Me Perdoe

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—Juls, você não sabe o quanto...

—Não quero falar disso agora. _disse Juliana com os olhos fechados enquanto colocava a mão livre no abdômen. Ela já estava no soro para receber as medicações que precisava.

Valentina ficou com a palavra na boca, viu que Juliana estava angustiada, mas foi para o lado dela e entrelaçou os dedos com os da mão que tinha na barriga ainda não existente.

Esse contato fez Juliana respirar fundo, comprimindo o rosto e começando a chorar ao apertar a mão de Valentina. Ela estava se livrando de todo o medo que sentia, sem saber se seu filho estava bem ou não, sem saber se Valentina chegaria, se ela mesma ficaria bem.

—Minha linda chiquita. _Valentina suspirou enquanto balançava a cabeça mentalmente por não atender as ligações.

***

Lúcia não tinha falado com ela durante todo o caminho de casa e Juliana ficou quieta, só ficou olhando pela janela o tempo todo.

Já seria meia-noite e todas estavam esgotadas. Valentina alugou uma cadeira de rodas para mover a esposa sem que ela precisasse se esforçar tanto.

—Juls, você quer assistir um pouco de TV enquanto eu preparo tudo?

Juliana balançou a cabeça em negação.

—Você pode me deixar no jardim, por favor?

—Claro, mas está frio, vou trazer um cobertor. _assim que essas palavras saíram de sua boca, um flash do pesadelo voltou para ela.

Esquece, esquece, esquece. _ela disse mentalmente.

—Eu vou levá-la e você vai buscar algo para cobrei-la. _Lúcia disse.

A melhor opção era a casa de hóspedes, então Juliana teria espaço para se movimentar por todo o primeiro andar, se que precisasse subir e descer escadas. Isso poderia agravar a situação.

Não demorou muito para que Valentina voltasse cobrindo sua esposa para que ela não pegasse um resfriado.

—Vamos Valentina, quanto mais rápido terminarmos, melhor.

Elas foram para a casa de hóspedes, Ana a faxineira, limpava uma em cada três vezes que ela vinha, então só tinham que arrumar a cama.

—Valentina largue os lençóis um momento e venha até aqui. _Ela colocou as coisas na cama e foi para a cozinha onde a mãe colocava a chaleira.
—Vamos conversar.

—Antes de mais nada parabéns porque você vai ser mãe. _Lúcia estendeu os braços e deu-lhe um abraço com muito carinho e caminharam em direção a cama.
—Em segundo lugar, por que você não atendeu aquele telefone? _ela agarrou uma ponta do lençol, enquanto Valentina agarrou o outro lado.

—Eu estava em uma reunião importante e não queria ser interrompida.

Lúcia ergueu as sobrancelhas, franzindo os lábios.

—Não acho que nada que você possa fazer no trabalho seja mais importante do que sua esposa e seu filho, não é?

—Não mãe.

—Então você não se importaria de atender o telefone se sua esposa entrar em contato com você certo? Você sabe que ela não interromperia sua rotina de trabalho se não fosse importante.

A mãe dela tinha razão. Juliana nunca fazia isso, na verdade era ela quem costumava ligar sem se importar, pois sabia que assim que Juliana pudesse ligaria de volta.

—Eu não disse a você o que queria dizer a você no hospital porque estava muito zangada com você, então foi melhor guardar minhas palavras para não me arrepender. _Lúcia olhou em seus olhos.
—E eu sei que você já se sente culpada o suficiente também. _Valentina acenou com a cabeça que era verdade.
—E o que eu não quero é que você deixe que isso te consuma, o que você pode fazer para remover essa culpa é estar lá para ela assim como ela está lá para você. Entendeu mocinha?

—Entendi mãe, você sempre sabe o que dizer. _Valentina acabou de colocar o lençol, e foi pegar a colcha.
—Ah e parabéns a você também, lamento que você não tenha ficado sabendo da maneira que planejamos.

—Está tudo bem, filha, estou feliz por vocês.

Elas terminaram de arrumar o edredom e colocar os travesseiros.

—Agora vá buscar a Juliana, não quero que ela pegue um resfriado.

Valentina saiu e viu que Juliana estava na mesma posição que deixava seu rosto limpo de qualquer emoção.

—Vamos entrar bonita.

E ela a carregou, empurrando a cadeira para a casa de hóspedes.

—Juli, você quer chá de que? _Perguntou Lúcia.

—De gengibre, por favor.

—Ok, vou na casa principal pegar e já trago as coisas que você possa precisar.

***

Depois de terminar de fazer o chá, Lúcia retirou-se para o quarto de hóspedes da casa principal, já era tarde e as meninas precisavam de um tempo sozinhas.

—Juls, você quer mais alguma coisa antes de dormir?

—Val...

—Sim, diga.

—Você pode me deixar sozinha esta noite?

Valentina parou bruscamente, ao sair do banheiro em sua roupa de dormir.

—O quê?

—Eu quero dormir sozinha.

—Juliana, por favor, não faça isso.

—Eu só quero dormir sem você agora.

—Não Juliana. Grite comigo se quiser, me bata se precisar, mas não vá dormir com raiva de mim.

—Não é isso...

—Então me diz. _Valentina sentou-se na cama.
—Por favor, também não posso ir dormir assim. Não fazemos isso desde que começamos a namorar de verdade. Depois se você quiser eu te deixo sozinha.

Juliana segurou o edredom com as duas mãos e apertou.

–Eu quero ficar brava com você, mas não posso. Não posso porque me sinto muito triste para ficar assim. _Juliana respirou fundo.
—Imaginei como seria a primeira vez que veríamos a nossa sementinha e você estaria ao meu lado. Não acredito que você não estava lá para ver, para ouvir.

Valentina lacrimejou.

—Meu amor tudo bem se você está chateada, não tem problema. Eu também estou com raiva de mim mesma.

—É que não estou chateada, estou muito triste por não termos podido compartilhar aquele momento juntas Val... esse bebê é de nós duas e por um momento me senti tão só, embora mamãe estivesse me acompanhando, Eu queria você lá e você não estava...

—Perdoe-me, por favor. Juro que cheguei o mais rápido que pude depois que Tess ligou. Você não sabe como me sinto mal por não estar lá para vocês dois, sinto muito, meu amor, por favor, me perdoe.

—Eu não posso te culpar, morrita, como você saberia que meu corpo me trairia hoje de todos os dias como sempre faz, como você saberia que tinha que me atender?

—Eu preciso que você me perdoe Juls. Talvez eu não precisasse saber, mas o que aconteceu hoje com as ligações é minha culpa.

—Eu te perdôo Val, mas eu não te culpo... Eu gostaria que tivesse sido diferente, sim, que hoje não tivesse acontecido também. Mas já aconteceu, e eu simplesmente não posso deixar de me sentir triste.

—E você não se sente nem um pouco zangada? _disse Valentina dando um beijo na mão dela.

Juliana sorriu levemente.

—Bem, sim, talvez um pouco quando eu estava no hospital, mas depois da minha queda emocional isso passou.

—Eu posso entender isso. Você ainda quer que eu vá dormir na casa grande?

—Você vai me deixar aqui? _Juliana disse apertando sua mão.

—Bem, só se você quiser amor.

—Não, não, o que estava me incomodando eu já falei. Eu não quero ficar longe de você.

—Nem eu chiquita.

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