II- Eu reivindico-lhe.

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#GatinhoEsmeralda

Os olhos atentos de Jimin estavam fixos no homem a sua frente, ajoelhado e com o mesmo olhar expressivo que o seu. Os lumes do camponês não tinham o tom da manhã, muito menos a sua voz se fazia presente como uma canção envolvente, Jimin tinha de volta sua noite estrelada nos olhos. A voz feminina estava silenciada, apenas a respiração ofegante dos parceiros e dos espíritos da noite podia se ouvir. Aster, nu sob a lua cheia, não movimentava sequer um músculo. Não estava mais em sua forma de leopardo, mas vislumbrava para Jimin como a mesma intensidade de sua fera amansada.

Se a noite estava serena, o âmago do duque era o antônimo do sentimento. A sua frente estava seu parceiro, sua ligação carnal e o destino enlaçado pelos deuses e pela Mãe Terra, a qual sussurrou em seus ouvidos profecias profanas e afrodisíacas a respeito do futuro dos dois.

"Corra, fique, deleite-se"

Era assim que o metamorfo se sentia, com seu peito ofegante clamando para voltar a sua forma de leopardo e correr para longe, para o infinito do destino. Mas ao mesmo tempo, queria ficar, sentir mais da terra sob seus pés e a imensidão do camponês à sua frente, de seu parceiro de alma a séculos. Ronronou sob os dedos de Jimin, e agora se deleitava com a sensação recém descoberta do novo poder.

Seus ramos de Molis desenhados nos ombros estavam sensíveis, os traços pretos acompanhando os ombros subindo e descendo com a respiração descompassada. A lua cheia, tão bela quanto uma obra prima, irradiava luz em cima das árvores escuras. Aster engoliu em seco, juntando mais os joelhos ao sentir o vento da noite bater contra a sua pele. Seus olhos estavam fixos nos de Jimin, o duque julgava que um passe em errôneo pudesse se tornar apenas uma ilusão saborosa. O camponês continuava agachado, o rosto um pouco mais distante de quando tocou no leopardo.

A nudez nunca incomodou Aster, sentia-se bem e revigorado em andar como veio ao mundo. Os feéricos jamais importunavam-lhe por causa desse hábito. Contudo, seus dedos se fecharam com cuidado quando notou que a sua pele não era a única exposta para noite, Jimin também vestia uma fina camada de linho sobre o tronco. Por estar aberto no meio de seu peito, um lado caía de seu ombros e sua clavícula se projetava para frente. O duque lembrou-se da tatuagem nas costas de Jimin, mas afastou o pensamento assim que o viu se mover.

— Seu corpo... — o camponês sussurrou, levando a mão até Aster e recuando quando ouviu-lhe ofegar.

Conseguia sentir o metamorfo a sua frente, como uma campo gravitacional que vinha de dentro para fora de seus próprios físicos. Para Jimin, era como se tivesse passado a vida toda sozinho e agora, sua essência tinha se enlaçado com a do duque. Ao invés de pensar em um coração, sentia que era conectado por dois. O camponês tinha certeza que mesmo se nunca mais visse Aster ou fosse quilômetros para longe dele, a sensação de não estar completamente sozinho nunca mais iria tomar conta de seu ser. E isso era aterrorizante.

Rastejou-se para trás, buscando pela manta que tinha carregado junto consigo para a floresta. Aster, vigilante a cada movimento, se encolheu quando Jimin pos com delicadeza o tecido feito de retalhos sob seus ombros. O camponês arquejou quando olhou para seu indicador, sentindo seu coração voltar a colidir dentro do peito. Na ponta do dedo duas linhas finas, praticamente sobrepostas uma sobre as outras. A primeira, dava a volta em seu dedo como um anel, em um tom dourado como a ponta de seus olhos, a segunda, ostentava o mesmo verde dos olhos de Aster e da pedra esmeralda que ele carregava em uma das orelhas. O metamorfo também tinha os mesmo anéis na ponta de seu indicador.

"Metade da metade, igual do igual"

Aster estava atônito, sem saber qual postura adotar após os toques intrínsecos que os dois vivenciaram. Jimin não falava mais na língua antiga, e o duque nunca imaginou que soubesse entendê-la se algum dia fosse destinada para si. Pelo semblante do camponês de cabelos escuros, ele também estava surpreso pelas próprias falas. Não sabia se deveria ser o duque que todos esperavam, o metamorfo irresponsável ou qualquer persona dentro de si para quebrar o silêncio instalado sobre os dois. Sua fera não estava listada, já tinha sido manifestada.

Dezoito luas para Aster • jikook •Where stories live. Discover now