> 07

805 105 30
                                    

Surpreendentemente, a vida com um demônio dentro daquele castelo gelado no centro do pântano mostrou-se incrível em vários aspectos e completamente fácil em todos os outros. Ao longo de três semanas, Louis já havia estabelecido uma rotina de afazeres e obrigações para com a casa e consigo mesmo como maneira de agradecer pela tão bem servida hospitalidade. Às vezes, ele mal se recordava da vida nas ruas quando precisava sobreviver de lavagens para porcos e lidar com as pedras e maldições sendo jogadas em direção às suas asas. Agora sempre havia bom alimento para lhe encher o estômago, roupas quentes e fresca, vários pares de sapatos e meias de lã para seus pés que costumavam andar sempre feridos depois de toda uma vida alheio a qualquer conforto. Durante as manhãs que costumavam ser livres, a fada apenas se enfiava na cozinha com Gigi e algumas das outras gárgulas e aprendia tudo o que podia, tentava se fazer útil da melhor forma possível e, apesar dos olhares atravessados de Honda – a gárgula responsável pela cozinha e, também, a mais velha dali – todas as outras sempre adoravam sua companhia, fosse na cozinha ou nos jardins, na horta ou no momento de lustrar a prataria. Onde quer que se mostrasse útil, lá estava Louis com sua roupa mais parca e mãos à obra, ouvidos sempre atentos a uma boa conversa uma vez que descobriu-se realmente amigável depois do temor inicial das criaturas do lugar o acharem uma grande aberração assim como o restante do mundo parecia pensar. Não foi o que aconteceu, no entanto. Louis foi bem recebido por todos apesar de suas asas defeituosas, incorrigível falta de magia e sexo averso ao de sua própria espécie. Nenhum deles parecia se importar com esses pontos que sempre pesaram no coração da fada, somente seguiam suas vidas da melhor maneira que podiam e pareciam satisfeitos com a companhia, algumas longas trocas de palavras e risadas sorrateiras pelos cantos.

O almoço era servido no salão de jantar, religiosamente ao meio do dia. Kendall quase nunca compartilhava o momento com os outros dois e as gárgulas apenas sequer cogitavam a ideia absurda de sentar na mesma mesa que o demônio dono do castelo apesar de sempre o terem em grande estima. Louis pensava que isso se dava à carranca que o senhor demônio do pântano, Harry, sempre trazia consigo em seu rosto bonito e de bons traços. E, também, aos chifres. Até mesmo as gárgulas não utilizavam de sua verdadeira aparência mágica para o dia a dia, optando sempre por aparência humanoide e comum. E, bem, a fada não poderia culpá-los uma vez que claramente faria o mesmo se fosse capaz de esconder suas asas defeituosas por meio de uma magia que não tinha. De qualquer forma, os almoços eram quase sempre apenas Louis e Harry com suas conversas sobre a história milenar da magia, de todas ela. O demônio ainda insistia fielmente que havia algo escondido dentro de Louis, enrolando-se como uma serpente sob sua pele e ansioso para ser desperto apesar de não responder a nenhum dos esforços que vinham sendo aplicados todas as tardes por horas seguidas enquanto ambos se perdiam pelo pântano e o demônio lhe mostrava todos os tipos de feitiços, encantamentos e maldições que poderia ajudar alguém. E ferir, também. Possivelmente matar. Após a metade da segunda semana, Louis desistiu de dizer que era apenas um aborto sem uma única gota de magia válida e então passou a beber todo aquele conhecimento como se fosse realmente útil, a verdade era muito mais sombria no entanto. Louis sentia suas bochechas corar somente com a ideia de admitir que gostava da maneira como o senhor demônio do pântano falava arrastando a língua sobre os dentes brancos e alinhados com grande perfeição, ele também sentia-se satisfeito com como as palavras pareciam enrolar em sua boca numa dança suave antes de serem cuspidas para fora, era uma forma estranha de descrever suas sensações, mas a fada não conseguia colocar em vias de fato todas s coisas estranhas que aconteciam dentro de seu estômago sempre que Harry estava por perto com seus olhos muito verdes que eram tingidos de preto sempre que usava da magia em seu ser, assim como as pontas dos longos dedos e unhas bem feitas crescendo em garras afiadas. Até mesmo dos cascos de bode e espinhos por todo o ombro, Louis achava incrivelmente bonitos à luz da tarde quando o sol refletia seu explendor nos terrenos lamacentos do pântano. Entretanto, para a fada, nada poderia se comparar aos belos chifres sobre a cabeça do demônio, lugar onde ele se permitiu perder os olhos várias vezes, contando as voltas que o escuro contorno formava, memorizando as ondulações e imaginando quase vívidamente demais como seria arrastar seus dedos por todo o comprimento, a sensação gelada ao toque ainda que houvesse clara reação por meio do demônio porque aquilo, obviamente, fazia parte de seu corpo tanto quando o sorriso mortal que sempre oferecia à Louis depois de falar algo que ele julgava coerente e digno de estar em um estandarte.

DEVIL TRIBUTE // larry stylinsonWhere stories live. Discover now