Taehyung estudou todos os detalhes da roupa, ganhando tempo. Então, indagou entre um cumprimento e um questionamento:

— Boa noite?

O visitante o olhou com uma expressão neutra. Ele também analisou a silhueta de Taehyung, seus olhos pousando sobre o pano de algodão envolto do joelho esquerdo, o lado ferido.  Taehyung tinha as calças largas casualmente enroladas até o meio das pernas, mas não parecia perceber a sua falta de compostura para receber um convidado.

— Boa noite, Taehyung.

Era a primeira vez que ouvia Jeongguk chamá-lo pelo nome.

Sendo um estudioso das linguagens, Taehyung não acreditava que palavras eram só palavras, assim como não acreditava que nomes eram só nomes. Quando uma pessoa lhe dizia algo, gostava de pensar que ela carregava muito além do que estava contando. Carregava também a sua própria história, escondida na entonação com que proferia as frases e orações.

Jeongguk dizia muito sobre a sua personalidade quando falava o nome. Mirava por parecer indiferente, mas no fim, na última sílaba, havia algo de madrigal em sua voz que trazia fineza ao nome de Taehyung saído de seus lábios.

— O que o trás aqui? — Taehyung perguntou.

Após limpar a garganta, o alfa respondeu:

— Gostaria de conversar sobre a carta.

Oh, certo. A carta que ele mal tinha lido.

— Sim? — Taehyung não fez menção de abrir espaço para Jeongguk entrar.

O alfa juntou as sobrancelhas, confuso em como iria proceder a partir dali. Não tinha traçado um plano lógico sobre o que faria, e Taehyung não estava parecendo muito convidativo.

Isso não impediu Jeongguk de convidar a si mesmo. Não era parte da etiqueta, todavia. Assim como não era um bom costume aparecer na casa alheia sem avisar antes.

— Eu poderia entrar?

Os Jeons eram chamados de rudes por muitos. Diziam que estava no sangue do clã: existiam rumores de que antes de se tornarem ricos, há muitas gerações atrás, eles haviam sido piratas saqueadores. Não havia nenhum registro que trouxesse certeza da origem deles, porém, ao menos que Taehyung conhecia. Imaginava que à época eles não deviam ter sido importantes o suficiente para que livros fossem escritos sobre os seus feitos.

Taehyung queria dizer não.

A casa de Taehyung era composta por três cômodos e um lavabo externo. Um quarto para si e outro para Sunhee, e o terceiro cômodo que funcionava como cozinha e sala.  Ele e sua tia não recebiam visitas, então não havia espaço para receber um estranho com conforto ali.

Ainda que organizada, era uma casa bem abarrotada de coisas, já que não tinha muito em tamanho. Completamente diferente da de Jeongguk: o exato oposto do minimalismo da segunda torre em que o alfa morava.

— Claro. Entre  — terminou dizendo, ao invés da negativa que queria oferecer. Abriu mais a porta e afastou-se para permitir a entrada de Jeongguk.

O alfa não era o mais alto que Taehyung já tinha visto, mas a sua presença preenchia a pequena casa de maneira que o espaço ficava quase sufocante.

Jeongguk tirou a capa e pendurou-a nos ganchos ao lado da porta. Secou as botas no tapete ao lado da entrada. Ajeitou a postura e encarou Taehyung, esperando que ele lhe desse as demais direções.

Taehyung deveria, não deveria? Era o dono da casa. Mas não sabia conduzir situações assim. Estava fora do seu elemento: como alguém que passara a vida inteira aprendendo a servir um lorde em outra casa saberia como agir na posição de anfitrião?

Servante (jjk + kth) (ABO) - ConcluídaWhere stories live. Discover now