéu preto em sua cabeça, que era grande demais para ela, cobria parcialmente o seu rosto, o homem desconhecido segurava a sua mãozinha firmemente, a guiando por entre a multidão até uma das cabines do trem.

- Cadê meu papai? - Kiraz perguntou. O homem não se deu ao trabalho de respondê-la, erguendo a menina pelas axilas, e a colocando sentada no banco de couro marrom. - Me solta! - Kiraz chiou. - Você disse que eu ia ver meu papai.

- Você vai ver o seu pai, agora fique bem quietinha. - Mandou, e ela cruzou os braços, emburrada.

- Eu quero ver o Serkan Bolat, me leva para ele, agora! - Pediu, soando irritada.

- Cale a boca. - Ele ordenou, em tom severo, fazendo-a recuar no banco.

O homem checou a hora no relógio de pulso, e se inclicou para olhar pela janela, boa parte dos transeuntes já tinha embarcado, ou ido embora, iria acontecer a qualquer momento. Percebendo o seu momento de distração, Kiraz pulou do banco, e correu para fora da cabine, se esgueirando por entre os passageiros, até chegar na saída. Desceu os degraus, e olhou por sob os ombros, notando o desconhecido atrás dela, e passou a correr mais depressa, jogando o chapéu que cobria a sua cabeça para longe.

- Volte aqui. - O homem disse, alcançando-a e segurando seu braço. Kiraz gritou, tentando se soltar do seu aperto.

- Me solta! - Pediu.

- Fique quieta! - Ele disse, segurando seus braços. - Você tem que ficar quietinha no trem, o seu pai vai te encontrar lá.

- Eu não quero. - Kiraz chorou. O homem suspirou.

- O seu pai está aqui, está bem? E eu preciso que você fique segura no trem. - Disse. Kiraz suspirou para controlar o choro, e assentiu, aliviado, o homem a soltou e ficou de pé, aproveitando seu momento de distração, ela tornou a correr.

Serkan levantou-se do banco, e caminhou até a faixa de proteção próximo ao trem, observando qualquer sinal de que pudesse haver algo diferente ali, foi quando avistou Kiraz correndo em sua direção.

- Kiraz? - Ele disse, caminhando para alcançar a menina.

- Serkan Bolat! - Ela gritou quando o viu, se lançando em seu colo. Serkan a abraçou firmemente, sentindo como o seu coração batia acelerado, a sua respiração estava curta, e rápida.

- Está tudo bem, você está segura. - Ele disse, afagando as suas costas carinhosamente, até que a sua respiração se tornasse mais calma. - O que aconteceu? - Perguntou, afastando-a o suficiente para visualizar o seu rosto.

- Um homem disse que ia me levar para o meu pai. - Contou. - Ele me colocou no trem, e gritou comigo. - Kiraz tornou a abraça-lo.

Serkan a segurou firmemente no colo, e beijou sua cabeça, antes de ficar de pé. As palavras de Kiraz se encaixando em sua cabeça como um quebra cabeça, peça por peça.

A pista que o levava até a sua filha, era na verdade uma armadilha, mas Kiraz estar na mesma estação não podia ser uma coincidência. Alguém estava planejando algo para ambos, e ele tinha quase certeza de quem era.

Semiha Yıldırım.

Serkan entendia que a senhora nunca gostou muito dele, e o queria o mais longe possível de Eda, mas por qual motivo ela tentaria mandar Kiraz para longe?

A única explicação possível para isso fazia o seu coração pular no peito. Era possível que a sua filha esteve diante dos seus olhos durante todo esse tempo, e ele nunca notou?

O trem partiu, restando apenas algumas pessoas na estação, e Serkan soube que precisava sair dali, e levar Kiraz de volta para casa.

- Você está bem? - Disse, encostando sua testa na dela, que assentiu, deitando em seu ombro. - Hadi, vamos embora.

O som estridente de um disparo fez Kiraz gritar, e Serkan a segurou mais firme no colo, se abaixando como as outras pessoas que ainda restavam na estação, vieram dois disparos em seguida, e então, o silêncio.

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Oi, gente! Passando pra deixar esse capítulo pra vocês, e agradecer muito por terem paciência comigo, e não desistirem de Vila das cerejas. Obrigada por cada comentário, e voto, isso me deixa muito feliz. Desejo a vocês um ótimo natal, e um próspero ano novo.

Nos vemos. ❤

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