I- Encontre-me, melodia da noite.

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#GatinhoEsmeralda

Sobre as fases da lua, as mãos mergulharam no véu do universo e moldaram o filho libertador. Enlaçados de alma e corpo, a fera e a noite escura irão se deitar sobre as linhas do destino. Quando o tom mais ardente da criatura antiga atravessar o solo pecaminoso, a ausência do silêncio se fará presente, culminando o princípio.
E que assim seja.

Lua Nova; Nove e meia da manhã - Ruas de Avalon.

A melodia viva inundava os ouvidos dos comerciantes locais, enchendo as ruas de Avalon com o ritmo veloz e dançante de crianças feéricas. Sob o Sol abençoado da manhã, corpos quentes e ágeis eram movimentados em meio às ruas, dizimando a ausência do silêncio e do luto, persistente a tantas luas. Entre os rostos que irradiavam alegria, emitindo algo parecido com risos abafados, olhos verdes e atentos como de um felino, estavam presos em todo fluxo. A pedra Esmeralda em sua orelha esquerda movimentava-se em um vaivém contínuo no meio de seus cabelos pretos e sedosos, da raiz até as pontas, fios que deslizavam sobre sua nuca e seguiam seu caminho até os ombros. Os dedos dos pés formigavam, como se estivessem esperando um único pulso elétrico para se envolverem na dança frenética.

De respiração ofegante, Jeon Aster, o próximo duque a ascender em seu clã, sorria com sua aura encantadora para seu povo. De roupas simples, o homem exalava uma gargalhada jovial ao ser enlaçado por um menino de pele com tonalidade azul luzente, guiando-o em meio ao caos da sinfonia. Os poucos que conheciam-lhe, eram submetidos a uma conversa onde a lábia do jovem duque convencia facilmente o feérico a não revelar a sua identidade aos demais. A pele sublime não era esquecida tão facilmente, por isso Aster decidia sair com suas vestes simples ao caminhar por entre as feiras e vilas da cidade. Jamais existiu um imortal que colocasse a atenção em seus olhos e esquecesse a vislumbra que eles carregavam.

O herdeiro do antigo duque, aquele que todos ouviam por sussurros, era esplêndido de físico e alma.

Aster podia sentir os músculos de seu corpo a cada movimento, guiando gotas de suor que denunciavam o vigor em meio ao círculo de crianças e qualquer um que fosse seduzido pela música. Mostrando os dentes relativamente mais pontiagudos que os demais ao seu redor, o jovem duque escutava, de olhos fechados, a harmonia que seu coração fazia ao galopar em seu peito. Fazia Aster se sentir vivo, ao ponto de encandecer o interior de seu corpo.

Não era um bailarino esplêndido como os que tinham na região, enfeitando-a com suas roupas e fitas coloridas flutuantes. Pelo contrário, os pés de Aster eram firmes toda vez que encontravam a superfície densa do chão. Fortes para carregar o corpo robusto acima de si. Os mesmo pés que agora dançavam, já tinham frequentado campos de batalha antes mesmo de aprender a língua mãe.

Apesar de ser o primogênito legítimo de seu pai, e ter obrigações a seguir desde jovem, nunca fora-lhe negado alguma curiosidade. Não existia privação, visto que não havia interesse em suas atividades entusiastas.

Arrastando-se para fora dos braços de uma jovem, Aster apressou o passo ao ouvir as palmas ao seu redor e os muxoxos, certamente em virtude de sua identidade. A cidade usufruía da presença do duque a um sopro de lua, ainda que ele tenha preferido desfrutar da diversão deleitosa somente depois do nascer do Sol. Guardaria suas forças para o restante do dia, de preferência em algum lugar que sua pelagem escura e suas presas pudessem ser libertas à vontade. A cada contração de seus ombros, esses que carregavam desenhos de ramos de Moli em cada pedaço de derme, seu âmago era preenchido com os sentidos de um leopardo.

Estar de volta, depois da morte de seu pai, Jeon Eliel, não era muito diferente de quando seus ossos estavam em crescimento e sua metamorfose não era absoluta. O antigo duque era distante na maioria das circunstâncias, mantendo Avalon ordenada na medida do possível. Não era comum ouvir reivindicações, porém tão pouco comemorações. Aster acostumou-se facilmente com a sua própria companhia e seu animal interior, cuja fera só era vista na madrugada das florestas ou em batalhas para defesa de suas terras. Treinado para ser um feérico distante e superior, mas com o coração de um felino, pronto para caçar qualquer um que ultrapasse os limites de seu povo.

Dezoito luas para Aster • jikook •Onde as histórias ganham vida. Descobre agora