Após um bom momento observando-a, puxei seu braço retomarmos o caminho para a Igreja. A cantoria foi se elevando à medida que nos aproximavamos. Havia um portão que dava passagem a uma pessoa por vez, na entrada do cemitério. Hermione o abriu, o mais silenciosamente possível, e nos três entraramos de lado. Nas laterais do caminho escorregadio que levava às portas da igreja, a neve estava alta e intocada. Atravessamos, deixando profundas valas ao contornar o prédio.

No adro da Igreja, fileiras e mais fileiras de túmulos nevados emergiam de um manto azul muito claro com ofuscantes malhas vermelhas, amarelas e verdes, que eram a luz dos vitrais incidindo sobre a neve.

Nós três nos separamos para procurar pelos túmulos, eu fui mais atrás para dar espaço à Harry, Hermione ficou próxima de mim. Olhávamos todos os túmulos, reconhecendo vez ou outra o nome de um Abbott e até mesmo da falecida irmã de Dumbledore, Ariana e sua mãe, Kendra.

Passei a ponta dos dedos em um túmulo; Mione que estava ao meu lado se espantou quando a neve deu visão ao símbolo que vimos no livro "Os Contos de Beedle, o Bardo".

- Olhe, Harry! - chamou ela.

Afastei mais um pouco maia de neve da parte mais baixa da lápide em que pude ver fragmentos muito desgastados do que algum dia foi o nome de alguém.

- Ig-Ignoto Perevel... - a menina lia com certa dificuldade - Harry?

Me reergui, olhando para o nosso lado e vendo Harry, um pouco mais afastado, com a cabeça abaixada em direção ao que já sabia o que era. Fui até ele e pude ver a lápide de mármore gravada com os nomes de seus pais, os quais eram mais visíveis que as outras pois pareciam brilhar no escuro.

James Potter, nascido 27 de março 1960, falecido 31 de outubro 1981

Lily Potter, nascida 30 de janeiro 1960, falecida 31 de outubro 1981

Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.

Hermione se agaixou à frente das lápides e produziu uma coroa de heléboros com a varinha, a qual ficou postada no túmulo dos pais.
Harry chorava, ele não fingia estar com o nariz empoeirado ou ter um cisco no olho como sempre fazia; ele deixou que as lágrimas caíssem contra seus lábios contraídos, os olhos fixos na neve espessa que ocultava o lugar em que jaziam os despojos dos seus pais, agora, certamente apenas ossos ou pó, sem saberem nem se importarem que seu filho sobrevivente se achasse tão perto, seu coração ainda palpitando, vivo por causa do seu sacrifício.

- Feliz Natal - murmurou Harry, a voz embargada e chorosa.

Hermione suspirou e eu olhei para Harry com o coração apertado, ver ele sofrendo era pior que ser cortada nua por mil espinhos de uma só vez, se pudesse evitar que ele passasse por isso eu faria sem pensar duas vezes, mas a questão é que não podia, nada do que fizesse iria trazer seus pais de volta ou lhe dar uma vida normal... guardá-lo em um um lugar onde eu pudesse o proteger de todo mal e de toda a malevolência humana me pareceu um pensamento possível agora, tamanho era meu desígnio em vê-lo bem e seguro.

- Feliz natal - respondemos em uníssono.

Escorei a cabeça no ombro de Harry e logo senti sua bochecha pesar sob a mesma; eu apertava sua mão fortemente e ele retribuia o ato na mesma intensidade. Hermione deitou a cabeça em meu outro ombro, apertando meu braço com as duas mãos.

- Tem alguém olhando pra gente - sussurou ela depois do que me pareceu dois minutos. Me assustei um pouco com a fala da menina, meus pensamentos haviam voado para muito longe. - Perto da Igreja - acrescentou.

𝗮𝘀 𝗮 𝗳𝗮𝗺𝗶𝗹𝘆 ! 𝗵𝗮𝗿𝗿𝘆 𝗽𝗼𝘁𝘁𝗲𝗿Место, где живут истории. Откройте их для себя