Cartas não lidas

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Cardan e eu estamos deitados na cama, sinto sua respiração no meu pescoço enquanto ele passa os dedos compridos na pele nua da minha cintura, estou de costas para ele e Cardan está colado à mim.

— Eu não esqueci do que você me disse no dia que nos reencontramos, enquanto me passava por Taryn. — Digo olhando para o sol se pondo através das janelas do quarto.

— O quê? — Ele para por um instante com os movimentos dos dedos, mas logo retorna.

— Me perguntou se tinha lido suas cartas. — Me viro para encarar-lo.

— Ah, sobre isso. — Ele tenta se esquivar do assunto, mas procuro seus olhos o pedindo que me encare.

— Você realmente escreveu cartas para mim?

— Sim, escrevi. — Não consigo conter o sorriso que se forma em meu rosto ao ouvir isso, mas vejo um lampejo de vergonha em seus olhos, mal consegue olhar para mim, então o desmancho na hora.

— E o que dizia nas cartas? — Digo com curiosidade sincera.

— Apenas declarações bobas e bêbadas feitas em fim de festas e dias solitários, você não iria querer ler mesmo. — ele se vira para o outro lado para não ver minha expressão, mas me encaixo a ele pondo minha cabeça por cima de seu ombro e o abraçando por trás.

— Na verdade gostaria muito de ter lido, todas elas, não lembra de nenhuma, para me dizer? — Cardan congela e arregala os olhos, acho que ele não esperava que fosse pedir isso.

— Eu lembro de uma, mas prefiro não falar, se não se importa, é muita humilhação.

— Não é humilhação — digo, fazendo ele se virar para mim, para que eu possa olhar nos seus olhos — eu não queria admitir, mas também pensei em você todo aquele tempo do exílio, era a primeira coisa que pensava quando acordava e a última quando ia dormir, em como finalmente tinha começado a confiar em você, que talvez estivesse gostando de verdade de você, mas que tinha sido apenas um truque seu — suspiro, é um esforço muito grande dizer essas palavras para ele, mas sinto que precisam ser ditas — não escrevi cartas para você, porque estava magoada, mas também porque era orgulhosa demais para admitir que sentia sua falta, mas se você não foi um tolo como eu e escreveu cartas para mim, que eu nunca li, gostaria de saber o que estava escrito nelas.

Cardan solta um longo e pesado suspiro, deita de costas e encara o teto, por um momento acho que não irá falar nada e simplesmente ignorar tudo que disse, mas ele começa a falar, ou melhor recitar uma de suas cartas.

Volte para casa.
Volte para casa e grite comigo.
Volte para casa e brigue comigo.
Volte e quebre meu coração, se assim desejar.
Apenas volte para casa.

Não consigo conter as lágrimas ao ouvir isso, nunca pensei em como Cardan se sentiu com meu exílio, estava com raiva demais, mas ouvi-lo dizer essas palavras corta meu coração.

Sem conseguir dizer nada, me aproximo e o beijo, é um beijo doloroso, por todo esse tempo que passamos separados, mas também é doce, por finalmente estarmos juntos.

— É lindo, Cardan — sussurro em sua boca — queria ter lido isso.

— Me... me desculpe por ter feito você passar por isso, não agi da maneira mais correta.

— Tudo bem, nós dois erramos, mas estamos juntos agora, é o que importa, e estou feliz com isso.

Ele me pressiona contra seu peito me trazendo mais para perto e deixa um beijo em minha boca.

— Também estou feliz — diz com um sorriso torto.

— Mas temos que falar sobre as frases volte para casa e grite comigo; volte para casa e brigue comigo. — digo rindo e tentando imitá-lo.

— Como eu disse estava bêbado e tolo, não leve isso tão a sério.

— Ah eu vou levar sim, toda vez que quiser gritar com você vou lembrar dessas palavras e vou realmente gritar com você.

— Você faria isso mesmo não sabendo dessas palavras.

— Isso é verdade, mas poderei esfregar na sua cara que você mesmo pediu por isso.

Cardan fica sério de novo e me olha profundamente nos olhos.

— Vale a pena para ter você aqui comigo.

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