Quinze

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Junto-me à mesa do café. Todos os outros membros já estão presentes, calados enquanto comem — e instalado naquele meio havia a mesma tensão de quando estávamos em volta da fogueira no dia anterior; alguns inquietos, outros sonolentos. Laryssa e Angelina desjejuam como se aquela briga não tivesse acontecido. Tiago come um pão de queijo e retribui minha fitada com uma expressão de satisfação, como se dissesse "bom-dia" sem dizer.

Desvio meu olhar para Anita, que toma sem vontade um suco de laranja. Ela está distante e cabisbaixa; sabe que eu a estou encarando, mas não me olha.

Havia ficado alguns minutos lá, enquanto Anita chorava sentada no sofá. Não aguentei vê-la daquela forma, sofrendo por algo que eu causei. As lágrimas dela passaram a ser minhas e só consegui parar de chorar quando Danilo e Angelina retornaram para a sala. Por mais que eu ainda estivesse encantado com tudo que Tiago e eu havíamos feito naquele lago, naqueles minutos eternos, meus pensamentos conflitavam bastante. Aquela era a minha vida, minha felicidade. Porém, Anita sempre foi muito importante em tudo que vivi e, portanto, não merecia estar naquela situação injusta. Queria poder conta-la que nada era sua culpa e que todas as coisas que acontecem são apenas sobre mim, sobre meu eu. Contudo, eu precisaria explicar o que nem mesmo eu ainda consigo entender. Como diria que estou apaixonado por Tiago? E o que aconteceria depois? O que ela diria? O que eu responderia?

Simplesmente não sei.

Quando me declarei para Anita, não imaginei que ela pudesse terminar com Caio para ficar comigo. Naquele dia eu me senti o garoto mais realizado do mundo, mas também fiquei preocupado com a possível recorrência daquela sensação desagradável ao nos beijarmos, aquela frieza dos meus lábios. Não era como se o beijo dela fosse horrível; era doce e suave e representava muito bem quem é Anita; porém eu nunca conseguia relaxar, não conseguia me concentrar nos nossos lábios enquanto todo o êxtase daquela ação nos consumia — da forma que ocorre quando beijo Tiago. Com o tempo, fui me acostumando a beijá-la, e o que antes era desconfortável, se tornou nada. Apenas nada.

Não sei ao certo o que sou, não sei se sinto atração apenas por garotos, na verdade, não sei se o que sinto pode sequer ser denominado como "atração". A única coisa que sei nesse instante é que gosto do Tiago e me sinto melhor quando estou com ele. Isso, por agora, já basta. Sendo errado ou certo, sendo confuso ou óbvio, sendo passageiro ou eterno, a única coisa que eu sei é que gosto dele, muito.

— Estava pensando em fazermos uma trilha — Caio dispara e concentra seu olhar em mim. — Só eu, você e Danilo, como fazíamos sempre que vínhamos aqui.

— Apenas nós três? — Danilo questiona enquanto seu olhar carregado de preocupação percorre as figuras de Angelina e Laryssa.

— Sim. Sinto falta disso. Desde que Anita e eu terminamos e posteriormente a Barbie e o Ken anunciaram para o Albuquerque que, de fato, eram um casal, venho me sentindo uma vela, que existe apenas para iluminar o romance dos outros — ele solta um leve sorriso e finaliza: — Não é por mal, mas vocês não imaginam o quanto agradeci quando Danilo me contou que ele e Elena haviam terminado. Céus, acho que uma dúzia de fogos foi pouco para comemorar esse dia!

— Como você consegue ser tão escroto, Caio? — Elena indaga rindo com cinismo.

— É errado dizer o que penso?

— Não Caio, não é — Elena graceja e volta a comer.

— Ainda bem, né? — ele pigarreia e retoma a atenção a mim: — Vamos fazer essa trilha ou vocês vão oficializar nosso distanciamento?

— É claro que vamos com você — Danilo responde. — Acho que realmente precisamos conversar como antes.

— Vocês cinco vivem numa pressão de manter algo que naturalmente acaba — Angelina comenta. — Admiro isso em vocês. É imaturo, mas é fofo. De verdade.

Todas As Coisas Mais Simples (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora