Verão - primeira parte

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Liam sempre fechava a janela de seu quarto. Desde que demoliram o prédio ao lado do seu para transformar o grande terreno em um hospital, era como se nos últimos dois anos Liam não tivesse mais paz.

A janela de um dos cômodos do hospital sempre ficava aberta. Não era uma das salas de emergência ou coisa parecida. Nunca dera uma boa olhada, mas Liam pelo menos sabia que estava livre das máquinas bipando e das mulheres tendo filhos. A sala parecia apenas algum tipo de cafeteria, onde os pacientes podiam passar um tempo e comer, conversar, encontrar com parentes e amigos...

E o problema era exatamente essa conversa. Isso, e outros barulhos como alguém com dor por um osso quebrado ou até mesmo coisa pior. Liam não queria saber. Tinha horror a hospital. Não colocava os pés em um desde o acidente.

Por isso a sua janela estava sempre fechada.

De qualquer maneira, Liam estaria logo saindo da cidade. Já tinha dezoito anos e em algum tempo estaria se mudando para um flat mais perto da futura faculdade, que ficava pelo menos quatro horas longe de onde morava atualmente.

"Meu Deus, Liam." Seu amigo Louis disse enquanto abria a maldita janela. "Que calor!"

"Eu não aguento aquele lugar, Louis." Liam suspirou enquanto procurava os resultados do jogo do dia anterior em seu computador.

"Não escuto nada." Louis disse sentando-se na cama de Liam e colocando a cara pra fora da janela. Já tinha ouvido Liam reclamar daquele lugar por horas. "Não tem ninguém na cafeteria do hospital."

"Mas logo terá. Principalmente na hora do jantar." Liam bufou clicando em um dos links. "Viu?" Ele apontou para a tela, o que ajudou a mudar de assunto. "Alemanha marcou sete gols. Pode me pagar!"

Seu amigo foi correndo em direção ao computador para checar e soltou um grunhido.

"Eu te odeio." Falou enquanto alcançava sua carteira e tirava de lá uma nota de cinco. Liam apenas mostrou um sorriso largo.

"E eu me amo." Levantou-se da cadeira assim que desligou a tela do computador. Foi até o seu armário e retirou seu casaco de lá, conferindo o horário no relógio de pulso. Os dois deveriam correr até o restaurante antes que seu chefe descobrisse que estavam matando tempo.

Já lá fora, Liam escorregou no banco do passageiro na lata velha de Louis. Não tinha ideia da razão de o menino ser tão apegado àquele carro, mas Liam não iria começar aquela discussão novamente. Invejava a força de vontade que Louis tinha quando era para manter alguma coisa. Ele mesmo mal estava conseguindo manter-se naquela cidade por mais tempo. Ou naquele emprego.

Quando chegaram ao restaurante, seu patrão não parecia furioso e nem soltava fogo pelas ventas. Na verdade, nem notara a chegada de Liam e Louis enquanto falava no telefone na área aberta do restaurante onde os fumantes geralmente ficavam.

A conversa era abafada pelo vidro, mas podia imaginar que não era nada bom. Parecia frustrado com alguma noticia e Liam teve que fingir que não viu as lágrimas que o homem limpou rapidamente.

Liam colocou seu avental de trabalho e trocou um olhar com Louis. Seja lá o que for, Liam tinha que deixar de lado pelo momento e começar a trabalhar.

O trabalho de Liam como garçom não era ruim. Pelo contrário, Liam gostava das pessoas daquela cidade: sempre educadas e prontas para ajudar. Sempre mantendo a rua limpa e tendo certeza de que todas as latas de lixo estavam sinalizadas.

Liam apreciava tudo que faziam. De verdade. Mas aquele não era o seu lugar. Queria sonhar alto, ir pra faculdade, se apaixonar, ser biólogo marinho ou largar tudo e ser um astro do rock. Liam queria surpresas em sua vida. Mas também precisava de dinheiro.

Stay (ziam)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora