C.78 - Minha motivação

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ÍSIS

Dez dias depois...

Não é como se não doesse mais, é que a cada dia dói menos. A saudade é sempre a mesma e as vezes até maior do que gostaria, mas aquela raiva e tristeza extremamente profunda, que me estagnava, me impedia até de conseguir dar um único sorriso no dia, elas estão começando a se dissipar. A carta que Inês deixou para mim, foi como a despedida final, como o ponto final que eu precisava ter para conseguir alcançar aquela luz no fim do túnel que me dá esperança para saber que é possível seguir em frente e a terapeuta concordou com isso.

Claro que essa minha melhora não é súbita e nem algo individual, eu venho recebendo muita ajuda, assim como meu pai também, que até preferiu ficar na fazenda esses dias, enquanto ocorre todo o processo de venda da sua casa e compra de uma nova. Alexandre é meu parceiro de todas as horas, que não mede esforços para me ver bem, me ajuda com tudo, Mel também tem sido fundamental com seus conselhos, ela e José me ajudam muito a enxergar a perda além apenas da dor. Também tem a psicóloga, que tem dias que eu admiro muito por sua competência e outros que eu não quero nem ver a cara dela, mas ela está me ajudando a lidar com o luto, sem fugir dele, mas sem me afundar nele também.

Os meus pesadelos pararam, mas eu ainda acordo no meio da noite e perco o sono. Na maioria das vezes fico quieta e deixo Alexandre descansar, mas as vezes, com um mínimo movimento meu ele desperta e já fica preocupado, mesmo que eu tente o tranquilizar de que estou bem. Posso dizer que estou melhorando aos poucos, acordo mais disposta e durmo menos deprimida sempre que chegamos ao apartamento. Meu braço ainda dói um pouco, mas está melhorando, cicatrizando devagar e tenho que pegar leve para não correr o risco de romper os pontos novamente.

Mas a nossa maior felicidade mesmo, foi receber a notícia de que Lukas saiu da intubação e já está conseguindo respirar sozinho. Assim que soubemos, fomos correndo para o hospital e chorei de emoção ao ver ele sem aquele monte de aparelhos o rodeando e com o rostinho livre do tubo. Ficamos babando nele, enquanto a médica fazia todas as avaliações e confirmava que ele estava bem, estável, mas pela prematuridade, iria ficar mais um tempo no berçário para observarem o seu progresso e também só receberia alta depois que começasse a ganhar um peso limite ideal para sua nutrição, crescimento e fortalecimento, por isso, ele continuaria por aqui por alguns dias, mas o bom é que poderíamos vê-lo a qualquer momento.

Alexandre se derreteu inteiro e eu mais ainda, quando ele foi acariciar a mãozinha Lukas e ele agarrou o seu indicador, prendendo seu dedo, o segurando ali, sem soltar, como se quisesse sentir a presença. Depois, fez o mesmo comigo. O nosso pequenino está querendo manter contato.

Apesar de ser prematuro, Lukas era um bebê grande, mas por ter ido para a UTI logo após o nascimento, ele nunca foi amamentado, nunca teve a experiência de mamar. Por isso, a enfermeira vem com uma mamadeira bem pequena, que tem um bico especial, que simula o que seria o peito da mãe, e dá para ele, fazendo massagem nas bochechinhas para ensiná-lo a sugar. Começamos a sorrir com a caretinha que ele fez ao provar o leite, que era do banco de leite do hospital, pois a médica informou que ele só estaria autorizado a ingerir fórmula, depois que recebesse alta e seria uma específica, orientada por ela, própria para ele, para que não agredisse seu sistema.

No dia seguinte, viemos vê-lo novamente e então Alexandre teve oficialmente o primeiro contato com ele, quando o pegou no colo e sentou na poltrona, com ele descansando no seu peitoral, enquanto eu ficava babando nos dois. Sentei no apoio para o braço da poltrona e fiquei acariciando aquele corpinho pequeno, em contraste com o corpo gigante que ele estava apoiado. Começamos a sorrir, quando vimos que ele parecia estar sonhando e sorrindo, enquanto dormia.

ALEXANDRE FERRARI IIWhere stories live. Discover now