XXIV. Aniversário

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— Alguém o deixou em meu quarto.

Taehyung estava com uma quase dor de consciência por estar omitindo informações cruciais.

— Simplesmente... Deixaram? Tem certeza que ninguém esqueceu lá?

— Estava sobre a cama. Parecia bem intencional.

Ela olhou de esguelha para o objeto da conversa. Mesmo embaixo da luz fraca da casa — que não tinha tantas tochas acesas como na casa dos Jeons — o âmbar das pedras brilhava como um pequeno sol.

— Quem daria algo assim a um servo?

Taehyung segurou a língua. Teve uma súbita vontade de defender-se, de dizer que ele merecia ter coisas boas. Ele não sabia de onde vinha aquele desejo e o que tinha mudado, mas ignorou o impulso de replicar. Não era hora para pensamentos existenciais, também.

— Deve ser de segunda mão. Você sabe como é a nobreza... Isso para eles não é nada muito valioso.

O olhar de sua tia ainda exalava desconfiança, e ela continuava a correr uma análise por Taehyung de maneira sistemática. Em algum momento, ela voltou a romper o silêncio.

— Amanhã vou encomendar frutas secas! Você tem alguma preferência?

***

Com movimentos vigorosos, Jeongguk limpou o solado de suas botas no capacho da entrada para seu escritório. Tentava remover um pouco da lama do calçado, mas era inútil: com a neve intensa e as idas e vindas que fazia entre o escritório e o cais, o tapete já estava encharcado demais para ter muita utilidade.

Toda sua andança só externalizava a inquietação que sentia. Era véspera do aniversário de Taehyung e o alfa não conseguia desfocar do fato.

Taehyung havia chegado bem? Como a tia tinha lhe recebido? Ela sabia que ele voltaria para casa durante esses dois dias?

Estava convencido que só alcançaria a paz quando verificasse como ele estava por conta própria, mas não saberia explicar uma visita a Taehyung. O beta poderia achar invasivo ou, pior ainda, pensar que Jeongguk estava buscando que trabalhasse durante os dias de dispensa combinados.

Jeongguk usou os problemas do porto como distração. E a lista era imensa, suficiente para fazer as horas voarem.

No inverno, era comum que navios fossem saqueados logo em sua entrada em Ealathia. Torvald, um alfa de cabelos ruivos grossos que trabalhava ajudando a descarregar mercadorias dos navios, aparecera no fim do expediente para relatar um dos roubos.

— Quanto eles perderam?

— Algumas sacas de arroz. Levaram alguns cobertores do navio também.

Jeongguk assentiu. Ele abriu uma gaveta barulhenta e pegou mais algumas folhas de papel. Escreveu um recado com pinceladas precisas.

Quando os saques aos navios eram expressivos, Jeongguk não tinha muito poder para não prender os culpados. A sua reputação e a reputação dos negócios dos Jeons iriam ao fim se ele não reagisse.

Mas quando eram pequenos saques, de alguns mantimentos...

Jeongguk deixava. Para todos, sempre que acontecia, ele dizia que a razão era econômica. Que não valia o custo de aumentar a vigilância nos portos para perdas tão pequenas.

Todavia, na realidade, Jeongguk não via como certo negar o acesso a coisas que as pessoas precisavam para subsistência. O inverno era rigoroso e sofrido, e ele não tinha como punir alguém por querer sobreviver.

Servante (jjk + kth) (ABO) - ConcluídaWhere stories live. Discover now