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A gata caminhava à frente com seus quadris gingando na parte traseira do corpo, quase o bastante para que Louis não conseguisse desviar o olhar da curvatura da cauda, para ser justo, era como se estivesse hipnotizado pelo fato de finalmente conseguir compreender um animal. Pela primeira vez desde que havia entendido o que era, ele finalmente podia sentir-se quase feliz com o pequeno detalhe que o tornava mais próximo de seus semelhantes do jamais antes em toda sua existência. Ele sempre quis ser igual aos demais, sempre desejou ser capaz de voar pelo bosque e colher mel com as senhoras abelhas enquanto a magia escapulia de seus dedos em tons de azul oceânico como suas asas. Nunca aconteceu. Quer dizer, uma vez ele havia conseguido entrar em uma colméia e ter um pouco do mel sem ser realmente pego porque... pelos deuses da lua, as abelhas não costumavam ser tão gentis com invasores, fossem eles fadas ou não. De qualquer forma, enquanto seguia a gata pelos corredores de pedra do grande castelo no pântano, Louis estava deliberadamente ignorando toda a veracidade do cenário, sabe, a coisa de estar perambulando no lar de um demônio com cifres espetacularmente grandes e escuros e todos aqueles espinhos espalhados pelo seu ombro nu, supostamente tão afiados quanto deveriam realmente ser. E os cascos... oh, aqueles sim eram belos e lustrosos, os detalhes parecendo ter sido desenhado à mão e as pernas cobertas de pelos escuros meio curvadas nas bases como as de cabra. Definitivamente, Louis sabia reconhecer uma bela criatura quando via uma. E o senhor demônio do pântano era, com toda a certeza que a fada tinha, uma criatura digna das lendas que o cercava. Isso, claro, se fossem realmente lendas toda a coisa de sacrifícios e devoração de pobres seres mágicos de Calia.

Sendo honesto consigo mesmo, Louis ainda não tinha muita certeza sobre o que achar. Quer dizer, ele ainda estava vivo e tinha um pesado cobertor de peles ao redor do corpo enquanto arrastava metade da coisa pelo caminho de pedra enquanto a gata, Kendall, miava sobre alguma coisa que ele realmente não prestava atenção, especialmente quando sua cabeça girava cheia de engrenagens e os olhos buscavam absorver tudo o redor, inclusive o gingado nos quadris do animal. Fosse como fosse, Louis não sentia-se tão seguro assim, de fato. Havia ainda uma leve suspeita batendo dentro de sua consciência, algo como um aviso petulante que sussurrava em seu ouvido entre os becos e vielas de qualquer lugar que fosse. "Não confie em demônios, eles apenas maquinam ardilosamente toda a realidade em seu próprio benefício, seres ardilosos até os cascos podres em seus pés" aparentemente era o senso comum. Mas o senhor demônio do pântano em questão não tinha cascos podres e, na verdade, parecia realmente elegante em seus modos apesar de todos os chifres e espinhos lhe cobrindo os ombros. Louis gostava, também, da ideia de não tirar conclusões precipitadas sobre quaisquer coisa em sua vida, por exemplo, na primeira vez que se encontrou com Niall, o leprechaun estava tentando lhe roubar as poucas sementes de girassol que ele tinha conseguido juntar para passar por mais um inverno. Um ato terrível, considerando que ele não tinha nada mais para se alimentar e, caso não mantivesse suas sementes, apenas teria que enfrentar toda a neve com seus pés sem sapatos apropriados e partir em busca de alimento uma vez que a alternativa era a morte fria, lenta e faminta. Em todo o caso, bastou uma curta conversa para que ambos se resolvessem e a amizade pudesse florescer nos mais improváveis dos cenários. Então, com uma quantidade quase efervescente de entusiasmo, Louis decidiu que não iria julgar o senhor demônio do pântano até que sentisse alguma ameaça contra sua vida.

O quarto que se abriu depois de uma pesada porta dupla na parte leste do grande castelo de pedra era muito mais do que Louis pensou que já tinha visto em toda a sua vida. Havia uma cama de dossel no centro com colchões bem costurados e cetim por todo lugar, cores fortes e vermelhas como sangue banhando os tecidos e, da janela, não se podia ver mais do que os campos alagados, mas ele não pôde deixar de pensar que deveria ser realmente uma bela olhada durante as manhãs de sol. A lareira no canto estava sendo alimentada com apenas alguns pedaços grossos de madeira que não pareciam realmente estar sendo queimados pelas chamas verdes quase esmeralda então, ele supôs rapidamente, que era magia. Sentiu-se imediatamente atraído pelo fogo. A ideia de usar mágica de uma maneira tão inconsciente como manter acessa uma lareira dentro de um castelo absurdamente grande como aquele... wow, era fascinante. Nem mesmo a mais poderosa fada sarcedotisa como sua mãe, seria capaz de algo assim. "Demônios são incríveis" declarou em pensamento enquanto tentava encontrar o momento na sua vida em que decidiu o contrário. Não havia, pelo que Louis conseguia se recordar. Ele nunca antes tinha conhecido uma demônio e como realmente não costumava tirar conclusões adiantas sobre nada, nunca pensou apropriadamente sobre as criaturas vindas do inferno. Sabia que eram poderosos o suficiente para amaldiçoar vilas inteira e fazer ruir grandes plantações, mas isso era tudo. Poder. E grande poder não significava necessariamente algo ruim.

DEVIL TRIBUTE // larry stylinsonWhere stories live. Discover now