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Nunca pensei que tivesse de entrar na esquadra que se situava na Dimensão da Terra. Mas aqui estou eu. A entrar de cabeça erguida para falar com o meu braço direito e única família que me resta, Hector, também conhecido como assassino.

— Tens dez minutos, nada mais! — disse ferozmente um dos guardas que lá trabalhava.

Eu podia ser rainha, mas neste sítio não importa o teu estatuto ou dinheiro. Neste sítio, és apenas mais uma pessoa à espera de ver um criminoso. Mas seria o Hector mesmo um criminoso? Será que ele merecia mesmo estar aqui, na esquadra à espera do seu julgamento que pode arruinar-lhe a vida?

Entrei numa sala toda cinzenta e com apenas uma mesa e duas cadeiras, uma à frente da outra. A porta abriu-se e outro guarda trouxe o Hector algemado até à mesa. Ele sentou-se à minha frente, sem me olhar nos olhos, e eu percebi logo que ele estava envergonhado consigo mesmo. Ele sempre olhava para o chão quando ficava com vergonha.

— Olá...Hector. Estás bem? — a sério, Scarlet? A única pessoa em que tu confias está presa por homicídio e a primeira coisa que tu perguntas é se ele está bem? Claro que ele não está bem! Está preso.

— Tu achas que eu estou bem? — perguntou-me ironicamente enquanto me mostrava as algemas que tinha nas mãos. Obviamente que estava mal, muito mal.

— Hector...foste tu? — eu sei que fui demasiado direta mas eu precisava de ter a certeza que ele era inocente. Precisava de saber que não estava a mergulhar de cabeça num mar sem fim. Precisava de saber se iria dar tudo de mim para provar a inocência de um inocente e não a inocência de um criminoso.

Desviei os meus olhos dos do Hector porque quando proferi aquelas palavras consegui vê-lo a quebrar em mil pedacinhos. Era como se toda a confiança que ele achava que eu tinha nele desaparecera em apenas um segundo. Mas eu tinha as minhas razões para duvidar dele. Se o queria ajudar tinha de duvidar de tudo primeiro para depois descobrir a verdade.

— Diz-me tu, Scarlet. — cuspiu umas palavras com raiva passado um minuto e pousou na mesa um anel que eu conhecia muito bem. Que eu conhecia demasiado bem.

— O meu anel com uma rubi! Onde é que o encontraste? — eu sentia que a reposta à minha pergunta não iria ser algo agradável.

Se fosse algo bom, o Hector não estaria com um olhar vazio. Não estaria a apertar com força o meu anel como se fosse a única coisa que o poderia salvar. Não estaria assim calado, enquanto uma guerra decorre entre o seu coração e a sua cabeça.

— No local do crimeEncontrei o teu anel no mesmo sítio onde encontrei o corpo do Bob. Coincidência...não achas, Rainha Scarlet? — se era coincidência? Não. Quem está a incriminar-me está a incriminar o Hector também. O verdadeiro assassino estava a tentar virar-nos uns contra os outros porque sabe que somos mais fracos e previsíveis quando estamos sozinhos.

— O que é que estás a insinuar? — aproximei-me dele para não ter de falar tão alto. — Que fui eu que matei o Rei Bob?

— Eu não sei. Tal como tu duvidas de mim, eu também duvido de ti. Portanto responde-me a uma única pergunta...Scarlet, foste tu? — ele fez a mesma pergunta que eu lhe fiz há uns minutos atrás.

Só quando ouvi aquelas palavras acusadores a saírem da boca do Hector, de uma pessoa cuja opinião me importa muito, que eu soube como isso magoa. Como magoa ouvir alguém que gostas a dizer que não confia em ti. Que não confia o suficiente para saber se és ou não um assassino a sangue frio.

Agora entendo o porquê de o Hector ter ficado tão chateado e magoado com a minha pergunta estúpida.

— Hector, desculpa...eu sei, eu sei que não foste...

𝐎𝐬 𝐄𝐥𝐞𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝟐Место, где живут истории. Откройте их для себя