𝘗𝘳𝘰𝘭𝘰𝘨𝘶𝘦.

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Perfeição. Era isso que todos assistiam no Teatro da Broadway quando Natasha Romanoff executava com perfeição os passos do ballet dramático do Lago dos Cisnes. A maquiagem escura destacava o azul de seus olhos, que brilhavam com a iluminação do teatro. Não havia um par de olhos que não estivesse preso em Natasha aquela noite, sua beleza e esplendor faziam os demais bailarinos, tão belos quanto a bailarina russa, parecerem meros figurantes naquela noite.

Uma salva de palmas ecoou no enorme teatro quando a orquestra parou de tocar e a ruiva finalizou seus passos em uma pose perfeita. Tudo estava perfeitamente esplêndido, exatamente como a bailarina imaginou ao longo de seus árduos ensaios. Olhou de relance para o lado e não pôde evitar de sorrir ao ver o brilho nos olhos de Yelena Belova, sua irmã.

Poderia ser facilmente transportada para a época que afastavam os móveis da sala de sua casa em São Petesburgo e rodopiavam despreocupadas com o mundo ao seu redor, como se só existissem as duas em todo o mundo.

Natasha descobriu naquela noite que o paraíso pode se transformar em inferno em questão de segundos. No bater de asas de uma borboleta, ou no puxar de gatilho de uma pistola automática.

Uma figura conhecida pelas irmãs se levantou no meio da platéia, com os olhos carregados de raiva e um coração tomado de frustração. Bruce Banner nunca soube lidar com seus ataques de raiva, talvez essa tenha sido a razão que Natasha rompeu o noivado. No meio do som dos aplausos o barulho de quatro disparos se fez presente. As pessoas se escondiam embaixo dos acentos, os bailarinos deixavam o palco apressados enquanto a acústica do teatro ressoava os tiros.

Um disparo, e um garoto platinado ao lado de Natasha caiu duro no chão. Dois disparos, e a ruiva poderia jurar que sentiu o vácuo da bala em seu rosto. No terceiro disparo, sentiu uma mão puxar seu pulso para baixo. Era Yelena, com os olhos tão assustados quanto o seu. Tentou correr, ela realmente tentou. Mas pela primeira vez seu corpo a traiu. Não conseguiu mover um músculo para deixar o palco. Sempre reagiu dessa forma em situações de pânico, ficava paralisada vendo o perigo cada vez mais perto. E sempre que isso acontecia sua irmã estava lá para ela. E seria sempre assim.

Seria.

O quarto disparo fez o mundo ao redor de Natasha ficar no mudo. Bruce acertou sua irmã, bem diante de seus olhos. O sangue escarlate manchou a fantasia branca de Yelena, fazendo suas pernas perderem a força. Natasha caiu de joelhos ao lado da irmã, os olhos embaçados apenas puderam ver o vulto de Bruce cair ao ser acertado por um tiro vindo da polícia. O inferno havia acabado. Mas para Natasha, só estava começando.

— Yelena... T-tá tudo bem! A ambulância está vindo, eles vão cuidar de você, eu prometo. — Sua voz não saiu mais que um sussurro, mas soube que foi o suficiente para Yelena ouvir.

— Eu vou... Eu vou ficar bem. — Natasha não soube definir o que Yelena quis dizer. A mais nova sempre foi otimista, mesmo nas situações mais adversas. — Natasha... Segura a minha mão. Eu estou com medo. Mas não se preocupa, eu vou ficar bem, tá? Nó-nós duas vamos.

— Eu não vou segurar sua mão porque você não está morrendo. — A ruiva disse ríspida, mas qualquer um que a conhecesse saberia que havia muito mais medo do que qualquer outra coisa em suas palavras.

— Nat... Por favor... — Yelena se engasgou em seu próprio sangue, uma imagem que não sairia da mente de Natasha tão cedo. As lágrimas se formavam no canto dos olhos da mais nova, o brilho em seus olhos se transformavam em medo.

— Eu preciso de uma ambulância aqui! — Barton, como estava escrito no crachá de identificação do policial que alvejou Bruce bradou pelo teatro.

— Eu te amo. — Natasha caiu sobre o corpo da irmã, encostando suas testas enquanto apertava sua mão. — Eu não sei o que fazer.

— Tudo bem. Não precisa fazer nada, a culpa não é sua. Eu vou ficar bem, lembra? Espero...  Que você também.

