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- Estava ansiosa por este dia chegar! – gritou eufórica a Rose enquanto vinha na minha direção. Gostava de a ver sorrir assim. Ela reagiu com a morte de alguém próximo muito melhor do que eu alguma vez imaginara. Ela é uma rapariga tão fortetenho pena de ela mesmo não conseguir ver isso.

- Eu também. – aproximou-se o Adler e, atrás dele, vinha o Dylan com as mãos nos bolsos da sua camisola grossa. – Vamos para o meio da multidão para atirarmos o centeio.

Reparei que ele e a Rose já tinham dois sacos cheios de centeio na mão. Depois da Daisy, acho que eles eram os mais fanáticos por esta tradição antiga que já existe há várias gerações na família Fire.

Fomos em direção da multidão e senti o Dylan a aproximar-se de mim, calmamente. – A tua mão já está melhor? – perguntou-me com voz baixa e automaticamente lembrei-me sobre o estúpido jogo que jogamos na festa de aniversário do Benji.

- O que isso te interessa? – perguntei secamente sem olhar para os seus olhos hipnotizantes.

- Sabes bem que eu me preocupo contigo Scarlet. Sempre me preocupei e sempre me vou preocupar. - sussurrou-me com a sua típica voz rouca que me fez ficar toda arrepiada. Mas claro que nunca irei admitir os efeitos que ele me provoca apenas com simples palavras arrastadas.

- É feio dizer mentiras, Dylan. – parei de andar e virei-me de frente para ele acabando por ficar próxima da sua cara. Demasiado próxima.

Ele abriu um sorriso pequeno enquanto me olhava nos olhos. Observei o seu olhar a descer para os meus lábios, por apenas um segundo, para logo voltar a cruzar os seus pequenos oceanos circulares com as minhas pequenas e redondas chamas alaranjadas.

- Eu nunca minto quando o assunto é sobre ti. – disse tão baixo que por momentos achei que tinha imaginado as suas palavras.

Não tive tempo de responder mais nada porque logo o Adler nos chamou aos berros para irmos ter com eles, já que tínhamos ficado mais para trás perdidos um no outro.

- Está na hora de atirar o centeio! – a Rose falou entusiasmada enquanto, com a sua mão na forma duma concha, pegava em centeio do seu saco e atirava ao ar.

Depois dela, centenas de pessoas começaram a atirar o que fez com que o céu ficasse preenchido por cereais por apenas alguns segundos.

As fénixes, já depenadas e velhas, aproximaram-se a voar lentamente. Um bando delas pousou no chão ao nosso lado enquanto comiam o centeio espalhado à nossa volta.

- O sol está quase a desaparecer - disse enquanto avistava o pôr-do-sol a virar uma escura e fria noite de outono.

- Cinco, quatro, três, dois, um! – todo o povo gritou e quando a contagem decrescente acabou, todas as fénixes, sem exclusão, viraram cinzas negras.

Demorou um minuto. Apenas um minuto para das cinzas mortas renascerem fénixes bebés sem pelo algum. Elas começaram a chiar o que fez com que todo o povo se aproximasse das mesmas. Eram demasiado fofas para resistir, mas mesmo assim era proibido tocar nas fénixes bebés já que eram muito frágeis.

Eu e o meu Conselho Real decidimos que elas iriam ser criadas nos jardins do Castelo por tratadores profissionais e quando atingissem idade suficiente para sobreviverem sozinhas nós iriamos libertá-las, tornando-as livres até a sua próxima ressurreição.

- E das cinzas nós renasceremos. – repeti uma citação que já tinha lido num livro sobre as lindas aves mitológicas que são as fénixes.

Renascer. Deve ser incrível a dádiva de poder viver milhares de vidas diferentes em milhares de tempos diferentes. Mas mesmo assim, já fico feliz por ter a oportunidade de conseguir viver pelo menos uma vez. Fico feliz porque vou tornar essa única vez totalmente memorável.

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝟐Where stories live. Discover now