Romance na Transilvânia, parte um

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Eu tinha quinze anos quando voltei da biblioteca municipal e passei em frente aquele casarão enorme do centro da cidade

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Eu tinha quinze anos quando voltei da biblioteca municipal e passei em frente aquele casarão enorme do centro da cidade. Meu nariz estava enfiado no livro novo que eu tinha acabado de escolher. Tentava descobrir os primeiros detalhes daquela história e o que me aguardava dali para frente.

Estava tão distraída que quase não ouvi quando uma voz pareceu me chamar.

"Ei, menina!"

Ergui a cabeça, olhando para os lados enquanto me perguntava se alguém finalmente havia notado que ou eu era maluca, ou bastante estúpida por andar por aí com um livro na cara e queria chamar minha atenção. Meu rosto esquentou quando notei a velhinha sentada em uma cadeira de balanço no alpendre da casa grande.

"Oi", respondi sem jeito quando a mulher estreitou os olhos para mim, seu rosto ficando ainda mais enrugado. "Hum... Posso ajudar?"

Ela se levantou da cadeira e veio marchando na minha direção. Sua postura encurvada não a tornava nem um pouco menos ameaçadora, só para deixar registrado. Eu conhecia aquela senhora. Toda a cidade conhecia. O seu nome era Fátima e muitos diziam que ela era lelé da cuca.

"Que livro é esse?", ela perguntou quando abriu o portão de grades brancas da casa e ficou perto de mim na calçada.

Eu olhei para o livro em minhas mãos, surpresa com a pergunta. Não era todo dia que alguém se interessava pelo que eu estava lendo.

"Por Lugares Incríveis", disse com um sorriso. "Eu..."

"Ah!" A velhinha exclamou, os olhos úmidos brilhando quando ela pegou o volume das minhas mãos e o analisou mais de perto. "É muito bom! Não é horrível que o garoto tenha morrido no final?"

Meu queixo caiu. Olhei para o livro como se ele fosse uma bomba.

Eu não podia acreditar que...

"Vejo que você ainda não chegou nessa parte", dona Fátima disse, então soltou uma risada surpreendentemente alta e ruidosa para um corpo tão pequeno. Ela me olhou como uma garota pega em uma travessura. "Queria dizer que sinto muito, mas na verdade já te poupei de muita dor e sofrimento."

Eu estava ao mesmo tempo brava e chocada. Havia poucas coisas na vida que eu odiava mais do que spoilers. Talvez isso estivesse em segundo ou terceiro lugar na minha lista, logo antes de deixar meu celular cair no rosto como uma pateta quando minhas mãos ficavam dormentes de tanto rolar o feed do Instagram.

"Eu tinha acabado de pegar na biblioteca", falei devagar, ainda digerindo a informação indesejada que ela havia me dado. "Não é como se eu estivesse triste, porque nem conheço os personagens, mas mesmo assim..."

"Posso te indicar algo mais alegre", dona Fátima disse, balançando o livro na minha direção com tanto vigor que pensei que me acertaria na cabeça com ele. "Ou você pode continuar lendo esse aqui. De todo modo, traz uma ou duas lições importantes sobre a vida."

Para Onde Vão os Corações ApaixonadosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora