AS PESSOAS NÃO CONSEGUEM USAR O EU APROPRIADAMENTE

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Jovem: Então eu devo dar o primeiro passo?

Filósofo: Sim. Sem levar em conta se as outras pessoas sãocooperativas ou não.

Jovem: Tudo bem, vou perguntar de novo. "As pessoas podemser úteis simplesmente estando vivas e tendo uma sensação real de seu valor." Éisso que você está dizendo?

Filósofo: É.

Jovem: Bem, não sei. Eu estou vivo, aqui e agora. O meuverdadeiro "eu" está vivo bem aqui. Mesmo assim, não sinto que tenha valor.

Filósofo: Pode descrever por que você não sente que temvalor?

Jovem: Suponho que seja por causa daquilo que você vemchamando de relacionamentos interpessoais. Desde a infância, todos à minhavolta sempre fizeram pouco de mim, especialmente meus pais, dando a entenderque eu era um péssimo irmão caçula. Eles nunca tentaram me dar o devidoreconhecimento pelo que sou. Você diz que o valor é algo que você atribui a simesmo, mas isso não funciona na prática. Por exemplo, na biblioteca ondetrabalho, minha função é basicamente separar os livros devolvidos e colocálosde volta nas estantes corretas. Um trabalho rotineiro que qualquer umconseguiria fazer com treinamento. Se eu deixasse de ir ao trabalho, meu chefenão teria dificuldade em achar um substituto. Sou necessário apenas para otrabalho não qualificado que presto, e não importa se sou "eu" quem estátrabalhando lá ou se é outra pessoa – ou, aliás, uma máquina. Ninguém estásolicitando "este eu" em particular. Com um histórico desses, você conseguiriater autoconfiança? Conseguiria ter uma sensação real de valor?

Filósofo: Do ponto de vista da psicologia adleriana, aresposta é simples. Em primeiro lugar, desenvolva um relacionamento horizontalentre você e outra pessoa. Basta um. Comece daí.

Jovem: Por favor, não me trate como um bobo! Eu tenhoamigos e desenvolvo relacionamentos horizontais sólidos com eles.

Filósofo: Mesmo assim, suspeito que, com seus pais, seuchefe, seus colegas de trabalho mais novos e outras pessoas, você estejadesenvolvendo relacionamentos verticais.

Jovem: Claro, tenho diferentes tipos de relacionamentos. Éassim com todo mundo.

Filósofo: Esse é um ponto muito importante. A pessoadesenvolve relacionamentos verticais ou relacionamentos horizontais? É umaquestão de estilo de vida, e os seres humanos não são espertos a ponto deconseguir ter estilos de vida diferentes disponíveis sempre que precisem mudar.Em outras palavras, decidir que você é "igual a essa pessoa" ou está "em umrelacionamento horizontal com essa pessoa" não funciona.

Jovem: Você está dizendo que é preciso optar entre umacoisa e outra: ter apenas relacionamentos verticais ou ter apenasrelacionamentos horizontais?

Filósofo: Com certeza. Se você desenvolve ainda que um sórelacionamento vertical, antes que perceba estará tratando todos os seusrelacionamentos interpessoais dessa forma.

Jovem: Então até os relacionamentos com meus amigos sãoverticais?

Filósofo: Isso. Mesmo que não seja uma relação do tipo "chefee subordinado", é como se você estivesse dizendo: "A estáacima de mim e B está abaixo de mim", "Vou seguir o conselho de A mas ignorar oque B diz" ou "Não vejo problema em quebrar minha promessa com C".

Jovem: Humm...

Filósofo: Por outro lado, desenvolver um relacionamentohorizontal com ao menos uma pessoa – um relacionamento de igualdade no sentidoreal do termo – promove uma grande transformação no estilo de vida. Com essaconquista, aos poucos seus relacionamentos interpessoais se tornam horizontais.

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