O aperto nos dedos de Natasha afrouxou. O sutil sobe e desce do peito de Yelena parou, junto com uma solitária lágrima que desceu pelo rosto da loira. Um grito desesperado deixou a garganta da ruiva. Desespero. Era isso que a russa sentiu ao ver sem sucesso os médicos tentarem reanimar sua irmã. Nada parecia ser real. O corpo no saco preto não parecia ser real. Era um pesadelo, e logo ela seria acordada por Yelena para comprar um café industrializado que a mais nova tanto gostava.

Deixar o teatro pareceu tão pior quanto ficar ali. Repórteres gravavam reportagens na porta de Broadway, a ambulância ainda estava com as luzes acesas e os flashes dos profissionais e curiosos que tentavam captar o horror em suas lentes faziam sua cabeça rodar.

"Segundo testemunhas, quatro disparos foram dados antes do atirador tirar a própria vida..." Uma repórter loira dizia.

"... A informação que o atirador se suicidou não procede. Um dos policiais o imobilizou com um disparo, mas o mesmo passa bem."  Um baixinho levemente acima do peso estava claramente mais bem informado que a loira, Natasha pensou.

"...Deixando duas vítimas fatais, ambos bailarinos da academia russa de Vaganova..." Outro dizia.

O choro desesperado de uma mulher que era amparada por um homem alto chamou sua atenção. Não era estranha para os seus olhos, mas naquele momento era incapaz de reconhecer qualquer coisa.

"Pietro Maximoff e Yelena Belova foram confirmados como as vítimas do atirador."

Yelena Belova e Pietro Maximoff. Vítimas fatais. Mortos. Repetir esse pensamento fez seus olhos arderem. Uma avalanche de repórteres veio em sua direção assim que a reconheceram. Não respeitaram sua dor. Não respeitaram o limite imposto pela polícia. Não respeitavam nada. Apenas queriam um clique, uma palavra de seus lábios.

— Vocês estão invadindo uma área restrita da polícia. Saiam! Vamos, ou irei indiciar todos vocês! - Clint Barton se pôs ao lado de Natasha, abrindo caminho pela multidão. A ruiva seria eternamente grata por isso. Foi guiada até uma das viaturas, ficando pela primeira vez sozinha em seus pensamentos.

O silêncio da viatura foi quebrado com Clint abrindo a porta da frente, sentando-se ao lado de Laura, a oficial que estava no volante da viatura preta. Nenhum dos dois disse uma única palavra, apenas mantiveram o olhar na estrada até o caminho da delegacia. Seria uma longa noite.

Do lado de fora da viatura, Wanda Maximoff desabava nos braços de Visão, seu noivo. Tentava a todo custo chegar até a maca que o corpo alvejado de Pietro Maximoff estava. Ela precisava ver com seus olhos que o garoto platinado estava realmente morto. Poderia ser um delírio, repetia a si mesma.

Talvez Pietro conseguiu correr mais rápido que as balas disparadas pelo assassino. Mas não foi isso que seus olhos presenciaram. Tudo que viu foi o corpo de seu irmão gêmeo cair no palco como um manequim, sem vida, oco. Depois disso, suas memórias se tornaram um completo borrão.

— Wanda, querida. Precisamos ir. — Visão murmurou próximo de seu ouvido.

— Nós iríamos envelhecer juntos.

— Vamos. — Gentilmente, Visão guiou sua noiva até seu carro. Controlou as mãos trêmulas e a vontade incessante de chorar ao entrar no veículo vermelho.

— Nós... Iríamos envelhecer juntos. — Wanda apertou as próprias mãos, olhando pela janela do carro.

O homem nada disse. Sentia que se tentasse pronunciar uma única palavra as lágrimas que estava segurando escaparia de seus olhos, e nesse momento precisava ser forte pela mulher que escolheu para amar. Vagarosamente, Visão dirigiu até a delegacia para prestarem depoimento. Era como se estivessem sob efeito de uma anestesia. Nada daquilo parecia real.

Wanda não queria que aquilo real.

𝙜𝙧𝙤𝙬 𝙤𝙡𝙙 𝙬𝙞𝙩𝙝 𝙢𝙚 - 𝘸𝘢𝘯𝘵𝘢𝘴𝘩𝘢Where stories live. Discover now