A DIFERENÇA ENTRE GARANTIA E CONFIANÇA

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Jovem: Algo nesta “resignação afirmativa” me soa pessimista. É deprimente pensar que o resultado de toda esta discussão prolongada é a resignação.

Filósofo: Você acha? A resignação requer que você enxergue a situação claramente, com força e aceitação. Ter uma compreensão firme da verdade das coisas: isso é resignação. Não há nada de pessimista nisso.

Jovem: Uma compreensão firme da verdade...

Filósofo: Claro que, só porque você chegou à resignação afirmativa como sua autoaceitação, isso não significa que automaticamente encontrou a sensação de comunidade. Esta é a realidade. Quando você está mudando do apego ao eu para a preocupação com os outros, o segundo conceito-chave – confiança nos outros – se torna absolutamente essencial.

Jovem: Confiança nos outros. Em outras palavras, acreditar nos outros?

Filósofo: Vamos examinar a expressão “acreditar nos outros” pensando na diferença entre garantia e confiança. Primeiro, quando falamos de garantia, nos referimos a algo que vem com condições preestabelecidas. Isso está associado ao crédito. Por exemplo, quando alguém quer pedir um empréstimo no banco, precisa oferecer uma garantia. O banco calcula o empréstimo com base no valor da garantia e diz: “Nós emprestaremos tanto.” A atitude de quem diz “nós emprestaremos sob a condição de que você devolverá” ou “nós emprestaremos tanto quanto você consiga devolver” não é de confiança em alguém. Envolve uma garantia.

Jovem: Bem, é assim que funciona o financiamento bancário.

Filósofo: Por outro lado, do ponto de vista da psicologia adleriana, a base dos relacionamentos interpessoais não é a garantia, mas a confiança.

Jovem: E o que significa “confiança” nesse caso?

Filósofo: É agir sem quaisquer condições preestabelecidas quando se acredita nos outros. Mesmo sem motivos objetivos suficientes para acreditar em alguém, você acredita. Acredita incondicionalmente, sem se preocupar com garantias. Isso é confiança.

Jovem: Acreditar incondicionalmente? Então voltamos à sua ideia tão adorada do amor ao próximo?

Filósofo: Claro que, se alguém acredita nos outros sem impor nenhuma condição, vai haver ocasiões em que será passado para trás. Assim como o avalista de uma dívida, há ocasiões em que você pode sofrer prejuízos. A atitude de continuar acreditando em alguém mesmo nesses casos é o que chamamos de confiança.

Jovem: Só alguém ingênuo faria isso. Acho que você acredita na bondade humana inata, enquanto eu acredito que o ser humano é mau por natureza. Se você acreditar incondicionalmente em estranhos, vão usar e abusar de você.

Filósofo: E também há ocasiões em que você é enganado, usado.
Mas veja do ponto de vista de alguém que foi passado para trás.
Certas pessoas continuarão acreditando em você incondicionalmente mesmo que você as tenha passado para trás, não importa como são tratadas. Você seria capaz de trair uma pessoa que faça isso repetidas vezes?

Jovem: Não. Isso seria...

Filósofo: Tenho certeza de que você teria muita dificuldade em fazer isso.

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