Vinte

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Encontro Laryssa sentada na margem do lago. Sem fazer barulho, me aproximo e sento-me ao seu lado, sentindo a maciez da grama sob meus tênis. O lugar ainda era o mesmo. Eu consigo me ver ali mais novo ao lado dela e de Ítalo, enquanto jogávamos truco numa tarde de domingo qualquer, antes que minha mãe aos gritos nos chamasse para dentro para almoçar. A oliveira onde tanto me sentei para aproveitar a sombra, estava ali mais a frente. Rapidamente me recordo do dia anterior ao inicio das aulas, quando eu ainda não havia conhecido os olhos azuis de Tiago e não imaginava onde e em qual situação eu estaria nesse momento. 

Eu me viro para encará-la, mas ela não corresponde ao meu olhar. Seus olhos parecem estar em algum lugar distante, e seu rosto está tão inexpressivo que é como se ela estivesse em um estado de transe. Sua postura é curvada, como se estivesse sentindo o peso do mundo todo sobre seus ombros. Ela tira um isqueiro e um cigarro do bolso, e acende-o, levando-o lentamente até seus lábios. Ela dá uma longa tragada, e a fumaça sai lentamente por suas narinas, como se estivesse tentando afastar a dor que a atormenta. Suas pálpebras caem e ela fica em silêncio por um longo momento, até que uma única lágrima escorre silenciosamente pelo seu rosto, carregando consigo toda a dor e tristeza que ela tem tentado esconder.

O ar ao redor de nós também parecia estar carregado de uma tristeza profunda e sufocante, que pesava sobre nossos ombros como um manto escuro e sombrio. Eu não conseguia deixar de notar como ela parecia tão perdida e desesperada naquele momento.

Seus olhos, normalmente tão vivos e selvagens, agora estavam vazios e sem brilho, como se ela estivesse lutando para encontrar uma luz no fim do túnel escuro e interminável em que se encontrava.

O sol estava se pondo no horizonte, pintando o céu com tons dourados e avermelhados que pareciam combinar com a tristeza que permeava o ar. O som do lago, que normalmente era calmo e pacífico, agora parecia inquieto e agitado, como se estivesse refletindo a agitação que Laryssa sentia dentro de si.

Ela puxou o cigarro novamente, tragando profundamente e soltando a fumaça em pequenos suspiros tristes. Eu sentia a minha própria impotência crescer, sabendo que não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-la a sair daquele lugar escuro em que se encontrava.

Uma segunda lágrima escorreu pelo seu rosto, e eu senti o meu coração se partir em mil pedaços. Eu queria desesperadamente abraçá-la e confortá-la, mas eu sabia que não poderia fazê-lo. Nós permanecemos em silêncio, ouvindo apenas o som das nossas próprias respirações e do lago ao nosso redor, enquanto a escuridão da noite começava a se aproximar lentamente.

— Ficar aqui sozinha, sem dar notícias para ninguém não vai te ajudar, Laryssa.  — digo gentilmente, me inclinando para mais perto dela. — Eu sei que é difícil, mas você precisa enfrentar isso. Eu estou aqui com você, e juntos vamos encontrar uma forma de resolver esse problema. 

Ela me olha com seus olhos tristes e vermelhos, e eu posso ver a dor e a incerteza em seu olhar.

— Eu não sei se consigo, Igor — ela diz, a voz embargada.

— Eu entendo como você se sente. — Coloco minha mão sobre a dela. — Mas você não está sozinha nisso. Eu estou aqui com você, e não vou a lugar nenhum até que você esteja pronta para seguir em frente.

Ela fica em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras. Finalmente, ela se vira para mim, e eu posso ver um pequeno lampejo de esperança em seus olhos.

— Obrigada, Igor — diz, com um sorriso fraco. — Eu agradeço por estar aqui comigo.

— Sempre, Laryssa — respondo, devolvendo o sorriso. — Sempre vou estar aqui para você.

Seus braços se envolvem firmemente em volta de mim, e sinto suas lágrimas quentes molharem minha camisa. Ela me abraça por um longo período, e eu posso sentir o peso da sua dor e angústia. Seu corpo treme com a emoção reprimida, enquanto ela sussurra em um tom quase inaudível.

Todas As Coisas Mais Simples (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora