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— Rose! Rose! — cheguei ao andar de cima e corri o corredor todo até encontrar a porte do seu quarto que era a última. Comecei a bater à porta quando reparei que estava trancada.

Eu estava agoniada. Sei que a Rose não iria ser tão burra como eu ao ponto de tentar, mas mesmo assim, a dor torna-nos em pessoas irreconhecíveis. A dor transformamos em algo que nunca pensamos ser. Algo destruído e desumano.

— A porta está trancada... — disse para o Dylan e o Adler que acabaram por seguir a Rose também.

— Scarlet afasta-te. — a voz do Adler estava firme. Nem parecia o mesmo rapaz alegre e tímido com pessoas desconhecidas.

Ele puxou a mão para trás e fez uma rajada de vento com os dedos, com força suficiente para abrir a porta quebrando o tranco dela.

Quando a porta se abriu viu-se uma Rose de joelhos no chão e com a cabeça apoiada na cama. Não dava para ver a sua cara pois os seus cabelos acastanhados com madeixas verdes tapavam-na, mas dava para perceber que estava a chorar.

Ficamos ao lado dela, os três, sem dizer uma única palavra. Deixámo-la a chorar tudo o que ainda não tinha chorado. Às vezes o mais importante é só estarmos lá para essa pessoa. Às vezes as palavras não adiantam de nada, a tua presença já basta.

— Rose... — a voz do Adler fez-se ouvir calmamente quando parou de se ouvir os choros dela. Mas agora vinha a parte pior. A parte que destruía qualquer pessoa que sofria. Depois da tristeza vinha a raiva. É esse sentimento que lixa as pessoas que já perderam alguém que amaram com tudo o que tinham.

A Rose levantou-se com as pernas um pouco bambas e foi em direção ao seu armário. Tirou de lá uma garrafa que continha uma bebida alcoólica qualquer e reparei que ela já ia a meio. Será que a Rose bebeu metade sozinha?

— Rose eu sei que estás triste e chateada, mas isso não te vá fazer sentir melhor. Acredita em mim... — avisei-a por já tentei isso. Já tentei de tudo para a dor desaparecer e nada resultou. Apenas aprendi a viver com ela. Essa é a melhor saída que tens do sofrimento do teu coração. — Dá-me a garrafa!

— Quem é que tu pensas que és, Scarlet? O meu pai? — riu-se e logo de seguida abriu-a bebendo um grande trago da bebida que devia queimar toda a garganta.

As pessoas achavam que beber levava o sofrimento embora. Mas não...ele apenas as fazia esquecer por um tempo, mas quando voltava de novo, vinha com o dobro da força.

— Rose a Scarlet tem razão. É melhor não beberes isso, não te vais sentir melhor. — o Dylan, tal como eu, já passou por essa sensação quando perdeu a sua mãe. Gostaria de saber se ele lidou bem com isso nos primeiros anos...acho que sinceramente nem quero saber a resposta. Acho que não vai ser a que eu quero ouvir. Tal como eu, ele deve ter sofrido muito por isso é que agora são raras as vezes em que conseguimos ter uma conversa mais aberta.

— Até parece que é a primeira vez que estou a beber! Não ficaram com essas caras quando eu estava no Under Water ou quando foi a festa do Tyler na Discoteca da Meia-noite, pois não? — falou de novo com raiva enquanto continuava a beber.

Tyler... a menção do seu nome fez logo o meu coração apertar. Eu tinha saudades dele. Gostava de saber como ia o seu reinado no Reino Espiritual. Deve estar a ser difícil, mas se há alguém que consegue dominar essas bestas espirituais é ele. O Tyler Spirit. Eu sei que nós iremos encontrar de novo...

— Rose! — o grito do Adler fez-me parar de pensar no Tyler. Olhei e vi que a Rose tinha entornado um pouco da bebida pelo seu vestido e pelo tapete verde claro.

— Eu vou buscar um pano há cozinha para limpar. Fiquem aqui e não deixem ninguém a veja assim. — falei e saí do quarto fechando a porta que estava meia partida pela força do poder do Adler.

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝟐Where stories live. Discover now