O que você é, James?

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P.O.V Saphira M. Lockwood

Não consigo olhar pra ele. Me forço a entrar no carro onde o motorista, visivelmente nervoso, me espera, James segue como lobo o caminho inteiro de volta ao Palácio.

Sentada ali, minhas mãos agarradas à saia do vestido sobre minhas coxas, me permito chorar o tanto que eu preciso. O motorista, de vez em quando, dá uma olhada pelo retrovisor para me checar, preocupado.

-Está tudo bem, senhora? Precisa de alguma coisa? -não existe outra resposta possível para essa pergunta, é um pouco óbvio, e não há nada que ele possa fazer ou me dar que ajude, mas eu agradeço a preocupação. 

-Não, não está. Obrigada, mas não há nada que possa fazer. -sussurrei secando algumas das lágrimas que caíam pelo meu rosto. Do lado de fora, acompanhando a velocidade do carro, o grande lobo corria sob o sol com nada a temer. Aqui dentro eu sinto uma pontinha do meu coração pendendo, trincada e frágil. Por que ele tem que ser tão idiota?

Respiro fundo tentando parar de chorar, ele disse que nunca me machucaria, que eu não precisaria ter medo. Eu sinto muito, Saphi, sinto a dor e, acho que pela primeira vez... não tenho nenhuma desculpa. Ele quebrou mais uma promessa. Pelo menos não vou precisar ouvir minha loba defende-lo, mas isso não me deixa feliz, só significa que ele conseguiu magoar até a sua fã número um. Meus olhos ardem agora que parei de chorar, com certeza estão inchados e vermelhos, como meu nariz, fungo baixinho olhando a marca avermelhada no meu braço.

O som do uivo de James me faz estremecer, é longo e alto o suficiente para se fazer ouvido. Quando olho pela janela de novo, vejo os muros do palácio, o portão se abrindo e o lobo parado, encarando fixamente enquanto o carro onde estou entra e o portão se fecha novamente. O motorista abre a porta do carro e permanece ali, parado, sem fazer contato visual dessa vez, pois está sendo observado mais de perto. Me sinto trêmula quando finalmente decido sair, faço isso encarando os olhos violeta do lobo. Ele não concorda, sabe, eu consigo ouvir, está triste. Eu também estou. Desvio o olhar e começo a andar para dentro do palácio, ouço o lobo de James choramingar e me seguir enquanto eu me afasto, sob a reverências dos leais guardas que ele arranjou para transformar o palácio em uma fortaleza, teoricamente impenetrável.

Só quero ficar em algum lugar longe dele. Fico irritada porque ele não sai do meu pé, não queria ter que enxotá-lo como um cachorro, porém não tenho motivos para ser delicada.

-Sai de perto de mim! -me viro para o lobo, impaciente e, honestamente, com medo de ficar perto dele, me deixa nervosa. -Eu não quero você me seguindo aqui também, estou em "casa", não estou?! Era o que você queria, é sempre o que você quer. Eu não te quero perto de mim, agora não, por favor, me deixe em paz!

Quase sinto pena quando ele se contrai, como se levasse um soco, fungando baixinho, como se fosse um filhotinho fofo e inocente.

Preciso me esforçar para lembrar que não é. Não quero me vingar tentando magoá-lo também, só estou sendo honesta quando digo que a última coisa que quero agora é a sua presença. Desde que nos conhecemos e o sentimento avassalador de pertencimento me atingiu, eu não tinha realmente sentido vontade de ficar longe. Até agora. Estou magoada, estou menstruada, não tenho estrutura emocional pra nada. 

Suspiro balançando a cabeça e dando as costas deixando-o ali. Dessa vez ele não me seguiu, mas eu ainda posso ouvi-lo choramingar. O som me toca, de verdade, mas eu preciso me afastar. O primeiro lugar que me ocorre é o jardim, o primeiro lugar que ele me mostrou quando disse que esse seria o meu lar, nosso lar. Eu sou uma boba, começo a chorar de novo e estou sorrindo ao mesmo tempo. Abraço meu próprio corpo, soluçando, sentando no parapeito de um canteiro de rosas do jardim, minha visão embaçada relembrando como eu e James nos beijamos aqui, estava chovendo, mas não importava pra nós naquele momento, eu me senti tão segura, tão... não sei.

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