Os Filhos do Tempo

XII - A Face do Mal

Nícolas retribuiu-lhe sorrindo. Estava curioso por usar a tecnologia dos seus novos amigos e, saber lutar para um jovem, era um privilégio.

Eles começaram a se preparar para a aplicação dos chips. Zara usou uma pistola com sedativo no braço para que ele relaxasse. Em seguida, aplicou-lhe um anestésico e colocaram-no sobre a mesa cirúrgica. Depois de passar por um Scanner 3D, uma prototipagem do crânio do garoto foi construída por X2, que determinou o melhor acesso para a implantação do chip na retina. Eles aproveitaram o momento cirúrgico para fazer outra inserção no hipocampo com o objetivo de melhorar e multiplicar a capacidade de memória do rapaz. Colocaram mais um chip na região temporal do garoto, a fim de permitir transmutações futuras.

Zara acompanhou a recuperação de Nícolas sem sair um instante de perto dele e, passadas algumas horas, o garoto acordou meio atordoado. Depois de algum tempo, voltou plenamente a si. Olhou para as luzes no teto que o iluminavam. Colocou as mãos lateralmente na maca onde se encontrava reconhecendo a sala de cirurgia da nave Science. Fixou os olhos na figura que o encarava. Era Zara que estava sempre presente. Viu as enfermeiras que auxiliavam todos os procedimentos e os braços robóticos que se posicionavam nas mesas cirúrgicas. Ele pensou:

"Parece que muitas coisas mudaram na minha cabeça. Tudo o que vejo parece trazer informações associadas."

— Está tudo bem, Nick? Como está se sentindo?

— Sim. Consigo ver você. Se morri, sei que estou no céu.

Ela sorriu:

— Vamos a um setor de recuperação ao lado desta sala. Lá, vamos esperar um pouco mais até que você esteja totalmente recuperado.

Nícolas foi levado para uma sala de recuperação. Zara o acompanhou e já dentro do local, tocou em um botão na parede e a imagem de Sivoc apareceu:

— Capitão, algum sinal da nave inimiga?

— Ainda não, mas precisamos sair daqui o mais rápido possível. Como está Nícolas?

— Ele está bem, senhor. A operação foi um sucesso.

— Ótimo. Agora podemos começar os preparativos para sair da nave e deixá-la em estado de hibernação.

A doutora voltou seus olhos para o garoto e falou sobre a cirurgia:

— Nós colocamos alguns chips em você. Um deles lhe permitirá a capacidade de transmutação genética. Você poderá se transformar em um de nós quando necessário. Outro fará com que você acesse informações em nosso banco de dados e um terceiro aumentou o seu poder de memória.

— Por isso, que tive sensações estranhas desde que acordei. Acho que vou gostar disso — disse com um leve sorriso ainda se sentindo relaxado.

O garoto começou a perceber que conhecia o mecanismo de funcionamento de todas as coisas que olhava e tocava. Sua mente se tornara mais veloz. Nos primeiros momentos, ele parecia fora do ar, alheio ao que os outros falavam. Parava, fixava os olhos nas coisas e esmiuçava suas composições e funcionamentos, e só depois voltava a si. Sorriu e sentiu o poder que o conhecimento lhe proporcionava. Agora era hora de voltar a vida normal e se preparar para os dias difíceis que viriam.

Depois de algum tempo, Zara colocou sua mão sobre a mão direita de Nícolas. Levou-o até a frente da nave e tentou ajudar-lhe:

— Não se preocupe com tantas mudanças, Nick. Ficarei ao seu lado para que você aprenda a lidar com isso. Melhor do que saber lutar é o conhecimento que pode ajudá-lo a encontrar soluções para os vários tipos de problemas.

Tíbor se aproximou de Nícolas:

— Dê-me o seu braço direito.

Ele tirou a pulseira e a reprogramou.

— Esta é uma pulseira de nosso planeta. Não sei como a conseguiu, mas ela é capaz de teletransportá-lo diretamente para a nave ou qualquer outro lugar no planeta Terra. Um seletor de luz azul indica a nave e outro orienta para lugares selecionados pelas coordenadas de latitude e longitude que você estabelecer. Depois do primeiro transporte, o instrumento cria uma memória, que será posteriormente selecionada com um simples toque.

Nícolas olhou para aquele artefato esplêndido em seu pulso e seus olhos se arregalaram com a novidade. Não sabia como ganhara aquela pulseira tecnológica no passado, mas estava muito satisfeito por a possuir no presente. Ele não conseguiu esconder a alegria que experimentava:

— Cara, isso é muito maneiro! É demais... Gostei muito!

Tíbor, Drako e Zara sorriram com a empolgação do rapaz.

Agora era hora de saírem daquela nave, pois o perigo se aproximava na direção deles. Quanto mais escondidos, mais seguros estariam e o treinamento do jovem estava prestes a começar.  

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